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segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Governo pondera colocar nas mãos das Câmaras a decisão sobre extinção de freguesias

O assunto do momento são as declarações absolutamente insultuosas que Cavaco Silva fez a propósito da sua pensão, mas o que nos traz aqui é um tema bem diferente (a reforma da administração local), que promete aquecer os próximos tempos, sobretudo depois de se ter ficado a saber que o Governo está a ponderar colocar o ónus da decisão sobre a extinção/fusão de freguesias nas mãos dos municípios. Ou seja, o Executivo parece não querer ficar ligado a um processo tão melindroso e que causa sempre tantas enxaquecas ao PSD, um partido com forte implantação ao nível das autarquias.
O processo já não arrancou bem, isto porque aquilo que era para ser uma reforma que abrangeria concelhos e freguesias rapidamente se circunscreveu a estas últimas. Pedro Passos Coelho tratou de dizer que a extinção/fusão de municípios era matéria que ficava para o futuro, contradizendo-se a si e ao seu programa, onde afirmava peremptoriamente: “Queremos promover um acordo político alargado para a optimização do número de municípios e freguesias.
São percepcionáveis os receios do primeiro-ministro, mais ainda depois da forma como Miguel Relvas foi recebido num congresso da ANAFRE, onde teve de ouvir as vaias e críticas dos autarcas.
Mas a reforma (necessária há anos, diga-se, e que o Governo de José Sócrates nunca teve coragem para fazer) lá avançou com a apresentação do Documento Verde, onde se fixavam os critérios que haveriam de presidir à extinção/fusão de freguesia. Os critérios centravam-se, quase exclusivamente, no número de habitantes que cada freguesia deveria possuir para não ‘desaparecer’, sendo considerado como atenuante o facto de as freguesias, poderem estar em área rural ou urbana ou a uma distância considerável da sede de município.
No caso do concelho da Sertã, e como aqui dissemos há uns meses, as freguesias a extinguir/agregar seriam seis (Carvalhal, Ermida, Figueiredo, Marmeleiro, Palhais e Nesperal), o que obrigaria a uma reorganização do território sertaginense e ao redesenhar do nosso mapa municipal.
Perante esta matéria, a Assembleia Municipal da Sertã decidiu (e bem!) fazer eleger uma comissão que terá como funções discutir o Documento Verde e apresentar um conjunto de soluções alternativas ao cenário proposto.
Todavia, no último dia 12 de Janeiro, ficámos a saber, através do secretário de Estado da Administração Local, Paulo Júlio, em entrevista ao Jornal de Notícias, que a estratégia do Governo mudara: “Em coerência com o que sempre dissemos, vamos deixar que sejam os municípios a decidir dentro do seu território” que freguesias serão extintas ou agregadas. http://www.mynetpress.com/mailsystem/noticia.asp?ref4=4%23k&ID=%7B9F3B9864-4175-4FF0-BC60-049CD063529B%7D
A ideia do Executivo é agora “envolver todos os autarcas e serem eles os propositores da nova reorganização administrativa”, referiu Paulo Júlio. Mas o governante também deixou um aviso: os critérios orientadores e as metas de agregação e extinção de freguesias previstos no Documento Verde permanecem válidos na proposta de lei, sendo que os municípios e as freguesias que não reorganizarem o seu território pagarão o ónus da sua atitude. O mesmo é dizer, o Governo reserva-se no direito de, caso não sejam atingidas as metas propostas na reforma enunciada, poder tomar uma decisão administrativa de extinção/fusão de freguesias.
Aguardamos, agora, com expectativa a publicação do projecto de lei, prometido para este mês, e onde se ficarão a conhecer os critérios definitivos sobre esta reforma. Será interessante perceber se as palavras do secretário de Estado correspondem ou não à verdade.
Se assim for, estaremos expectantes com o debate que se irá iniciar na autarquia sertaginense tendo em vista a resolução deste dossiê. Se a extinção de algumas freguesias parece pacífica (casos de Figueiredo, Ermida ou Marmeleiro), o mesmo já não se aplica no caso do Carvalhal, como o antigo e actual presidente da junta a manifestarem publicamente o seu desagrado pela extinção da freguesia.
Fazemos votos, contudo, para que o debate a realizar seja sério e não marcado pelas habituais ‘tricas’ partidárias que tanto prejudicam a democracia sertaginense.
É que esta poderá ser uma oportunidade única para se repensar o território sertaginense, de forma aberta e transversal. A população deve ser ouvida. Para terminar apenas uma nota: curiosamente, ou não, se olharmos para o actual quadro de freguesias a extinguir no concelho da Sertã, temos que todos os partidos vão perder juntas, com claro prejuízo para o CDS-PP que lhe vê serem subtraídas as duas únicas que possuía (Ermida e Marmeleiro). O PSD perde três freguesias (Figueiredo, Nesperal e Palhais) e o PS uma (Carvalhal).

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O drama do desemprego no país e na Sertã

