Quem foi? De uma ou de outra forma, já todos devem ter ouvido este nome: Ângelo Henriques Vidigal. O concelho da Sertã tem para com ele uma dívida de gratidão pelos serviços que prestou, tanto como médico, professor ou simplesmente como dinamizador cultural e desportivo em várias colectividades.
Ângelo Henriques Vidigal nasceu em Pedrógão Pequeno, no dia 13 de Junho de 1893, sendo filho de Joaquim Henriques Vidigal e de Maria Ângela da Conceição Vidigal. Fez a instrução primária nesta vila e estudou medicina em Lisboa, onde se formou na Faculdade de Medicina, em 1920.
Regressou à sua terra e Abílio Marçal, na altura director do Instituto das Missões Coloniais, em Cernache do Bonjardim, convidou-o para leccionar no liceu nacional, que estava anexo àquele instituto.
Cinco anos depois, em 1925, vários cidadãos proeminentes da Sertã tentaram convence-lo a ocupar a vaga que José Carlos Ehrardt iria deixar no partido médico da vila. Resistiu a aceitar, num primeiro momento, mas o Pe. Francisco dos Santos e Silva (seu grande amigo e padrinho de casamento) conseguiu demove-lo da sua recusa. A 30 de Março de 1925 tomou posse do cargo de forma interina, subindo a efectivo no dia 13 de Junho do mesmo ano.
Em 21 de Agosto de 1940, foi nomeado subdelegado de saúde do concelho, substituindo Gualdim de Queirós e Melo.
O seu trabalho como médico era por todos reconhecido e isso ficou bem patente em vários artigos publicados no jornal «A Comarca da Sertã», após a sua morte. Por exemplo, José Barata Correia escrevia: “Era um homem singular, um médico de eleição e um homem bom”, acrescentando: “Ângelo Vidigal era um homem cheio de actividade para quem não era suficiente a canseira quase permanente de um médico de província, sem horas para as refeições, calcorreando montes e vales e estradas péssimas para fazer um parto ou para acudir a todos os aflitos que o chamavam em busca de consolo e alívio para os seus males”.
Dele se dizia, que “servia o pobre e o rico com igual carinho, o mesmo fervor e isenção. Nunca registou nem fez assentos dos serviços prestados. Não apresentou contas a ninguém”.
Contam-se várias histórias da sua nobreza e disponibilidade enquanto homem. João Lopes Ferreira, que assinou durante muitos anos várias crónicas n’«A Comarca da Sertã», contava certo dia: “Por motivo de saúde, fui levado por minha mãe até ao seu consultório, e ali, depois do diagnóstico feito, e de ter ganho uma lembrança para não chorar, minha genitora, faz aquela pergunta de praxe: Então senhor doutor Ângelo quanto é que lhe devo? Eu que ainda não tinha meia dúzia de anos estava de lado mirando aquela figura simpática de faces rosadas, pesando mais de cem quilos, quando com os olhitos meio espantados, ouvi aquela voz suave como uma melodia dizer: «Tu és doida Maria, guarda o dinheiro para comprares pão para os teus filhos». Minha mãe ficou meia estática e sem jeito, agradeceu-lhe comovida, e aquele projecto de gente que se agarrava às suas saias, jamais esqueceu tão nobre gesto”.
As suas simpatias políticas iam directamente para o ideário republicano (por clara influência de seu pai – um dos ilustres republicanos do concelho) e mais tarde ficou a saber-se que era “anti-salazarista” (algo que escondeu toda a sua vida, ainda para mais porque ocupava o cargo de subdelegado de saúde).
Mas o seu nome não ficou apenas ligado à medicina. Foi ainda presidente da Assembleia-Geral do Sertanense ininterruptamente entre 1936 e 1956; liderou a direcção do Clube da Sertã em várias ocasiões e foi um dos fundadores do jornal «A Comarca da Sertã».
Casou com D. Maria Amélia, sua prima, nascida no Brasil.
Faleceu em 1957, mais precisamente no dia 20 de Novembro. Encontra-se sepultado em Pedrógão Pequeno.