terça-feira, 30 de novembro de 2010

E as zonas industriais que não saem do impasse

O jornal «A Comarca da Sertã» deu conta, na sua edição do passado dia 26 de Novembro, que “as zonas industriais do concelho (Sertã e Cernache do Bonjardim) registam longo impasse”, aguardando “há anos a reclamada ampliação”.
O problema – como todos sabem – vem-se arrastando no tempo, e segundo as palavras do actual presidente da Câmara, José Farinha Nunes, um dos culpados para este estado de coisas é a burocracia. “É necessário um ‘plano de pormenor’ para as zonas industriais para se desbloquear a situação”, disse o autarca, citado por aquele semanário, acrescentando que “a legislação emperra o andamento dos processos”.

Não tenho dúvidas de que o desenvolvimento económico de um concelho como o da Sertã terá de passar por dar melhores condições aos empresários que aqui querem investir e não tanto por colocar entraves burocráticos que só causam entropia e que levam ao desespero os interessados. Consequência? Os empresários vão apostar noutro lado e dessas histórias já todos nós ouvimos falar.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

As ruas da Sertã: Rua Eduardo Barata da Silva Corrêa

Onde fica? Está situada na zona da Praceta da Pinhal, não muito longe da Mata Velha

Quem foi? “No dia 30 de Março de 1957, ao cair da noite, pelas 19 horas, exalava o último suspiro na sua casa da Sertã, o Sr. Eduardo Barata da Silva Corrêa, director deste jornal desde a sua fundação, em Maio de 1936”. Foi desta maneira que o jornal «A Comarca da Sertã» noticiou a morte do seu director e fundador Eduardo Corrêa, um dos homens que mais fez pelo jornalismo da região e que deixou um legado impressionante nas diversas áreas em que actuou.
Quem com ele conviveu fala de um homem “corajoso”, “sincero”, “persistente”, “lutador”, “teimoso” e “destemido”. Eduardo Corrêa foi isso e muito mais, mas para a posteridade ficou como o ‘pai’ d’A Comarca da Sertã, o semanário que no próximo ano comemora os 75 anos de existência.
A sua vida foi preenchida e cheia de histórias. Nasceu no dia 24 de Fevereiro de 1902, sendo filho de Eduardo Barata Correia e Silva e de Efigénia Neves Correia e Silva.
A sua infância foi passada na vila da Sertã. Depois de frequentar a escola primária (onde teve como professores Tomás Namorado e Joaquim Pires de Moura), viajou até Lisboa para seguir o liceu, que haveria de concluir em Cernache do Bonjardim, mais precisamente no Instituto de Missões Coloniais.
A paixão pelo jornalismo começou a desenvolver-se durante a sua estada neste instituto. Nas férias, resolveu publicar um pequeno jornal, «A Hora», “cujos exemplares eram obtidos por meio de copiógrafo e distribuídos pelos assinantes, constituídos pelas pessoas de família e amigos”, escrevia o jornal «A Comarca da Sertã», na sua edição de 15 de Abril de 1957.
Regressado à Sertã, começou a trabalhar no escritório de seu pai, dividindo o tempo entre os seus afazeres profissionais e a publicação de um novo jornal, «A Folha», que além da actualidade noticiosa do concelho, dedicava as suas páginas a fomentar a cultura entre os sertaginenses.
Aos 20 anos decidiu tentar a sua sorte em Moçambique e por lá permaneceu durante 12 anos.
Já na Sertã, juntou-se a Ângelo Henriques Vidigal, António Barata e Silva, José Barata Corrêa e Silva e José Carlos Erhardt e fundou, em 1936, o jornal «A Comarca da Sertã», que dirigiu até 1957, altura do seu falecimento. “Foi no desempenho destas funções que melhor deu a medida das suas qualidades de inteligência e de carácter, mostrando também ser um trabalhador incansável que dava ao seu jornal horas e horas de exaustiva aplicação”, assinala a mesma edição deste semanário.
Nas mais de duas décadas em que foi director desta publicação pugnou pela defesa dos interesses da Sertã e integrou diversas comissões que lutavam pela construção de diversas infra-estruturas no concelho. Só para referir algumas, destacamos o seu papel em todo o processo de instalação do Centro Liceal Técnico, na construção de uma linha de caminho de ferro que passasse pela Sertã e na definição de um novo plano urbanístico para a vila da Sertã (processo polémico que se arrastou durante quase toda a década de 1940).
Mas não foi só no jornalismo que a sua presença se fez notar. Esteve igualmente ligado a diferentes direcções do Clube da Sertã, do Sertanense Futebol Clube e dos Bombeiros Voluntários da Sertã (o seu corpo foi conduzido à última morada no pronto-socorro dos Bombeiros Voluntários da Sertã).
Os seus dotes para a docência eram-lhe também reconhecidos, tendo sido professor particular de “muita competência”.

