Já não é a primeira vez que aqui abordamos a hipotética construção de um museu na Sertã mas, correndo o risco de nos tornarmos repetitivos, voltamos ao assunto. Claro que para alguns, esta matéria é de somenos importância perante os desafios que o concelho e o país enfrentam actualmente, contudo nunca na Sertã o assunto mereceu grande debate por parte dos responsáveis políticos, mais preocupados com outras ‘coisas’ (!!!).
Claro que não é novidade para ninguém a forma ‘vergonhosa’ como o património histórico e natural do concelho tem sido tratado ao longo das últimas décadas e nem vou falar na pouca relevância que é dada ao estudo da história da Sertã (tão rica e cheia de pontos que mereceriam uma atenção diferente). Mais do que dar a conhecer o que foi o passado deste concelho (que viu nascer Homens como Nuno Alvares Pereira, Manuel Antunes, Lopo Barriga, Gonçalo Rodrigues Caldeira e que foi berço das famílias Mascarenhas e Relvas), a construção de um museu seria uma oportunidade única para colocar à vista de todos os vários objectos históricos que hoje permanecem em caves e casas particulares.
Falo, por exemplo, dos resultados das escavações levadas a cabo pelo arqueólogo Carlos Batata, dos valiosíssimos documentos/utensílios/artefactos dispersos por todo o país e que ajudariam a compreender melhor como eram, e como viviam, os nossos antepassados. Mais do que um museu, este local seria um verdadeiro pólo de memória e de interpretação do nosso passado.
E a este propósito enunciemos dois exemplos de municípios que não tiveram medo de arriscar. O primeiro exemplo chega-nos de Fafe, onde a Câmara local resolveu, em parceria com a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), constituir um Centro UNESCO – Memória e Identidade, no seio do qual serão formadas equipas multidisciplinares que farão o enquadramento metodológico e científico e consequente trabalho de campo. O objectivo é “fazer o levantamento do património imaterial do concelho, procurando preservar tradições, expressões linguísticas, lendas, rituais e aptidões”.
O segundo exemplo vem directamente da Batalha, que este fim-de-semana assistiu à inauguração (presidida por Cavaco Silva) do seu Museu da Comunidade Concelhia, que segundo os seus responsáveis pretende “valorizar a identidade e a história do concelho da Batalha e dos seus munícipes”, ao mesmo tempo que dará a conhecer “a vida deste território, desde as suas origens geológicas, paleontológicas e arqueológicas, percorrendo os principais acontecimentos históricos e artísticos até à actualidade”.
Claro está que a criação de um museu acarreta custos e que a sua manutenção é altíssima, mas também ninguém está a pedir que se construa um CCB ou um Museu Nacional de Arte Antiga. Quando se vê tanto dinheiro desperdiçado em obras e festas que apenas servem para esconder a ausência de ideias e de estratégia, custa a aceitar que pelo menos a hipótese não seja discutida. E a discussão seria sempre útil nem que fosse para concluir que a Sertã não precisa de um museu.