segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O drama do desemprego no país e na Sertã

Enquanto o país vai assistindo incrédulo às declarações patéticas de José Sócrates, a propósito do défice (este político deve sofrer de amnésia), e à forma pouco competente como Pedro Passos Coelho tem explicado o alcance das medidas previstas no Orçamento de Estado, um outro problema vai emergindo paulatinamente e colocando em risco a estabilidade do país: o desemprego. E o concelho da Sertã não é excepção, como mais adiante veremos.
Quase todos os políticos e analistas se referem ao desemprego com uma comiseração de meter dó, sem contudo discutirem o fundamental nem tampouco avançar com medidas que possam inverter um cenário que tem tudo para piorar nos próximos anos e tornar-se num verdadeiro flagelo social e económico. Fernando Sobral, na sua coluna habitual no Jornal de Negócios, colocava, na semana passada, o dedo na ferida: “Um dos problemas centrais do mundo ocidental, o desemprego, está completamente fora das preocupações dos líderes da UE”.
Claro que para um país ‘intervencionado’ como o nosso, não é fácil dar a volta ao estado de coisas actual, ainda para mais quando o desenvolvimento português tem assentado, nos anos mais recentes, num modelo económico caduco e sem qualquer ligação à realidade. Mas baixar os braços não é solução, como não é solução o aumento de meia-hora diária no horário de trabalho dos privados – a única medida até agora conhecida do Governo para recuperar a economia. É pouco para quem se diz tão reformista. E nem vou falar das sugestões vergonhosas e idiotas feitas por Passos Coelho, e já anteriormente pelo seu secretário de Estado da Juventude, Alexandre Mestre, de que seria boa ideia alguns jovens portugueses emigrarem. É realmente desolador ver um chefe de Executivo convidar os cidadãos mais qualificados a abandonarem o seu país. Os estudiosos do brain drain terão aqui um case study muito interessante para analisar!
Mas concentremo-nos no concelho da Sertã e na forma como o desemprego tem vindo a crescer nesta zona do país. Segundo os últimos dados do IEFP, o número de desempregados no concelho, no passado mês de Novembro, era de 709 indivíduos, o valor mais alto, pelo menos, dos últimos sete anos. De notar que dos 709 desempregados, 213 estão nesta situação há mais de um ano.
Se olharmos em retrospectiva, podemos verificar que, em Novembro de 2004, o número de desempregados ascendia a 390, dos quais 261 eram do sexo feminino. Comparando estes resultados com o mesmo mês de 2011, podemos concluir que o número de indivíduos sem trabalho aumentou quase para o dobro, uma situação que, refira-se, é extensível a todo o país. Todavia, estes números podem pecar por defeito, até porque nem todos os desempregados denunciam a sua situação ao IEFP, escapando a esta malha estatística, o que poderá fazer subir ainda mais os valores actuais.
Falando do momento presente, tentemos perceber quem são estes 709 desempregados? A maioria são mulheres (465), sendo que o grupo etário mais afectado por este problema é o que se situa no intervalo entre os 35 e 54 anos (317 indivíduos). Ao nível da escolaridade, os desempregados com o secundário concluído são em maior número (229), seguindo-se os que contam com o 3.º ciclo do ensino básico (209). Referência para os 53 licenciados no desemprego.
Posto isto, o que poderemos fazer num concelho que sofre cada vez mais os efeitos da interioridade e onde as oportunidades de emprego escasseiam? Não entrando aqui no debate das oportunidades perdidas no passado (foram demais e muitas por inércia de quem passou pelo poder neste últimos 25 anos), penso que é chegada a altura de discutir o problema olhos nos olhos e sem medos, deixando de lado os caciques partidários e as ‘palas’ que tanto obstruem o raciocínio a muita boa gente deste concelho. O problema da expansão da zona industrial tem vindo a ser resolvido muito lentamente e nem vale a pena falar da pouca promoção ao concelho fora dos círculos regionais onde ele se encontra. Quantos empresários nacionais conhecerão a Sertã e as suas potencialidades? Aliás, quantos empresários nacionais saberão onde sequer fica a Sertã?
Não sou dos que defendem que a criação de emprego deva ser da responsabilidade das autarquias (esse tempo já vai longe), a sua função é outra: criar as condições necessárias para que mais empresários nos procurem para aqui fazerem os seus investimentos.
O tempo é de crise, pelo que estas oportunidades de investimento não existem, responderão alguns, contudo é nestes momentos que se arruma a casa e se aposta a sério. E muito do que há para ser feito não precisa que se gaste um euro; precisa apenas que exista vontade política para que as iniciativas avancem. E é preciso, desde logo, louvar iniciativas como os concursos de ideias ligados ao empreendedorismo, que a autarquia sertaginense tem promovido nos últimos anos.

Mas é preciso mais! E isso também dependerá de todos nós. Não basta criticar e apontar o dedo, torna-se fundamental encontrar soluções que invertam o actual cenário. Isto porque se nada for feito corremos o risco de ver a Sertã condenada a um morte certa e lenta.