domingo, 28 de outubro de 2007

Biomassa: medo ou ignorância?


Um dos nossos leitores, por ocasião de um texto aqui publicado sobre a nova central termoeléctrica a biomassa florestal, a instalar na Zona Industrial da Sertã, fez-nos chegar uma notícia que dava conta dos protestos dos habitantes de uma localidade do concelho de Sintra perante a instalação de uma estrutura deste género na sua zona.
Posto isto, e como a discussão pública destes projectos se faz quase sempre no quentinho dos gabinetes, resolvi investir um pouco de tempo a tentar perceber quais seriam as vantagens e desvantagens da instalação deste tipo de centrais.
Segundo a Quercus, a biomassa é a energia gerada a partir de material vegetal, podendo ser transformada em energia através de combustão, gaseificação, fermentação, ou produção de substâncias líquidas. “É uma energia biológica em que o conjunto de organismos que podem ser aproveitados como fontes de energia são por exemplo: a cana-de-açúcar, o eucalipto e a beterraba (dos quais se extrai álcool), o biogás (produto de reacções anaeróbicas da matéria orgânica existente no lixo), diversos tipos de árvores (lenha e carvão vegetal) e alguns óleos vegetais (amendoim, soja)”, constata aquela entidade.
Entre as vantagens contam-se o baixo custo de obtenção da matéria-prima, a não emissão de dióxido de enxofre, as cinzas são menos agressivas ao meio ambiente do que as provenientes de combustíveis fósseis, a menor corrosão dos equipamentos (caldeiras, fornos), o menor risco ambiental, o facto de ser um recurso renovável e as suas emissões não contribuirem para o efeito estufa.
No entanto, também existem desvantagens: maior possibilidade de geração de material particular para a atmosfera (isto significa maior custo de investimento para a caldeira e os equipamentos para remoção de material particular), dificuldades no armazenamento e menor poder radiador.
Outro dado curioso diz respeito ao facto de vários especialistas duvidarem das potencialidades destas centrais na produção de energia. Segundo um estudo de uma ONG internacional, “a produção de electricidade a partir de biomassa é genericamente menos eficiente que a produção de electricidade a partir de outros combustíveis devido a um menor poder calorífico do combustível, maior variabilidade do conteúdo em humidade e maior heterogeneidade dos combustíveis. A eficiência de combustível destas centrais está tipicamente abaixo dos 35% (valor eventualmente possível para centrais bem desenhadas e correctamente operadas)”.
Mas há o outro lado. Os responsáveis da Central Termoeléctrica de Mortágua, que tem na biomassa o seu principal combustível, apresentaram recentemente as conclusões do relatório sobre o funcionamento desta unidade, inaugurada em 1999. “Este projecto desenvolvido nos anos noventa pela EDP – Electricidade de Portugal em consórcio com o Centro da Biomassa para a Energia (CBE), permitiu a utilização dos resíduos florestais, muito abundantes naquela zona, para produzir electricidade, criando condições para a limpeza das matas e florestas, por parte dos seus proprietários, contribuindo assim para a redução dos riscos de incêndio, para o ordenamento florestal da zona Centro do País e para a redução da dependência energética externa e aumenta a penetração das energias renováveis em Portugal”.
Antes de terminar, gostava de realçar que este texto não pretende fazer qualquer juízo de valor a favor ou contra a central de biomassa. O objectivo é apresentar os dois lados da questão e tentar potenciar a discussão sobre o tema.
Considero a instalação de estruturas deste género um impulso muito importante para a economia do nosso concelho e um contributo decisivo para o nosso ambiente, mas também entendo que seja necessário discutir as coisas com frontalidade e sem receios de qualquer espécie. O concelho só tem a ganhar e as pessoas ficam mais informadas. Isto porque, no caso que o nosso leitor nos trouxe, através daquela notícia, o que mais me “chocou” foi a falta de informação daquelas pessoas e o medo que votavam ao desconhecido.

É triste dize-lo, mas já vi muitos políticos fazerem-se valer desta ignorância para daí recolher dividendos.