Para já, o cenário não é de alarmismos, até porque o Centro de Emprego da Sertã, que inclui os concelhos de Oleiros, Proença-a-Nova, Mação, Vila de Rei e Sertã, é aquele que na região Centro apresenta um menor número de desempregados. No passado mês de Junho, estavam inscritas neste centro de emprego 1.132 pessoas, sendo que a maioria era originária do concelho da Sertã (564).
O problema do desemprego é, neste momento, transversal a todo o mundo e em Portugal a taxa de desempregados tem vindo a crescer de forma pronunciada – em Maio estava nos 10,9 por cento, a quarta mais alta no conjunto dos países da OCDE.
A solução para este problema não é fácil, sobretudo num momento em que os países se confrontam com dívidas públicas assustadoras (a portuguesa está a caminho dos 90 por cento do PIB) e os bancos não conseguem encontrar financiamento no mercado interbancário e, portanto, são poucos os que conseguem empréstimos junto da banca.
No entanto, o que nos interessa aqui é o estado actual do emprego (e alguns factores colaterais) no concelho da Sertã. Os dados são escassos e as únicas fontes existentes não são actuais, daí a impossibilidade de apresentar um retrato fiel e fundamentado.
Contudo, e recorrendo às fontes existentes (Censos 2001; Anuário Estatístico da Região Centro 2008; Carta Social do Concelho da Sertã e Agenda 21 Local), podemos constatar que o total da população empregada no concelho ultrapassa as seis mil pessoas, estando a maioria afecta a actividades ligadas aos sectores secundário e terciário. A baixa escolaridade dos trabalhadores é uma evidência, sendo que a maioria não tem mais do que o terceiro ciclo do ensino básico (o equivalente ao 9.º ano). Mais preocupante é o número pouco significativo de trabalhadores com ensino superior (a grande maioria dos sertaginenses com ensino superior não exerce actividade no concelho).
Aliados às poucas qualificações da população existente, estão outros dados ‘esmagadores’, a que poucos têm prestado atenção e que, de certo modo, explicam a falta de competitividade da nossa economia local. Por exemplo, a Agenda 21 Local do município da Sertã alertava, em 2004, para “as poucas oportunidades de emprego” no concelho; para a “incerteza de manutenção e sobrevivência de micro, pequenas e médias empresas ligadas ao sector florestal, em consequência dos incêndios” que ocorrem anualmente; para a “pouca competitividade da actividade agrícola local” devido ao seu carácter minifundiário e ao “fraco associativismo por parte dos agricultores”; para a “reduzida actividade industrial” e também para o facto do “extenso parque industrial atrair sobretudo actividades comerciais e de prestação de serviços”.
Não queremos com isto dizer que tudo está mal na Sertã, até porque o exemplo recente da Central de Biomassa é um importante sinal de mudança neste cenário. Todavia, é pouco para um concelho com enormes potencialidades ao nível da floresta, energias renováveis ou turismo.
Em jeito de conclusão, acrescentemos outro dado que deverá continuar a merecer um olhar atento e que é decisivo inverter nos próximos anos: a perda de população no concelho. Olhando para o período entre 1950 e 2001, verificamos que a Sertã perdeu mais de 40 por cento da sua população residente. Se a isto somarmos o facto de, até 2026, e segundo o estudo Dinâmicas Populacionais e Projecções Demográficas, o concelho poder vir a perder mais de 12 por cento dos seus actuais habitantes, então estamos conversados.
São sinais que devem merecer a nossa atenção/preocupação e que muito do discurso político das últimas décadas (protagonizado por alguns vendedores de ilusões) tem vindo a escamotear, com honrosas excepções.