Foi casado com Maria Vitorina de Oliveira Barata, com quem teve seis filhos.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Algumas reflexões sobre a suspensão de actividades do Atelier Túlio Vitorino

A recente suspensão de actividades no Atelier Túlio Vitorino, em Cernache do Bonjardim, deveria merecer uma discussão bastante séria sobre aquilo que é hoje a oferta cultural do concelho e, sobretudo, os públicos a que se dirige.
Aquando da recuperação e abertura deste espaço, várias foram as sugestões para o seu aproveitamento. Ao longo dos anos, o atelier nunca conseguiu assumir ou construir uma identidade própria, apesar dos esforços dos seus responsáveis e colaboradores. Esta situação decorre, em grande medida, da dificuldade de implantar um espaço deste género num local em que não existem hábitos culturais, devido ao desinvestimento continuado nesta área ao longo das últimas décadas – por muito que isso custe, longe vão os tempos em que Cernache era o centro dinamizador de muita da oferta cultural do concelho. E diga-se que a Sertã também não fica bem na fotografia.
Claro está que uma população sem hábitos deste género não se mostra sensível, num primeiro momento, a estas manifestações. Não queremos aqui menorizar ninguém, até porque nisto de cultura tanto vale um espectáculo de música clássica como uma iniciativa em que os mais velhos contam histórias do ‘seu tempo’ aos mais novos (um dos eventos mais conseguidos pelo atelier). Mas é inquestionável afirmar que se torna difícil programar espaços como o Atelier Túlio Vitorino, quando a população não adere às actividades realizadas.
E a culpa é de quem? Talvez de todos nós, que deixámos que um concelho como o nosso morra aos poucos, reduzido a uma oferta cultural que vive da boa vontade dos nossos responsáveis autárquicos e não tanto de agremiações culturais, que se demitiram dessa função há já longos anos (surgem agora algumas tentativas meritórias dos centenários Club de Sertã e de Cernache para mudar o estado de coisas).
Claro que em alturas de crise, este tema nunca será uma prioridade (há outras bem mais prementes), mas é preciso lembrar que a cultura é uma das melhores formas de educar um povo e de qualificá-lo. Num concelho com tão baixa qualificação, a cultura poderia desempenhar, a este nível, um papel fundamental.
Perante tudo isto, o que podemos fazer? Talvez deixar de estar de braços cruzados à espera que outros façam aquilo que também nós poderemos fazer. É óbvio que a Câmara, como dínamo cultural do concelho, tem um importante papel a desempenhar mas é preciso mais dos cidadãos e das elites do concelho, estas que desapareceram por completo e que nos inícios do século XX garantiram um fomento cultural, sem precedentes, no concelho. Eram os tempos em que o concelho da Sertã tinha quatro bandas filarmónicas, duas companhias de teatro, um grupo coral… tudo isto, numa altura em que o dinheiro não abundava.
Uma última palavra para o Atelier Túlio Vitorino, sobre o qual recai um pouco do ónus deste texto. Esperamos que o chamado ‘Plano B’ da Câmara possa devolver a este espaço muito do que ele não teve nestes últimos meses, ou seja, o reconhecimento da população. Mas atenção, esta é apenas a ponta do icebergue daquilo que se está a passar um pouco por todo o concelho da Sertã.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Memórias: Ponte Romana


A colecção de postais ilustrados editados por António da Silva Lourenço, durante o século passado, fez vibrar muita gente e ajudou a perpetuar vários sítios tão especiais da vila da Sertã.
Daí que tenhamos decidido recuperar um dos postais lançados nessa colecção, mais precisamente o da Ponte Romana, construída durante o reinado de D. Filipe II e um dos cartões de visita do concelho.
Já quase tudo se disse sobre esta ponte, que é também conhecida por Ponte da Carvalha, Ponte Velha ou Ponte da Várzea. Tem 64 metros de comprimento e seis arcos de alvenaria e custou cerca de 45.800 réis.

