Onde fica? Está situada entre a Praça da República e a Avenida Gonçalo Rodrigues Caldeira. Apesar de todos a conhecerem por Rua do Vale (nome que a artéria já ostentava em pleno século XVI), o seu nome actual é Rua Cândido dos Reis
Quem foi? No ano em que se comemora o centenário da implantação da República, é da mais elementar justiça recordar o nome de Cândido dos Reis (mais conhecido por Almirante Reis), um dos organizadores militares da revolta de 5 de Outubro de 1910.
Carlos Cândido dos Reis nasceu na cidade de Lisboa, no dia 16 de Janeiro de 1852. Aos 17 anos, iniciou a sua carreira na Marinha, como voluntário, tendo ocupado nos anos seguintes as mais diversas posições na hierarquia militar: comandou canhoneiras, dirigiu a Escola de Marinheiros do Porto, a Escola de Torpedos Fixos e a 2.ª e 4.ª divisões do Corpo de Marinheiros. Foi ainda instrutor e professor da Escola Prática de Artilharia Naval.
Depois de aderir ao Partido Republicano Português, tornou-se membro da Carbonária – uma espécie de sociedade secreta e revolucionária liderada pelo grão-mestre Luz de Almeida e que incluía nomes como os de Machado Santos, António Maria da Silva ou António Granjo.
Em 1908, mais precisamente a 28 de Janeiro, o Almirante Reis envolveu-se no golpe que visava a detenção de João Franco, na altura chefe de Governo, e a consequente tomada do poder. O golpe fracassou, mas os objectivos permaneceram inabaláveis.
Não foi preciso esperar muito para que os revolucionários (que incluíam elementos afectos à Carbonária, Partido Republicano e Maçonaria) desenhassem o plano que na manhã do dia 5 de Outubro de 1910 colocaria um ponto final em mais de 750 anos de monarquia. Cândido dos Reis foi um dos estrategas do golpe e as palavras que proferiu, na véspera do 5 de Outubro, quando alguns oficiais sugeriram o adiamento do plano, ficaram célebres: “A Revolução não será adiada. Sigam-me se quiserem. Havendo um só que cumpra o seu dever, esse único serei eu”.
O resto é história: “Na madrugada de 5 de Outubro, em plena acção revolucionária, dirigiu-se aos Banhos de São Paulo para conferenciar com os companheiros. As notícias que corriam não eram boas, pois a maior parte das unidades militares comprometidas não tinham chegado a revoltar-se. Concluíram que o golpe falhara e decidiram fugir. Cândido dos Reis despediu-se e desapareceu nas ruas da cidade. Horas depois foi encontrado morto na zona de Arroios. Tinha-se suicidado”. Curiosamente, nos dias seguintes à sua morte, os jornais da época ainda apontaram para a hipótese de assassinato, mas a ausência de provas nesse sentido manteve a versão oficial de suicídio.
O seu funeral, realizado conjuntamente com o de Miguel Bombarda (morto a tiro dois dias antes da Revolução), atraiu milhares de pessoas à cidade de Lisboa. De todo o país, chegaram delegações que se propunham a prestar uma última homenagem ao Almirante Reis.
A vila da Sertã não ficou indiferente aos feitos deste herói republicano e a Comissão Municipal, criada logo após a implantação da República, decidiu alterar o nome da Rua do Vale para Rua Cândido dos Reis, numa reunião que teve lugar no dia 15 de Outubro de 1910. Neste mesmo dia, a até então Praça do Comércio foi também rebaptizada de Praça da República.
Fontes: História de Portugal (Joaquim Veríssimo Serrão), Plano de Leitura, História Política da Primeira República Portuguesa, Wikipédia, jornais O Século, A Lucta e O Mundo