sábado, 31 de outubro de 2009

Os desafios de José Nunes à frente da Câmara da Sertã


O novo presidente da Câmara Municipal da Sertã, José Farinha Nunes, tomou ontem posse do cargo. Mais do que assinalar este facto, importa tentar perceber quais os principais desafios que aguardam o novo autarca e a sua equipa nos próximos quatro anos de governação.
O programa eleitoral do novo presidente encerrava uma frase curiosa e que parece sintetizar todo o seu pensamento político: “A nossa opção é enfrentarmos os desafios e tentar encontrar as soluções que se afigurem mais adequadas”.
Esta expressão dá azo a várias leituras, mas concentremo-nos apenas nas soluções mais adequadas. A herança que José Nunes recebe na Câmara da Sertã é sinónimo de tarefa árdua, até porque José Paulo Farinha (o anterior presidente) marcou uma época e sobretudo, em algumas áreas, deixou um trabalho bastante positivo – isso mesmo foi reconhecido pela própria oposição.
O futuro está aí e a Sertã enfrenta aquilo que um filósofo alemão chamou um dia de “a urgência de não se deixar ultrapassar pelo tempo presente”. E a excessiva interioridade a que o concelho está cada vez mais votado, sobretudo por parte dos principais decisores do país, não augura nada de bom.
Um dos maiores problemas com que José Nunes terá de lidar é a perda crescente de população no concelho. Só nos últimos 30 anos, o município perdeu 37,5 por cento da sua população e as expectativas até 2026 indicam que poderão ser subtraídos mais 12,6 por cento aos números actuais (16.720 habitantes).
A solução não é fácil, mas seria importante discutir este problema de forma franca e sem subterfúgios – o estudo que o último executivo encomendou a este propósito foi um bom começo, mas o debate que se lhe seguiu foi totalmente estéril.
É óbvio que o problema da perda de população só se resolve se antes dele resolvermos uma série de outros problemas. O turismo é um deles. A Sertã aguarda há muitos anos (muitos mesmo!) a definição de uma política corajosa e estruturada de apoio e de fomento do turismo. O concelho foi bafejado pela sorte em termos de património natural, histórico (tão mal conservado, infelizmente) e gastronómico. José Nunes tem boas ideias no seu programa, faltando apenas estruturá-las num plano lógico e com prazos estabelecidos. Neste ponto, seria também importante o diálogo com os concelhos vizinhos, até porque a promoção do produto turístico ‘Zona do Pinhal’ teria um maior impacto junto dos mercados destinatários e o investimento poderia ser dividido por todos.
A questão do emprego/desemprego é outro dos problemas com que a equipa de José Nunes terá que se debater. Não que estejamos à espera que seja a Câmara a criar novos postos de trabalho, mas sim porque lhe compete a criação de condições para que novos investimentos possam nascer no concelho – o caso da expansão da Zona Industrial é decisivo.
O progressivo envelhecimento da população sertaginense também deve ser olhado com atenção, sobretudo pelo lado da função social que qualquer autarquia deve assumir. Neste ponto, aliás, o programa eleitoral social-democrata é bastante ambicioso, fazendo nós votos para que a sensibilidade aí demonstrada não se perca pelo caminho da governação.
Em termos de educação, a tarefa da edilidade está bem demarcada e o seu papel cinge-se a uma actividade essencialmente externa (manutenção das condições do parque escolar, atribuição de incentivos, apoios a alunos carenciados). Além disso, o programa do novo presidente segue uma linha de raciocínio já iniciada por outros executivos sociais-democratas que passaram pela Câmara da Sertã. Ainda assim, se a maior parte do que foi prometido for cumprido, a educação poderá estar bem melhor daqui a quatro anos.
O centro de saúde será outra das questões a seguir com atenção nestes próximos tempos. José Nunes, no seu programa, disse que queria construir um novo centro. Apesar da decisão final não estar nas suas mãos, é de aplaudir a ideia, faltando saber se defende que essa construção seja feita no mesmo local ou num outro.
Na parte dedicada à cultura, apesar do bom trabalho que José Paulo Farinha desenvolveu, a equipa de José Nunes tem pela frente uma tarefa bem hercúlea. Desde logo, importa corrigir alguns erros do passado, bem como omissões flagrantes no que toca ao património histórico – uma das maiores riquezas do concelho. O castelo, depois de uma intervenção realizada há cerca de uma década que pouco dignificou o seu passado, está esquecido; o centro histórico agoniza a cada dia que passa; as casas históricas da vila vão caindo aos poucos (apesar de, neste caso, os proprietários serem os grandes responsáveis pela situação); o museu continua a ser uma miragem; a Fonte da Pinta lá está esquecida e à mercê de constantes ataques urbanísticos; os riquíssimos achados arqueológicos continuam sem a devida atenção…
Por fim, a floresta, a maior riqueza do nosso concelho: as últimas iniciativas têm sido bastante interessantes, mas é urgente fazer mais.
No que toca às acessibilidades, as ideias do novo presidente vão de encontro àquilo que são os anseios da maioria da população sertaginense, nomeadamente a ligação por IC do Fundão a Tomar, passando por Sertã e Cernache do Bonjardim.