É um daqueles assuntos que surge sempre na mesma altura do ano e com aquela sensação de que voltámos, uma vez mais, a acordar tarde – os incêndios florestais. Uma notícia na edição de hoje do jornal Público dá-nos conta da visita que Mark Beighley, consultor norte-americano, fez durante duas semanas a Portugal para avaliar como o país se preparou para os incêndios deste ano. As conclusões não são animadoras, a julgar por aquilo que é referido na notícia: «O que ardeu em 2003 e em 2005 já está pronto para voltar a arder, com a agravante que o que está no terreno propicia a evolução das chamas ainda mais rapidamente», alertou este consultor, que percorreu o país após aqueles dois anos catastróficos, deixando na altura sugestões, que agora voltou para confirmar no terreno. Segundo a análise que agora fez, o risco de se voltar a ter um ano atípico, em que ardem mais de 250 mil hectares, é cada vez maior. A probabilidade «aumentou de um em oito anos para um em quatro».As razões ambientais (condições meteorológicas severas) explicam, de acordo com Mark Beighley, parte do problema. Mas não só. «O povo português é o problema». E porquê? «Porque 97 por cento das ignições são causadas pelo homem, um número largamente superior ao que existe nos países vizinhos».“Beighley elogiou o esforço feito no reforço do sistema de combate. Mas salientou que esta aposta só deveria existir como último recurso, quando todas as outras falham. O segredo está na prevenção, pelo que o tratamento de combustíveis na floresta tem de ser alargado e deve haver um esforço, desde a escola, para educar sobre o uso do fogo nos espaços rurais, «o que deverá levar uma geração»”, escreve o diário, acrescentando que, em relação ao combate, nem tudo está bem: “A floresta é a última prioridade, depois das vidas e das propriedades. Assim sendo, a probabilidade de os grandes incêndios florestais no Interior se descontrolarem é elevada já que os meios estão sobretudo vocacionados para o interface entre as populações e as florestas”.
Mark Beighley considerou ainda que “o sistema de combate ainda não foi testado num ano normal – «todos concordam que 2007 e 2008 foram benignos» –, o consultor americano com 34 anos de experiência em gestão florestal e de incêndios para o Governo dos E.U.A afirmou que o risco do sistema não funcionar em condições extremas não deve ser subestimado”.