Enquanto o país vai assistindo incrédulo às declarações patéticas de José Sócrates, a propósito do défice (este político deve sofrer de amnésia), e à forma pouco competente como Pedro Passos Coelho tem explicado o alcance das medidas previstas no Orçamento de Estado, um outro problema vai emergindo paulatinamente e colocando em risco a estabilidade do país: o desemprego. E o concelho da Sertã não é excepção, como mais adiante veremos.
Quase todos os políticos e analistas se referem ao desemprego com uma comiseração de meter dó, sem contudo discutirem o fundamental nem tampouco avançar com medidas que possam inverter um cenário que tem tudo para piorar nos próximos anos e tornar-se num verdadeiro flagelo social e económico. Fernando Sobral, na sua coluna habitual no Jornal de Negócios, colocava, na semana passada, o dedo na ferida: “Um dos problemas centrais do mundo ocidental, o desemprego, está completamente fora das preocupações dos líderes da UE”.
Claro que para um país ‘intervencionado’ como o nosso, não é fácil dar a volta ao estado de coisas actual, ainda para mais quando o desenvolvimento português tem assentado, nos anos mais recentes, num modelo económico caduco e sem qualquer ligação à realidade. Mas baixar os braços não é solução, como não é solução o aumento de meia-hora diária no horário de trabalho dos privados – a única medida até agora conhecida do Governo para recuperar a economia. É pouco para quem se diz tão reformista. E nem vou falar das sugestões vergonhosas e idiotas feitas por Passos Coelho, e já anteriormente pelo seu secretário de Estado da Juventude, Alexandre Mestre, de que seria boa ideia alguns jovens portugueses emigrarem. É realmente desolador ver um chefe de Executivo convidar os cidadãos mais qualificados a abandonarem o seu país. Os estudiosos do brain drain terão aqui um case study muito interessante para analisar!
Mas concentremo-nos no concelho da Sertã e na forma como o desemprego tem vindo a crescer nesta zona do país. Segundo os últimos dados do IEFP, o número de desempregados no concelho, no passado mês de Novembro, era de 709 indivíduos, o valor mais alto, pelo menos, dos últimos sete anos. De notar que dos 709 desempregados, 213 estão nesta situação há mais de um ano.
Se olharmos em retrospectiva, podemos verificar que, em Novembro de 2004, o número de desempregados ascendia a 390, dos quais 261 eram do sexo feminino. Comparando estes resultados com o mesmo mês de 2011, podemos concluir que o número de indivíduos sem trabalho aumentou quase para o dobro, uma situação que, refira-se, é extensível a todo o país. Todavia, estes números podem pecar por defeito, até porque nem todos os desempregados denunciam a sua situação ao IEFP, escapando a esta malha estatística, o que poderá fazer subir ainda mais os valores actuais.
Falando do momento presente, tentemos perceber quem são estes 709 desempregados? A maioria são mulheres (465), sendo que o grupo etário mais afectado por este problema é o que se situa no intervalo entre os 35 e 54 anos (317 indivíduos). Ao nível da escolaridade, os desempregados com o secundário concluído são em maior número (229), seguindo-se os que contam com o 3.º ciclo do ensino básico (209). Referência para os 53 licenciados no desemprego.
Posto isto, o que poderemos fazer num concelho que sofre cada vez mais os efeitos da interioridade e onde as oportunidades de emprego escasseiam? Não entrando aqui no debate das oportunidades perdidas no passado (foram demais e muitas por inércia de quem passou pelo poder neste últimos 25 anos), penso que é chegada a altura de discutir o problema olhos nos olhos e sem medos, deixando de lado os caciques partidários e as ‘palas’ que tanto obstruem o raciocínio a muita boa gente deste concelho. O problema da expansão da zona industrial tem vindo a ser resolvido muito lentamente e nem vale a pena falar da pouca promoção ao concelho fora dos círculos regionais onde ele se encontra. Quantos empresários nacionais conhecerão a Sertã e as suas potencialidades? Aliás, quantos empresários nacionais saberão onde sequer fica a Sertã?
Não sou dos que defendem que a criação de emprego deva ser da responsabilidade das autarquias (esse tempo já vai longe), a sua função é outra: criar as condições necessárias para que mais empresários nos procurem para aqui fazerem os seus investimentos.
O tempo é de crise, pelo que estas oportunidades de investimento não existem, responderão alguns, contudo é nestes momentos que se arruma a casa e se aposta a sério. E muito do que há para ser feito não precisa que se gaste um euro; precisa apenas que exista vontade política para que as iniciativas avancem. E é preciso, desde logo, louvar iniciativas como os concursos de ideias ligados ao empreendedorismo, que a autarquia sertaginense tem promovido nos últimos anos.

Mas é preciso mais! E isso também dependerá de todos nós. Não basta criticar e apontar o dedo, torna-se fundamental encontrar soluções que invertam o actual cenário. Isto porque se nada for feito corremos o risco de ver a Sertã condenada a um morte certa e lenta.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Sertã tem poder de compra abaixo da média nacional

O poder de compra per capita no concelho da Sertã está 36 por cento abaixo da média nacional. Esta é uma das conclusões que é possível tirar da análise do estudo sobre o poder de compra que o Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou recentemente e que assenta em dados relativos ao ano de 2009.
A tendência identificada na Sertã é extensível, contudo, a todos os concelhos que integram a região do Pinhal Interior Sul: Oleiros (- 46%), Proença-a-Nova (- 43%), Vila de Rei (- 40%) e Mação (- 34%). Aliás, o Pinhal Interior Sul (onde a Sertã se inclui) é aquele que apresenta a percentagem de poder de compra mais baixa de Portugal Continental, com 0,229 por cento.
Estes são números muito preocupantes para a nossa região e sobretudo para o país que, usando um termo muito em voga neste momento, vive a duas velocidades, com um fosso cada vez maior entre Litoral e Interior. Mais do que um problema de crises, esta é uma questão estrutural.
Basta ver que no conjunto dos 308 municípios portugueses apenas 39 apresentam um poder de compra per capita acima da média nacional. E onde estão estes municípios? Nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e em algumas capitais de distrito.
Além disso, é ilustrativo este número divulgado pelo INE: “o indicador de Poder de Compra revela que 27 municípios concentram 50 por cento do poder de compra nacional”.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Um Orçamento de Estado para salvar um país ‘tecnicamente’ falido – e a Sertã no meio de tudo isto

