quarta-feira, 3 de junho de 2009

Umas eleições pouco europeias


“Nunca uma democracia moderna foi tão pouco escrutinada”, Henrique Burnay


Alguns já sabem, mas para outros é novidade absoluta. No próximo domingo têm lugar as eleições europeias, aquelas em que escolhemos os nossos representantes no Parlamento Europeu, ou assim deveria ser.
O desinteresse da população sertaginense, e do resto do país, é evidente. Os candidatos lá se vão esforçando para não passarem despercebidos, ao mesmo tempo que apelam ao voto nas suas cores partidárias. Mas o que fica, para já, de toda a campanha é um longo bocejo e uma ausência, quase arrepiante, do tema que deveria dominar as conversas dos candidatos – a União Europeia.
Do lado social-democrata, ficámos a saber por exemplo que Paulo Rangel, candidato ‘laranja’ às eleições europeias, aquando da sua última passagem pela Sertã, em ambiente de pré-campanha, deixou a seguinte mensagem: “Nós podemos ter o destino nas nossas mãos. Não somos obrigados a viver no país da propaganda, dos anúncios, das auto-estradas e dos milhões e milhões de euros todos os dias na televisão”. “Nunca houve em Portugal um governo tão centralista. Toda a nossa faixa Interior está esquecida. O centralismo está impregnado e a cativar e escravizar o governo”.
Tudo ideias muito peregrinas, mas Europa nem vê-la. Os meus prezados leitores já devem estar acusar-me de ter memória curta e de não estar com atenção à campanha. É verdade que Paulo Rangel já defendeu um programa Erasmus para o primeiro emprego e tem advogado que os fundos europeus deviam servir para combater a crise, mas o que é certo é que na hora da verdade, o que sobressai em todos os seus discursos é que estas eleições são um teste para as próximas legislativas e autárquicas. E é pena, porque a distância que separa os portugueses da União Europeia continua a aumentar, graças à incompetência de uma classe política que tarda em explicar às pessoas o que se passa lá longe em Bruxelas – quantos saberão o que é e para que serve o Tratado de Lisboa?
Mas a culpa não é só do PSD. Veja-se a forma como o secretário-geral do PS (agora de folga das suas funções de primeiro-ministro), José Sócrates, falou na última sexta-feira, num comício em Castelo Branco. Aqui está uma das linhas gerais que retive do discurso de Sócrates, em relação às europeias, feito na capital de distrito: “Durante quatro anos a direita portuguesa procurou convencer os portugueses que não era preciso apresentar propostas ou ideias, porque isso far-se-ia durante a campanha eleitoral. Mas chegamos agora à campanha eleitoral e não vejo nenhuma proposta ou ideia, porque eles acham que dizer mal pode ser um programa político”.
Mas há mais. Quando todos esperavam que o discurso entrasse nas europeias, o secretário-geral do PS aproveitou para acusar os governos de coligação PSD/CDS-PP por terem lançado um clima de “terror na educação”, atrasando a colocação de professores e a abertura dos anos lectivos. “Depois das reformas que este Governo fez na educação, e sem um pingo de vergonha, a direita vem dizer que estas reformas representam o terror na educação”.
Já o candidato socialista Vital Moreira preferiu repetir os ataques que tem feito ao PSD acerca do envolvimento de altas figuras do partido no escândalo do BPN.
Mas claro que não posso ser injusto com o ‘camarada’ Vital, que também já deu os seus contributos para a campanha, ao defender um imposto único europeu e ao afirmar que o Partido Socialista Europeu devia apoiar outro candidato que não Durão Barroso (havia tanto para dizer sobre este senhor e a forma como ele se tem ‘afirmado’ na União Europeia).
Nos outros partidos, a tónica dominante é a de que estas eleições deverão servir para dar um “cartão vermelho” ao Governo. Paulo Portas tem insistido nesse argumento e até a ‘sertaginense’ Ilda Figueiredo (a candidata da CDU é natural da freguesia do Troviscal) não deixa fugir uma oportunidade para apontar o dedo ao Executivo socialista. E nem vou falar nos vários programas que os diferentes partidos apresentaram a estas eleições – como disse um colega meu “demasiadas generalidades e vacuidades” num claro exercício de contenção de recursos.
Tudo isto somado dará concerteza uma boa dose de abstenção nas eleições de domingo. E porquê? Porque é difícil convencer alguém a votar numas eleições onde o que está realmente em jogo não é a Europa, mas sim a primeira avaliação ao Governo socialista em ano de actos eleitorais.
Contudo, não se pense que não irei votar… esse é um direito do qual não abdico, enquanto cidadão. Mas posso dizer-vos que a escolha será difícil, além de que terei de me obrigar a um esforço suplementar para tentar perceber qual das forças partidárias (ao todo são doze partidos e uma coligação) nos poderá representar melhor no Parlamento Europeu.