terça-feira, 23 de outubro de 2007

José Paulo Farinha em discurso directo


É um momento raro (não por culpa do visado), mas que vale a pena não perder. O presidente da Câmara Municipal da Sertã concedeu uma entrevista há cerca de duas semanas a uma revista beirã (Kaminhos Magazine), onde dá conta das suas prioridades para o que resta do seu mandato e das queixas que faz relativamente ao Governo de Sócrates.
Mas vamos às prioridades. José Paulo Farinha concentra a aposta em “conseguir tirar o maior potencial possível dos três recursos com que este concelho foi contemplado – água, floresta e ambiente”, ao mesmo tempo, que defende uma estratégia de captação de micro e pequenas empresas, se possível de alta tecnologia. Sobre o ambiente, o presidente da Câmara da Sertã considera que “foi uma das áreas prioritárias desde que tomámos posse em 2002. Um dos trabalhos que realizámos foi a identificação das «Medidas e Acções de Apoio à Floresta», que visa uma primeira aproximação à gestão sustentável da floresta. Outro dos trabalhos empreendido neste domínio foi a conclusão da «Agenda 21 Local do Município da Sertã»”. Neste particular, não posso deixar de dar os parabéns a José Paulo Farinha, até porque a Sertã foi o primeiro concelho do país a concluir a Agenda 21.
Quantos aos projectos em curso, nomeadamente no que concerne aos três recursos “com que o concelho foi contemplado”, o autarca destaca o alargamento do parque do Cabeço Raínho e a construção da central de biomassa na Zona Industrial da Sertã, a cargo da Palser. Referência também para a energia hídrica, “estando a desenvolver-se estudos que irão concretizar, futuramente, no terreno as conclusões dessas acções”, nota José Paulo Farinha.
No capítulo das acessibilidades, apesar de algumas melhorias, as coisas não estão tão bem, designadamente no que se refere às ligações a outros municípios. “Nas ligações entre municípios limítrofes ainda há muito a fazer. Como grande prioridade surge a Estrada Nacional 238 (EN 238), via estruturante para o concelho da Sertã, mas também para os concelhos limítrofes”. Além desta, José Paulo Farinha fala ainda da EN2 e do IC8, duas vias estruturantes e que requerem obras de melhoramento.
Um dos temas que mais aguardava ver tratado na entrevista era o turismo e as minhas expectativas não saíram defraudadas. “Passados que estão cinco anos à frente dos destinos da Câmara da Sertã, não mudei ainda a opinião que tinha sobre este sector. Reconheço que temos potencialidades turísticas, não sendo difícil apontar razões para atrair o turista. Embora se tenha bom ambiente, boas paisagens, boa gastronomia, gentes que sabem receber como poucas, o concelho isoladamente não tem futuro turístico, nem nenhum concelho da Zona do Pinhal conseguirá ter expressão neste domínio, a não ser por meio de uma actuação integrada se alcançará esse objectivo”, disse o edil da Sertã. Enfim, o que há muito já se sabia foi finalmente apreendido pelo nossos autarcas. Haja vontade para encontrar políticas e estratégias concertadas entre todos.
Mas José Paulo Farinha disse mais sobre o tema: “Sem querer ferir susceptibilidades, não considero Turismo o que se passa em grande parte dos nossos concelhos, pois considero que só existe negócio turístico quando as pessoas se instalam na região, dois ou três dias, porque neste caso, terão que tomar as suas refeições nos cafés e restaurantes, dormir e comprar algo no local escolhido. É óbvio que o concelho da Sertã, bem como os concelhos envolventes têm grandes potencialidades para divulgar. Mas sejamos pragmáticos, repito, só através de uma acção conjugada e articulada dos vários municípios conseguiremos atingir algum desiderato no sector turístico”.O presidente da Câmara da Sertã aproveitou ainda a entrevista para deixar alguns recados ao Governo. “Sem querer ser derrotista, em jeito de desabafo, e não obstante ser um defensor de que a sensatez e a sobriedade devem pautar o comportamento humano, a irrelevância e a indiferença a que tem sido votada esta Região, em particular, e o Interior, em geral, além da ausência de uma visão estratégica para a mesma, levam-me a repensar a minha forma menos impositiva de manifestar, em algumas circunstâncias, as minhas preocupações para o desenvolvimento do concelho”. Quanto a uma provável recandidatura à Câmara Municipal da Sertã, José Paulo Farinha não abre o jogo. “Tenho muita honra e um orgulho imensurável de estar a desempenhar as funções de presidente da Câmara, mas ainda é cedo para abordar esta questão. Sem qualquer espécie de «tabu», os leitores compreenderão que não posso acrescentar mais nada acerca desta matéria”.
Foto: Kaminhos Magazine