O Governo prometeu e ele aí está, o Orçamento de Estado (OE) mais recessivo de que há memória, pelo menos nos últimos quarenta anos. A tragédia, que não a grega (esses estão bem encomendados!!!), é que todas as medidas agora anunciadas (corte de subsídios, congelamento de salários, agravamento no IVA, subida de vários impostos, aumento das horas de trabalho, limites às deduções fiscais ou taxas adicionais) poderão não chegar para salvar o país da falência, como têm admitido alguns analistas.
Claro que a justeza das medidas é discutível, como é discutível a ausência de reformas profundas para o curto-prazo. O Orçamento de Estado dedica poucas linhas às prometidas reformas, o que deixa transparecer, como alguém disse, que neste OE “o urgente se sobrepõe ao importante”.
A questão que muitos portugueses colocam é para que servirão estes sacrifícios se o Estado não se modernizar e se o país não fizer as reformas necessárias para aumentar a sua competitividade e atractividade em relação ao exterior? E já nem falo da ausência de medidas para fazer crescer a economia…
Perante tudo isto, e analisando agora o efeito que estas medidas poderão ter no concelho não será difícil prever que, à semelhança do resto do país, a Sertã viverá tempos difíceis. Olhando para a estrutura económica sertaginense, temos que o município possui cerca de seis mil trabalhadores (dados de 2009), dos quais 2.619 exercem a sua actividade por conta de outrem, auferindo um salário médio de 732,8 euros. A baixa escolaridade dos trabalhadores é um dado preocupante, sendo que a maioria não tem mais do que o terceiro ciclo do ensino básico (o equivalente ao 9.º ano) e apenas 143 possuem uma licenciatura. Ou seja, a mão-de-obra na Sertã é de pouco qualificada. De notar, que o sector terciário é o que absorve boa parte da população empregada (1.400 trabalhadores por conta de outrem – não estão aqui incluídos os trabalhadores por conta própria), não sendo despiciente o valor alcançado também pelo sector secundário.
Registe-se também que a Sertã verifica cerca de 6.083 pensionistas, que recebem um valor médio anual de 3.485 euros.
Recordo igualmente o que aqui escrevemos há cerca de dois anos, citando a Agenda 21 Local do município da Sertã: o concelho tem “poucas oportunidades de emprego”; existe muita “incerteza na manutenção e sobrevivência de micro, pequenas e médias empresas ligadas ao sector florestal”; a competitividade da actividade agrícola local é “pouca”, devido ao seu carácter minifundiário e ao “fraco associativismo por parte dos agricultores”; e a actividade industrial é “reduzida”. Sem esquecer o facto de o “extenso parque industrial atrair sobretudo actividades comerciais e de prestação de serviços”.
Perante este cenário não é difícil imaginar que só a perseverança e coragem dos empresários locais, aliada a uma vontade indómita por parte dos trabalhadores poderá evitar males maiores para o nosso tecido empresarial. No entanto, será de admitir um aumento significativo do número de desempregados no concelho, que actualmente está nos 621 indivíduos.
Mas não é só nos trabalhadores e pensionistas que as medidas de austeridade se farão sentir. Também as câmaras e freguesias viram as suas transferências estatais reduzidas. No caso da Câmara da Sertã, o Orçamento de Estado prevê uma transferência de 7.514.725 euros (contra 7.906.758 euros em 2011). Esta verba encontra-se assim distribuída no OE: Fundo de Equilíbrio Financeiro Corrente (4.254.220 euros), Fundo de Equilíbrio Financeiro Capital (2.836.147 euros), Fundo Social Municipal (215.068 euros) e IRS (209.290 euros).
Quanto às transferências para as freguesias do município sertaginense, as notícias não são melhores: o valor a transferir diminui de 579.962 euros para 551.207 euros. Este valor ficou assim distribuído pelas diferentes freguesias – Cabeçudo (27.114 euros), Carvalhal (23.159), Castelo (36.171), Cernache do Bonjardim (76.526), Cumeada (29.853), Ermida (29.402), Figueiredo (23.287), Marmeleiro (30.183), Nesperal (23.155), Palhais (26.952), Pedrógão Pequeno (40.887), Sertã (97.003), Troviscal (47.706) e Várzea dos Cavaleiros (39.809).
Sobre as verbas inscritas no Programa de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central (PIDDAC), ficamos sem saber se o concelho da Sertã irá receber alguma verba, isto porque o Governo decidiu, ao contrário do que vinha sucedendo até aqui, apenas colocar as afectações deste programa por regiões NUTS II.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Reforma da administração local: Sertã poderá perder 6 das suas 14 freguesias

O Governo apresentou as bases em que assentará a reforma da administração local – plasmadas no já famoso «Documento Verde» –, que deverá estar concluída até ao final de Junho de 2012. Quer isto dizer que até lá o Executivo, liderado por Pedro Passos Coelho, terá de elaborar o novo mapa autárquico do país, definindo que freguesias serão extintas e que concelhos poderão seguir o mesmo caminho.
De acordo com o Documento Verde, “a redução do número de freguesias (actualmente 4.259) assume-se como uma prioridade, devendo ser encarada como um verdadeiro instrumento de política autárquica, capaz de melhorar o funcionamento interno da Administração Local, dando escala e valor adicional às novas freguesias (resultado da aglomeração de outras freguesias) e reforçando a sua actuação e as suas competências”.
Sobre os concelhos, e depois de há uns meses o Governo ter dito que era sua intenção acabar com, ou fundir, alguns municípios, a ideia passa agora por colocar essa decisão nas mãos dos habitantes. Ou seja, como sublinhou o primeiro-ministro Passos Coelho, “o envolvimento das populações e dos seus representantes” será determinante para a redefinição do mapa autárquico, quer ao nível das freguesias, quer dos municípios”. E disse mais: “O Governo pretende estimular as fusões de municípios, que deverão desenvolver-se segundo uma dupla lógica identitária e de continuidade espacial”. A ideia de Passos Coelho parece-me um pouco ‘peregrina’, sobretudo porque não estou a ver a população de um determinado município a ‘abrir mão’ do seu concelho, seja por que tipo de razões ou motivações.
Voltando às freguesias, olhemos para os critérios, enunciados no Documento Verde, que deverão nortear a extinção das mesmas. Tomemos como exemplo as freguesias do concelho da Sertã.
Em virtude de o município sertaginense ter uma densidade populacional de apenas 37,4 habitantes/km², a Proposta de Matriz de Critérios Orientadores de Organização Territorial, elaborada pelo Governo, coloca-o no Nível 3 (municípios com menos de 100 habitantes/km²).
Para estes concelhos, o estipulado é que sejam extintas as freguesias que, situadas em Área Predominante Rural (nesta condição estão13 das 14 freguesias do nosso concelho – a excepção é a Sertã), possuam menos de 500 habitantes e não estejam a uma distância de mais de 15 quilómetros da sede de concelho.
Olhando para os resultados preliminares dos Censos de 2011 (que servirão de base em termos demográficos), é possível concluir que, a aplicar-se somente este critério, as freguesias do Carvalhal (463 habitantes), Ermida (219), Figueiredo (205), Marmeleiro (228), Nesperal (307) e Palhais (268) serão extintas. De notar, por exemplo, que a freguesia da Cumeada escapa por pouco à extinção, dado que possui 503 habitantes.
A medida de excepção contemplada pelo Governo relativa às freguesias que distem mais de 15 quilómetros da sede de concelho e possuam um mínimo de 150 habitantes, não se aplica a nenhuma das nossas freguesias, visto que a mais distante (Ermida) está a 12,5 quilómetros da sede.
Claro está que as evidências aqui demonstradas partem apenas de uma breve análise ao disposto no Documento Verde, não sendo, para já, letra de lei. O próprio primeiro-ministro disse que todos os casos de extinção deverão ser analisados de “forma minuciosa e equilibrada”, sendo que os critérios para a extinção de freguesias ainda não estão todos definidos.