Povoações: Santinha (Figueiredo)

Estamos na encosta da serra de Alvéolos e é lá que vamos encontrar a povoação da Santinha. Pertencente à freguesia do Figueiredo, este pequeno lugar guarda para si histórias e sobretudo memórias de um tempo em que o pinhal (e a resina) era o principal sustento das gentes que por aqui habitavam.
Perde-se nas brumas as origens da Santinha, também conhecida por Dona Maria da Santinha. Os primeiros registos documentais que encontramos transportam-nos para as inquirições régias mandadas fazer durante o século XV – o número de habitantes não chegava a meia dezena nessa altura.
Todavia, se atendermos à recente descoberta das Insculturas da Fechadura (laje de xisto situada entre as localidades do Figueiredo e da Santinha), talvez possamos aventar que estas terras foram povoadas desde tempos mais recuados. Só é pena que este verdadeiro monumento pré-histórico não se encontre sinalizado e seja quase impossível de visitar.

Voltando à literatura histórica, o povoamento da Santinha começou a verificar algum crescimento a partir do século XVIII, havendo notícia da existência de sete fogos em 1730 e de 10 em 1891.
O dealbar do século XX e o consequente florestamento de boa parte da nossa região (iniciada com o pinheiro em 1901) trouxe mais gente a estas povoações, atraídas pelos rendimentos da floresta e sobretudo pela colheita da resina. Por exemplo, na década de 1970, as famílias mais abastadas da Santinha chegaram a possuir cerca de 10.000 bicas, um valor muito superior àquilo que era a média na freguesia do Figueiredo (entre 3.000 e 5.000 bicas).
O número de habitantes desta aldeia atingiu o seu pico em meados da década de 1950, quando os censos registavam mais de seis dezenas de habitantes. Hoje, este número desceu significativamente para cerca de 20 habitantes, que ainda resistem numa das muitas aldeias isoladas do nosso concelho.
Um dado interessante sobre a Santinha é o facto de, ao longo da sua história, ter pertencido a três freguesias diferentes. Senão vejamos: até 1554, a aldeia pertenceu à freguesia da Sertã. Com a criação da freguesia do Troviscal nesse mesmo ano, a Santinha ficou integrada nos seus limites, o que viria a suceder até 1828, altura em que passou a ser abrangida pela freguesia do Figueiredo, criada nove anos antes.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Novo centro de saúde para breve?

A notícia foi hoje divulgada pela Rádio Condestável, no seu website, e revela que “a Unidade Local de Saúde (ULS) de Castelo Branco mostrou-se sensibilizada para a construção de um novo Centro de Saúde na Sertã e como tal, enviou à Câmara Municipal o programa funcional para o futuro centro”.
Segundo o que foi avançado por este órgão de comunicação social, “a sugestão da ULS abrange nove unidades funcionais”, designadamente uma unidade de cuidados de saúde personalizados, uma unidade de cuidados na comunidade e ainda uma unidade de saúde pública.

Este programa funcional servirá de base ao futuro projecto do centro de saúde, faltando saber qual o investimento a realizar e onde será construído.
Só fazemos votos para que os erros cometidos na construção do actual centro de saúde não se repitam, porque a sensação que temos hoje é que se andou a brincar com o dinheiro dos contribuintes e não se estudou a sério nem a localização do centro, nem tampouco as necessidades das populações do nosso concelho – como foi possível abrir as portas de uma estrutura que ao fim de alguns meses já não respondia às necessidades da população?

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Memórias: Uma aldeia submersa


As Memórias de hoje conduzem-nos até à freguesia do Castelo e a uma aldeia que as águas do rio Zêzere trataram de submergir aquando da construção da Barragem da Bouçã. Esta é a história da Barca do Bispo.
Os poucos dados que existem sobre este pequeno lugar, situado na margem esquerda do rio Zêzere, podem ser encontrados na monografia «Castelo – A Terra e suas Gentes», de José Gaspar Domingues. Aqui fica a transcrição de algumas das informações: “Aldeamento situado na margem esquerda do rio Zêzere, numa zona de extenso areal, onde grande parte da população do concelho da Sertã ia a banhos, tanto mais que um enorme açude fora construído no leito do rio. Na margem existia um moinho e uma casa pertença do prelado, assim como uma enorme embarcação que transportava pessoas e animais para a outra margem”.
A foto que aqui reproduzimos foi tirada há alguns anos, numa altura em que foram abertas as comportas da barragem da Bouçã, o que fez baixar consideravelmente o nível das águas.
Foto: Postal da Junta de Freguesia do Castelo