segunda-feira, 11 de julho de 2011

Sertã continua a perder população

Os dados preliminares dos Censos 2011 vieram confirmar o que já há muito se especulava. O concelho da Sertã voltou a perder população nos últimos dez anos, um cenário que se mantém ininterruptamente desde 1960, altura em que o número de habitantes chegou aos 27.997.
Olhando para os números agora revelados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), temos que a Sertã regista, em 2011, uma população residente de 15.927 indivíduos, um valor abaixo do verificado em 2001 (16.720 habitantes), ano que foi efectuado o último Censos. Quer isto dizer que nos últimos dez anos, a Sertã perdeu 4,74 por cento da sua população, um valor que, ainda assim, fica abaixo da queda verificada entre 1991 e 2001 (8,1 por cento).
No conjunto da Zona do Pinhal, apenas Vila de Rei não perdeu habitantes na última década (variação positiva de 2,83 por cento), enquanto Proença-a-Nova (-14,02 por cento) e Oleiros (-14,60 por cento) sofreram quedas bastante acentuadas entre a sua população residente. No distrito de Castelo Branco, além de Vila de Rei, apenas o município da capital de distrito não perdeu gente (aumento de 0,58 por cento), sendo que os restantes viram a sua demografia baixar consideravelmente, como sucedeu, por exemplo, com Idanha-a-Nova (-17,69 por cento).
Posto isto, e voltando à Sertã, urge analisar estes números de forma fria e objectiva. Claro que os discursos políticos dos últimos dias nos disseram que a situação é um reflexo do fosso, cada vez maior, existente entre o Interior e o Litoral, de várias decisões erradas dos nossos governantes (encerramento de escolas, centros de saúde e de outros serviços públicos), do desinvestimento numa larga faixa do nosso território e da dificuldade em fixar populações no Interior.
Tudo isto é verdade, mas tudo isto é também reflexo de alguma acomodação. Por exemplo, no caso da Sertã, é triste verificar que ao longo dos últimos 30 anos, poucas vezes o problema do despovoamento foi discutido de forma aberta e frontal, de modo a tentar identificar as causas e apontar as soluções. Porque se o problema é difícil de inverter, pelo menos o desígnio deveria ser o de manter a população que ainda hoje por aqui reside.
Uma iniciativa bastante salutar teve lugar em 2008, quando foi apresentado o estudo «Dinâmicas Populacionais e Projecções Demográficas da Sertã», que analisava o passado e o futuro da nossa população. Além de ficarmos a saber que a Sertã tinha perdido 42 por cento da sua população, nos últimos 50 anos, era-nos revelado que o concelho poderia perder, nos 25 anos seguintes, mais 11 por cento dos seus habitantes. Para já, perdemos 4,74 por cento, não sendo despiciente pensar que estamos no ‘bom caminho’ para perder ainda mais gente.
Com estes dados em cima da mesa, não podemos ficar de braços cruzados. O debate tem que ser sério e não marcado por agendas políticas, sempre dúbias e que poucas vezes obedecem aos interesses da nossa região.
Começa a ser tempo de os nossos representantes olharem de frente para o problema e não o arrumarem ‘debaixo do tapete’. E este debate já devia ter começado há 30 anos!