Este é um processo que promete dar que falar e não me admiraria se voltássemos, em breve, ao assunto. Para a próxima, fica também a reflexão sobre o impacto que estas extinções poderão ter no actual mosaico territorial do concelho da Sertã e as alterações que estão igualmente agendadas ao nível dos executivos camarários. Desde já, deixo uma nota: a Câmara da Sertã, segundo os novos critérios, poderá passar a contar com apenas quatro vereadores em futuros mandatos.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O eterno problema da saúde no concelho da Sertã

A par do desemprego, a saúde é hoje um dos principais problemas com que se depara o concelho da Sertã. As notícias divulgadas recentemente pela Rádio Condestável relativamente à ausência de médicos na Extensão de Saúde de Cernache do Bonjardim, durante uma parte do mês de Agosto, por motivo de férias dos três médicos que ali prestam serviço, é um exemplo do estado a que a saúde chegou no nosso concelho. E se a isto somarmos as condições em que funciona o Centro de Saúde da Sertã, então o cenário fica mais negro.
Mas, para já, concentremo-nos no ‘episódio’ ocorrido na freguesia de Cernache, onde as férias dos três médicos que aí dão consultas coincidiram numa das semanas do mês de Agosto, fazendo com que a Extensão de Saúde local ficasse reduzida a serviços mínimos – nem consultas se podiam marcar! Não está aqui em causa as férias dos médicos, que as merecem como todos os outros profissionais, mas antes o facto deste período de descanso ter coincidido para os três médicos. Será que o escalonamento das férias não poderia ser sido feito de maneira a evitar esta simultaneidade? Recorde-se aqui o sucedido, no ano transacto, na mesma Extensão de Saúde, onde por motivo de férias de uma funcionária, em Agosto, alguns dos utentes tiveram de deslocar-se de véspera a esta extensão para conseguir obter uma simples consulta.

Confrontado pela Rádio Condestável com o cenário ocorrido este ano, o director do Centro de Saúde da Sertã, António Silva, disse tratar-se de uma situação “normalíssima”, que não sucede pela primeira vez, notando ainda que um médico não pode dar consultas a pacientes de outro médico. Tudo isto pode ser verdade, mas também seria legítimo que os utentes desta e de outras zonas do concelho tivessem à disposição outro tipo de serviços de saúde, até porque na hora de pagar impostos o Estado é pouco sensível a qualquer tipo de faltas.

António Silva tem, contudo, razão quando mais à frente, na entrevista à Rádio Condestável, lamenta a falta de médicos no concelho e a impossibilidade de substituir os profissionais que vão de férias. Este é um triste fado do nosso país, que tarda em encontrar uma solução à altura para o problema. O Ministério da Saúde parece andar um pouco desatento, ou então o corte na despesa obriga a uma contenção notória na formação/contratação de novos médicos. Talvez a solução possa passar pela vinda de médicos estrangeiros para o nosso concelho, como sugeriu recentemente o presidente da Câmara, José Farinha Nunes. O exemplo já foi seguido por outros municípios, nomeadamente aqueles que fazem fronteira com Espanha.
Mas não é só em Cernache que os utentes têm razão de queixa. Na Sertã, o Centro de Saúde continua a ‘rebentar pelas costuras’ e o edifício é cada vez mais exíguo e precário para todas as necessidades que se impõem. A acrescentar a este cenário, há ainda as intermináveis filas de espera para obter uma consulta (é vergonhoso que num país civilizado seja preciso ir para a porta do Centro de Saúde de madrugada para conseguir uma consulta), a falta de médicos e de recursos. E já nem falo no serviço de internamento do Centro de Saúde da Sertã, que continua encerrado! Ainda assim, aqui fica uma palavra de apreço para os médicos, enfermeiros e funcionários administrativos do Centro de Saúde que, apesar de todas as limitações, lá vão tentando ‘aguentar o barco’.

Por tudo isto, seria importante encetar um debate sério e abrangente sobre uma matéria tão sensível como a saúde. Se a criação de uma comissão para análise do caso da saúde no concelho da Sertã, o que sucedeu em Abril passado, foi um primeiro passo, seria positivo que essa mesma comissão encabeçasse esta luta. Olhando para o seu ‘caderno de encargos’ é esse o seu propósito e esperamos que assim seja.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Memórias: Capela de São Sebastião



As nossas Memórias são hoje dedicadas à Capela de São Sebastião. Não que o templo tenha desaparecido, mas sim porque a oportunidade se nos afigura como a ideal para trazer à estampa esta foto, da autoria de Olímpio Craveiro.
Sobre a história da Capela de São Sebastião pouco se conhece. Uma recolha rápida de informações permite-nos concluir que, no lugar onde hoje se encontra este templo, existiu uma ermida, onde se veneravam as imagens de Santa Iria e São Crispim. Foi também neste local, mais precisamente numas pequenas casas aqui existentes, que residiram os frades fundadores do Convento de Santo António, Frei Hierónimo de Jesus (natural de Viana do Castelo) e Frei Cristóvão de S. Joseph (natural da Sertã). Aliás, o primeiro destes chegou a ser sepultado nesta ermida, tendo sido mais tarde (1650) transladado para o Convento.
A capela terá sido construída no século XVIII, restando desses primeiros tempos apenas umas pinturas quase imperceptíveis no arco-mestre. Ao longo dos anos, as várias intervenções que sofreu descaracterizaram bastante o interior deste templo religioso, situado junto à zona da Carvalha.

