segunda-feira, 11 de abril de 2011

Júri das «7 Maravilhas da Gastronomia» deixa pratos sertaginenses de fora

A gastronomia da nossa região não foi feliz no concurso das «7 Maravilhas da Gastronomia» portuguesa. O júri desta iniciativa divulgou os 70 finalistas do concurso e na lista não surgem os maranhos, o bucho recheado e os cartuchos de Cernache (os nossos candidatos).
A concorrência era grande e difícil, ainda para mais quando é conhecida a riqueza e variedade que caracterizam a nossa gastronomia. O concelho estava representado por três pratos, mas nenhum deles ultrapassou a primeira fase.
Mais do que lamentar o resultado, importa trazer à discussão algumas reflexões sobre a forma como temos promovido e protegido a nossa gastronomia. Todos estão de acordo quanto à qualidade da cozinha sertaginense – basta visitar alguns dos nossos restaurantes para perceber que um dos nossos argumentos turísticos mais fortes é a gastronomia. Contudo, é de estranhar que a atenção devotada a este tipo de matérias por quem dirige este concelho seja bastante deficitária e alheada de qualquer estratégia. Veja-se o exemplo dos maranhos, o grande trunfo da nossa cozinha. Há anos que vários ‘iluminados’ da nossa praça falam na importância da preservação e promoção desta iguaria, mas o que se tem visto é precisamente o contrário.
Primeiro, foi a aventura desastrosa da Confraria do Maranho, que poucos perceberam para o que foi criada e onde os seus confrades (à excepção de um ou dois) se demitiram das suas responsabilidades – é bom aparecer nas fotos, mas quando toca a trabalhar, a conversa é bem diferente!
Ainda sobre o maranho, há alguns anos surgiu a notícia de que este produto iria ser certificado. No entanto, pouco se viu até à data, além dos costumeiros discursos de intenções. Talvez por isso não seja de estranhar que os maranhos (cuja origem remonta aos inícios do século XIX) façam parte da lista, publicada pela associação As Idades dos Sabores, dos dez pratos portugueses que correm risco de desaparecer. Não fosse o trabalho de alguns empresários de restauração sertaginense e hoje poderiam ser apenas uma memória.
E a importância do maranho não deve ser vista apenas num nível concelhio ou regional. A vitalidade deste prato vê-se na quantidade de pessoas que se deslocam à Sertã para o apreciar e até mesmo comprar, apesar da sua comercialização para o exterior ainda não estar regulamentada.
O sucesso dos maranhos deve ser fomentado a nível nacional, fazendo deles um verdadeiro embaixador da Sertã, tal como a sopa da pedra é para Almeirim, as alheiras para Mirandela ou as tripas para o Porto. Talvez no dia em que os maranhos forem uma prioridade, exista força suficiente para os tornar favoritos a uma nova lista das «7 Maravilhas da Gastronomia» portuguesa. Até lá, é preciso fazer o trabalho de casa e não assobiar para o lado.