quinta-feira, 18 de junho de 2009

Combate à desertificação devia ser prioridade


Comemorou-se ontem o Dia Mundial de Combate à Seca e Desertificação. Este é um tema que diz muito ao nosso país e também ao concelho da Sertã, mas que tem sido esquecido por sucessivos governos, que aparte alguns paliativos pontuais pouco ou nada têm feito sobre esta matéria – nem um debate sério sequer; os deputados parecem preferir as discussões inócuas e sem sentido das moções de censura.
O assunto é grave e era tempo de o enfrentar com seriedade, principalmente quando se sabe que em Portugal mais de metade do território está em risco de desertificação e a ficar sem solos de qualidade.
Felizmente, ainda há quem se lembre destes assuntos e de avançar com algumas soluções. A edição de ontem do jornal Público dava destaque ao problema.
Eugénio Sequeira, ex-presidente da Liga para a Protecção da Natureza (LPN), foi um dos especialistas ouvidos pelo diário, tendo defendido a necessidade de serem concedidos benefícios aos agricultores para estes manterem as suas actividades e protegerem os terrenos. “Um agricultor que opte por plantar carvalhos [árvore mais resistente aos incêndios] em vez de eucalipto deve ser pago por isso. A longo prazo o carvalho vai ser mais rentável, mas só daqui a muito tempo”. E dá ainda outro exemplo: “quem vai dizer a um agricultor que não pode plantar olival intensivo porque vai poluir o aquífero que passa por baixo da sua propriedade, mas não na do vizinho? Tudo isto tem de ser compensado”.
Eugénio Sequeira, que diz que os agricultores devem passar a ser entendidos como os guardiões do solo, lamenta a inversão das políticas nesta matéria: “A ajuda das medidas agro-ambientais tem vindo a diminuir. A dada altura chegou a abranger 60 por cento do território; agora esse número é de apenas 20 por cento”.
Sobre a questão da desertificação, este especialista assinala que o seu combate deve passar pelo ordenamento do território. “As cidades estão a cobrir os melhores solos do país” num processo de impermeabilização dos terrenos, sendo que “a RAN (Reserva Agrícola Nacional) e a REN (Reserva Ecológica Nacional) deixam de funcionar nos perímetros urbanos”.
Talvez fosse bom pensarmos mais nestas coisas. É preciso não esquecer que, segundo as últimas projecções, o concelho da Sertã poderá perder, até 2026, cerca de 12 por cento da sua população actual. Se a isto somarmos o facto do concelho já ter perdido 37,5 por cento dos seus habitantes nos últimos 30 anos, então é bom que nos comecemos a preocupar.