Povoações: Serra do Pinheiro (freguesia da Sertã)

O nome original deve-o a um dos seus habitantes mais ilustres, apesar de hoje todos conhecerem a povoação por Serra do Pinheiro. Mas em tempos mais recuados, a designação deste lugar era outra, mais precisamente Serra de Pedro Nunes.
De Pedro Nunes pouco ou nada se sabe, além de que foi um proprietário bastante abastado e que viu o seu filho (João Nunes) casar em Cernache do Bonjardim, no dia 25 de Setembro de 1580, com Catarina Colaço.
Quando por aqui morou, a povoação chamava-se apenas Serra, sendo de crer que os seus limites abarcavam também o território vizinho, hoje conhecido por Serra de São Domingos. Foi já depois da morte de Pedro Nunes e em sua homenagem que o lugar passou a ser conhecido por Serra de Pedro Nunes.
Segundo as Inquirições mandadas fazer pelo rei D. Manuel I, em 1527, a Serra de Pedro Nunes possuía nessa altura apenas cinco fogos, um número que passou para o dobro (11) em 1730, altura em que se fizeram novas inquirições régias.
A povoação fazia parte da Capelania de São Domingos, juntamente com os lugares de Amioso, Cimo da Ribeira, Verdelhos, Picoto e Picotinho, Serra de São Domingos, Herdade, Passaria (antigamente conhecida por Aldeia de Maria Vicente) e Venestal. Refira-se que a criação desta capelania remonta aos finais do século XVIII, altura em que, devido à grande extensão da freguesia da Sertã, o Grão Priorado da Sertã decidiu criar esta e outras capelanias para melhor atender às necessidades litúrgicas e espirituais dos fiéis. Cada capelania tinha uma capela, onde era servido um capelão dizer missa aos domingos e dias santos. O primeiro capelão da Capelania de São Domingos foi João Nunes.
A agricultura e, mais tarde, a exploração florestal eram as principais fontes de subsistência dos habitantes da Serra de Pedro Nunes, que em 1911 ultrapassavam já a centena de indivíduos, espalhados por 23 fogos.
Não se sabe quando é que o nome actual (Serra do Pinheiro) começou a ser utilizado mas alguns documentos dos finais do século XVIII já veiculam esta nova designação.
Hoje, a Serra do Pinheiro continua a contar com um número bastante assinalável de habitantes, apesar de alguns se terem ausentado para o estrangeiro ou para a cidade de Lisboa.

Fontes: Casa do Infantado (Maço 120); Certã Ennobrecida (Manso de Lima); Antiguidades, Famílias e Varões de Sernache do Bonjardim (Cândido Teixeira); Cadastro da População do Reyno; A Sertã e o seu Concelho (António Lourenço Farinha)

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Sertã continua a perder população

Os dados preliminares dos Censos 2011 vieram confirmar o que já há muito se especulava. O concelho da Sertã voltou a perder população nos últimos dez anos, um cenário que se mantém ininterruptamente desde 1960, altura em que o número de habitantes chegou aos 27.997.
Olhando para os números agora revelados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), temos que a Sertã regista, em 2011, uma população residente de 15.927 indivíduos, um valor abaixo do verificado em 2001 (16.720 habitantes), ano que foi efectuado o último Censos. Quer isto dizer que nos últimos dez anos, a Sertã perdeu 4,74 por cento da sua população, um valor que, ainda assim, fica abaixo da queda verificada entre 1991 e 2001 (8,1 por cento).
No conjunto da Zona do Pinhal, apenas Vila de Rei não perdeu habitantes na última década (variação positiva de 2,83 por cento), enquanto Proença-a-Nova (-14,02 por cento) e Oleiros (-14,60 por cento) sofreram quedas bastante acentuadas entre a sua população residente. No distrito de Castelo Branco, além de Vila de Rei, apenas o município da capital de distrito não perdeu gente (aumento de 0,58 por cento), sendo que os restantes viram a sua demografia baixar consideravelmente, como sucedeu, por exemplo, com Idanha-a-Nova (-17,69 por cento).
Posto isto, e voltando à Sertã, urge analisar estes números de forma fria e objectiva. Claro que os discursos políticos dos últimos dias nos disseram que a situação é um reflexo do fosso, cada vez maior, existente entre o Interior e o Litoral, de várias decisões erradas dos nossos governantes (encerramento de escolas, centros de saúde e de outros serviços públicos), do desinvestimento numa larga faixa do nosso território e da dificuldade em fixar populações no Interior.
Tudo isto é verdade, mas tudo isto é também reflexo de alguma acomodação. Por exemplo, no caso da Sertã, é triste verificar que ao longo dos últimos 30 anos, poucas vezes o problema do despovoamento foi discutido de forma aberta e frontal, de modo a tentar identificar as causas e apontar as soluções. Porque se o problema é difícil de inverter, pelo menos o desígnio deveria ser o de manter a população que ainda hoje por aqui reside.
Uma iniciativa bastante salutar teve lugar em 2008, quando foi apresentado o estudo «Dinâmicas Populacionais e Projecções Demográficas da Sertã», que analisava o passado e o futuro da nossa população. Além de ficarmos a saber que a Sertã tinha perdido 42 por cento da sua população, nos últimos 50 anos, era-nos revelado que o concelho poderia perder, nos 25 anos seguintes, mais 11 por cento dos seus habitantes. Para já, perdemos 4,74 por cento, não sendo despiciente pensar que estamos no ‘bom caminho’ para perder ainda mais gente.
Com estes dados em cima da mesa, não podemos ficar de braços cruzados. O debate tem que ser sério e não marcado por agendas políticas, sempre dúbias e que poucas vezes obedecem aos interesses da nossa região.
Começa a ser tempo de os nossos representantes olharem de frente para o problema e não o arrumarem ‘debaixo do tapete’. E este debate já devia ter começado há 30 anos!

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Maranho e Bucho em destaque no Festival de Gastronomia

O «Festival de Gastronomia: Maranho e Bucho» tem início no próximo dia 8 de Julho e decorre até 10 do mesmo mês. O certame realiza-se na Alameda da Carvalha, na Sertã, e conta com várias iniciativas ao longo dos três dias.
Este festival pretende “contribuir de forma sólida e consistente para a divulgação de um importante recurso sócio-económico da região que é a nossa gastronomia tradicional”, sublinhou José Farinha Nunes, presidente da Câmara da Sertã, que acrescentou: “O Maranho e o Bucho são produtos que importa defender e divulgar, dando-lhes visibilidade e permitindo que a sua fama atravesse as fronteiras da nossa região”.

O evento tem início na sexta-feira, 8 de Julho, com um workshop, subordinado ao tema «Gastronomia Vector Estratégico para o Turismo», que contará com as presenças de Daniela Araújo, Doutorada em Ciências Sociais pela UTAD e antropóloga no Museu de Arte Popular em Lisboa, Jorge Santos, professor na Escola Tecnológica e Profissional da Sertã, Pedro Martins Araújo, Chefe Executivo do Grupo AXIS, e Joel Hasse Ferreira, professor do Instituto Superior de Ciências da Administração (Grupo Lusófona).

O programa do primeiro dia continua depois com as actuações dos Tambores de Casal da Madalena (17h30m), do grupo Vira Milho (21h) e dos Trilhos (22h30m).

Para sábado, está agendada uma “representação viva das tradições do concelho” (16h), com a confecção de Medronho em alambique tradicional e de pão em forno tradicional, além da recriação da Malha do Centeio. Pelas 18 horas, terá lugar um concerto do Grupo Instrumental do CCD da Câmara Municipal da Sertã, e três horas depois avança o encontro de folclore, com as presenças do Rancho Folclórico e Etnográfico de Cernache do Bonjardim, Rancho Folclórico de Penacova, Rancho Folclórico de Pedrogão Pequeno, Rancho Típico de Pombal, Rancho Folclórico do Clube Bonjardim e Rancho Folclórico da Varziela. A fechar a noite (23h), sobem ao palco os Popxula.

No domingo, o programa abre com o Torneio de Sueca Inter-Associações (9h) e com a arruada de Filarmónicas (Filarmónica União Sertaginense, Sociedade Filarmónica Aurora Pedroguense, Sociedade Filarmónica União Maçaense e Sociedade Filarmónica Oleirense) pelas 10 horas. Às 15 horas terá lugar um Encontro de Concertinas (Grupo Seca Adegas, Os Amigos da Concertina de Proença-a-Nova, Grupo de Concertinas da Casa do Benfica de Vila do Rei, Grupo de Concertinas da Conceição, Grupo de Música Popular de Cernache do Bonjardim e José Cláudio & Catarina Brilha).

Na noite de domingo actua a banda Cosmos (21h) e o artista Zézé Fernandes (22h30m).
Ainda durante o «Festival de Gastronomia: Maranho e Bucho» estará patente ao público uma exposição fotográfica, que dará a conhecer os diversos passos da «Confecção do Maranho».

terça-feira, 21 de junho de 2011

Sertã volta a receber final de etapa da Volta a Portugal

A Sertã vai ser novamente palco de uma chegada da Volta a Portugal em bicicleta. A primeira, e única vez, em que isso sucedeu foi em 1976, ou seja, há precisamente 35 anos. O concelho sertaginense receberá, no dia 14 de Agosto (domingo), a penúltima etapa da volta deste ano. A etapa terá partida da Covilhã, não se conhecendo ainda o percurso final, nem quais os locais por onde circularão os corredores.
A Volta a Portugal de 2011 terá 10 etapas, a que se somará o prólogo inicial a disputar, no dia 4 de Agosto, pelas ruas da cidade de Fafe. A etapa que termina na Sertã será antecedida pela ‘tirada rainha’ da prova, precisamente a que tem o seu epílogo na Torre (Serra da Estrela).
Mas recuemos no tempo até 19 de Agosto de 1976 (quinta-feira), o dia em que a Sertã se vestiu de gala para receber, pela primeira vez, uma chegada da Volta a Portugal em bicicleta. A mais longa etapa desse ano ligou Évora à Sertã, numa distância de 185 quilómetros. No final, e perante um enorme banho de gente, Marco Chagas (da equipa Costa do Sol) venceu a tirada, deixando atrás de si Firmino Bernardino (Benfica) e Manuel Silva (FC Porto). Os ‘históricos’ Venceslau Fernandes (Sangalhos) e Joaquim Andrade (Safina) ficaram nas posições seguintes.
O sucesso da chegada da Volta à Sertã foi assinalado pelos principais jornais da época. O jornal «A Bola» escreveu: “Foi impecável a organização da Sertã (…). Uma comissão, da qual faziam parte, entre outros entusiastas, Fiel Farinha, ex-presidente da FPC, Ângelo Farinha, Raul Rodrigues, Amâncio Carvalho e José Maria, conseguiu organizar uma chegada de excelente nível”.
Por sua vez, no jornal «Record» podia ler-se: “Não queremos deixar de fazer uma especial referência à forma como a volta foi recebida na vila da Sertã (…). Ruas completamente lotadas [a linha de meta estava instalada na avenida Gonçalo Rodrigues Caldeira]. Arcos coloridos e alegóricos no enfeite das mesmas. Foguetes a estrelejarem no ar. Uma recepção impecável, em todos os aspectos de organização, quer aos ciclistas quer a toda a caravana”.
No dia seguinte (20 de Agosto de 1976) a Sertã assistiu à partida da etapa que haveria de ter o seu término na Mealhada. O vencedor foi Manuel Caetanita, do Almodôvar. Quanto ao ciclista que triunfou na Volta de 1976, o seu nome foi Firmino Bernardino (Benfica).

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O Interior esquecido – reflexões a propósito do discurso de Cavaco Silva

O presidente da República fez, no passado dia 10 de Junho, um discurso que peca por tardio. A mensagem é válida, actual e pertinente mas não deixa de causar alguma sensaboria que, só em Junho de 2011, e depois de todos os avisos/apelos feitos ao longo dos anos para as assimetrias criadas entre o Litoral e o Interior, para o despovoamento, para a falta de oportunidades de quem optava por resistir à tentação de partir, a preocupação com o Interior tenha-se tornado efectiva. Mas isso não é culpa apenas de Cavaco Silva – o primeiro que falou deste problema sem ser em campanha eleitoral – apesar de o presidente da República também ter a sua culpa no cartório pelo estado a que chegou o Interior do nosso país. Contudo, honra lhe seja feita por ter levantado a questão, ainda para mais num período tão decisivo para Portugal.
Para já, peguemos nas palavras de Cavaco Silva e tentemos perceber o que nos quis dizer o presidente da República. O seu discurso começou de modo lapidar: “Ao escolher Castelo Branco para palco destas celebrações do dia 10 de Junho, pretendo trazer o Interior do país para o centro da agenda nacional, alertando para a questão das desigualdades territoriais do desenvolvimento e para os problemas da interioridade, do envelhecimento e do despovoamento de uma vasta parcela do nosso território”.Com esta frase, Cavaco Silva caracterizou, de forma quase perfeita, aquilo que é actualmente o Interior português, onde o concelho da Sertã se inclui.
Apesar de admitir que este cenário é resultado de “uma tendência estrutural, que não nasceu, sequer, nas últimas décadas”, o presidente lembra – e bem – “o menosprezo dos poderes públicos pela realidade do Interior”, que “obrigaram gerações inteiras a deixar as suas terras, umas vezes rumo ao estrangeiro, outras concentrando-se nas grandes cidades do Litoral, que cresceram de forma desmesurada e, mais ainda, desordenada”.
E a questão do despovoamento surge aqui como central no discurso de Cavaco, que a ela relaciona problemas como o envelhecimento e os fluxos migratórios, “mas também problemas sociais e económicos, como a fragilização dos laços familiares, o desemprego e a delapidação da riqueza criada com muito trabalho e com muitos sacrifícios”. Basta olhar para as vilas e aldeias despovoadas, com as casas a cair e os terrenos, que tanto produziram no passado, votados ao abandono.
O ‘dedo na ferida’ veio logo a seguir: “Portugal foi-se tornando um país desequilibrado, um território a duas velocidades do ponto de vista da distribuição da sua população, mas também no que toca à valorização dos seus activos e ao aproveitamento integral dos seus recursos”.
“O Interior, que contém grandes potencialidades, nomeadamente na agricultura e no turismo, deixou de as aproveitar por uma razão muito simples: perdeu capital humano para o fazer”. E aqui Cavaco falou de duas das mais penosas realidades do Interior, a agricultura e o turismo. Se no primeiro caso, o presidente da República foi um dos grandes responsáveis, enquanto primeiro-ministro, pela forma como a nossa agricultura foi desbaratada e entregue aos senhores de Bruxelas, já no caso do turismo os grandes responsáveis foram os sucessivos governos que tiveram vistas curtas para esta realidade e as autarquias que não souberam definir estratégias coerentes e corajosas que pudessem fazer dos seus concelhos destinos turísticos atractivos. A falta de coordenação entre as câmaras municipais, neste ponto, é também ela desejável.
No que toca à questão do despovoamento, não posso deixar de concordar com Cavaco Silva que chama a atenção para os efeitos nefastos desse mesmo despovoamento e, sobretudo, para aquilo que foi o menosprezo a que o poder em Lisboa condenou as gentes destas regiões. Prometeram-se mundos e fundos e pouco chegou. Não basta dizer que veio muito dinheiro de Bruxelas para as estradas e infra-estruturas da região, até porque, como bem sabemos, o desenvolvimento sustentado não se compadece apenas com estas obras de circunstância que falham quase sempre no essencial.
Mas não podemos culpar apenas o poder central pelo despovoamento, até porque as autarquias locais (apesar de terem assumido um papel fundamental na manutenção da vitalidade que algumas regiões do Interior do país ainda demonstram) têm também culpas no cartório, sobretudo porque foram incapazes de implementar políticas (e não medidas avulsas) que ajudassem na fixação das populações e na atractividade de empresas. É preciso lembrar que o problema não começou com a crise e a incapacidade para dar a volta à situação é visível em algumas autarquias, que infelizmente se partidarizaram em demasia, esquecendo a sua verdadeira função: servir os cidadãos.
Mas isso são contas de outros rosários, porque como bem disse António Barreto, no dia 10 de Junho, “os políticos devem respeitar os empresários e os trabalhadores, o que muitos parecem ter esquecido há algum tempo. Os políticos devem exprimir-se com verdade, princípio moral fundador da liberdade, o que infelizmente tem sido pouco habitual. Os políticos devem dar provas de honestidade e de cordialidade, condições para uma sociedade decente”.
Perante isto, espero que as mentalidades dos nossos decisores políticos possam mudar, para que não voltemos a lamentar-nos disto daqui a 30 anos. Além da agricultura e do turismo, o Interior tem enormes potencialidades em áreas como a floresta e as energias renováveis, que urge aproveitar. Mas não só: “A principal potencialidade do Interior está, no entanto, no espírito que caracteriza as suas populações, as gentes desta terra”.
Antes de terminar apenas uma nota para uma passagem do discurso de Cavaco Silva, em que este lança o apelo para que se preservem tradições e mantenham os vestígios da memória, salvaguardando o património material e imaterial que nos foi legado. Que bom que era que na Sertã, por exemplo, este apelo fosse seguido, para que não nos voltássemos a lamentar de que mais um pedaço de história sertaginense se perdeu… como já tantas vezes sucedeu.

Foto: Presidência da República

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Reflexões sobre a revisão do mapa autárquico: a Troika, o país e a Sertã

Primeiro foi José Sócrates (o ‘nosso’ ilusionista preferido) a anunciar o que não estava e depois Teixeira dos Santos a dizer o que estava. As medidas previstas no memorando de entendimento, assinado entre o Governo demissionário e a Troika, não são simpáticas para Portugal e podem mesmo ser vistas como um atestado de incompetência, e de cobardia, aos políticos nacionais por aquilo que já deviam ter feito e não fizeram.

Considerações à parte e como as principais medidas já foram bastante escalpelizadas ao longo dos últimos dias, sobretudo aquelas que mais directamente afectarão os portugueses, vamos deter-nos no capítulo que diz respeito aos municípios e freguesias.

Já aqui dissemos, por mais de uma vez, que o país teria de fazer uma revisão do seu mapa autárquico idêntica à que, em 1834, levou à extinção de mais de 400 concelhos, entre eles o de Pedrógão Pequeno.

No início da primeira legislatura de José Sócrates, o assunto foi alvo de discussão, mas o processo nunca avançou, isto porque o Governo temia os efeitos, e as prováveis ondas de choque, que essa revisão teria junto das populações. Há alguns meses, esta matéria voltou a entrar na agenda política do primeiro-ministro, não tanto por sua vontade mas devido às iniciativas das câmaras de Lisboa e Porto que apresentaram planos ambiciosos de redução do seu número de freguesias.

Não existem dúvidas de que esta revisão é fundamental para um melhor funcionamento da administração local, sobretudo num país em que o dinheiro não abunda e em que obras faraónicas têm esvaziado os cofres do Estado. Claro que nem todos pensam assim, quiçá temendo o fim de algumas mordomias ou de verem reduzidas a pó magistraturas de poder que são exercidas, infelizmente, em nome de interesses partidários em muitas das câmaras do país.

Todavia, é preciso notar que este tipo de processos de revisão exigem critérios muito bem definidos (o critério da população parece-me um pouco restritivo e mesmo falacioso) e o envolvimento de todos os agentes que são actores neste processo, desde as populações até aos seus representantes políticos e passando também pelas forças vivas de cada um dos concelhos. É fundamental que os critérios não sejam cegos e que o processo não seja apenas político, uma vez que, neste caso, arriscamo-nos aos lóbis do costume e às negociatas de ocasião.

O memorando de entendimento, assinado entre a Troika e o Governo, obriga o próximo Executivo a desenvolver, até Julho de 2012, um plano para “reorganizar e reduzir significativamente” o número de municípios e freguesias. Estas alterações terão de estar concluídas até às próximas eleições autárquicas, em 2013.

Olhando para a actual estrutura do país, temos 308 municípios e 4.259 freguesias. É sobre esta realidade que o processo de revisão irá assentar.

No caso particular da Sertã, não será difícil de imaginar que uma parte das 14 freguesias do concelho desaparecerá. Informações vindas a público, por ocasião da revisão que o primeiro Governo de Sócrates quis operar no mapa autárquico, indicavam que o município sertaginense ficaria reduzido a nove freguesias ou talvez menos.

A provável extinção de alguns dos concelhos vizinhos da Sertã também foi aventada, nomeadamente Vila de Rei e Oleiros, com as suas freguesias a serem distribuídas pelos municípios circundantes ou a serem alvo de extinção.

A formulação deste tipo de cenários exige, todavia, algum cuidado, até porque, segundo o memorando, este processo de revisão partirá da estaca zero, sendo de admitir todas as hipóteses.

Posto isto, importa aqui referir que, depois de 2013, Portugal apresentará um novo figurino na sua administração local, com as câmaras a terem menos dinheiro para gastar e a terem de efectuar gestões mais rigorosas e com menos trabalhadores nos seus quadros. Ou seja, a filosofia de gestão terá de mudar e o dinheiro terá de ser mais bem gasto.

terça-feira, 26 de abril de 2011

A Sertã em 1777

Façamos uma viagem no tempo até à Sertã do ano de 1777, altura em que a rainha D. Maria I subiu ao trono e os portugueses assinavam o Tratado de Santo Ildefonso com Espanha, resolvendo assim a disputa pela posse da colónia sul-americana de Sacramento (localizada no actual Uruguai).
Por esta altura, o actual território do concelho da Sertã estava divido em dois municípios: Sertã e Pedrógão Pequeno (este último viria a ser suprimido em 1834).

A agricultura era a principal actividade da população, destacando-se a cultura do azeite que foi, durante séculos, o principal meio de subsistência dos habitantes. Segundo vários documentos da Casa do Infantado e do Almoxarifado da Sertã, existiam mais de dez lagares nos limites dos dois concelhos (só na freguesia da Sertã eram quatro).

O concelho da Sertã era composto por 10 freguesias (Sertã, Várzea dos Cavaleiros, Cernache do Bonjardim, Troviscal, Nesperal, Palhais, Ermida, Marmeleiro, Castelo e Cabeçudo) e o de Pedrógão Pequeno por duas freguesias (Pedrógão Pequeno e Carvalhal). As freguesias da Cumeada e do Figueiredo ainda não haviam sido criadas.

A população total dos dois municípios ultrapassava os 11 mil habitantes, espalhados por mais de 200 lugares.

A vida por estas paragens não era fácil, como o atesta um manuscrito depositado na Torre do Tombo e que terá sido redigido por um habitante da vila nos finais do século XVIII: “(…) Onde não tinhão os olhos liberdade para se divertirem, pois os campos não tinhão efeites, flores o ornato das plantas, frutos hortas e a delia das fontes”.

A Sertã era uma das quatro alcaidarias-mores do Priorado do Crato, juntamente com o Crato, Belver e Amieira, tendo por isso o direito a ter alcaide-mor e alcaide-menor. Em 1777, o alcaide-mor da Sertã (que tinha atribuições de carácter administrativo, jurídico e militar) era Vasco Manuel Cabral da Câmara.

Na Câmara da Sertã, o executivo municipal era constituído por António Velez da Costa Moniz, Bonifácio António Leitão da Mota e Andrade e João Monteiro Cotrim. Em Pedrógão Pequeno, a presidência da Câmara estava entregue a Bento da Silva Ribeiro.

A vida eclesiástica tinha grande expressão em todo o limite do território sertaginense, existindo dois conventos – o Convento de Santo António, na Sertã, e o Convento de São José, em Cernache do Bonjardim.

Francisco Xavier Moniz foi eleito, em 1777, provedor da Santa Casa da Misericórdia da Sertã, lugar que já havia ocupado nos quatro anos anteriores, e João Anselmo Ferreira Granado mantinha-se como almoxarife da vila da Sertã. O juiz de Fora era Manuel José da Silva Ferreira.

Quanto a igrejas e ermidas, onde havia serviço religioso, tínhamos por esta altura notícia de 15: Igreja do Santíssimo Sacramento do Cabeçudo (cura – António Alves Nunes); Ermida de São Domingos na Serra de São Domingos (capelão – Francisco Ferreira); Igreja de São Simão do Nesperal (cura – João Alves da Silva); Igreja de Nossa Senhora de Palhais (cura – Crisóstomo Luís Aires); Ermida de São Pedro no Trizio (capelão – Manuel Caetano de Andrade); Igreja de São Vicente do Troviscal (cura – João Monteiro Cotrim); Igreja do Espírito Santo do Castelo (cura – António Pestana); Igreja de São Pedro da Várzea dos Cavaleiros (cura – Manuel Mendes Bicho); Ermida de Nossa Senhora da Esperança na Ermida (capelão – António Dias); Igreja de São Sebastião de Cernache do Bonjardim (vigário – João Martins Correia); Ermida de Nossa Senhora da Estrela, no Monte Minhoto, freguesia de Cernache (capelão – Manuel Jorge dos Santos); Igreja de Nossa Senhora do Olival, hoje conhecida por Nossa Senhora dos Remédios (capelão – Manuel Alves da Costa); Igreja de São João Baptista de Pedrógão Pequeno (vigário – Manuel Leitão); Igreja Matriz da Sertã (vigário – João Anselmo Ferreira Granado); Ermida de São Rafael, no Bravo, freguesia de Pedrógão Pequeno (capelão – Miguel João) e Igreja de Santo António do Marmeleiro (cura – Francisco Martins). Existiam também mais alguns templos religiosos espalhados pelos dois concelhos, mas onde não havia qualquer serviço religioso.

Fontes: Casa do Infantado (Maços 112 e 764); Convento de Santo António da Sertã; Antiguidades, Famílias e Varões Ilustres de Sernache do Bonjardim, Vol. II; Relação dos Provedores e Auxiliares da Santa Casa da Misericórdia da Sertã; Certan Ennobrecida; Cadastro Populacional Reino de Portugal; História de Portugal;

Imagem: Brasão antigo do concelho da Sertã