sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A tragédia que nos deu a conhecer a família Sertã

A recente tragédia no Brasil, onde violentas cheias provocaram mais de 800 mortos na região serrana do estado do Rio de Janeiro, trouxe ao nosso encontro uma conhecida família brasileira, cujas origens remontam ao século XIX e mais precisamente ao concelho da Sertã.
Para contar a história é preciso ir até ao município de Nova Friburgo, um dos mais atingidos pelas cheias e cujo hospital nos chamou a atenção devido ao seu sugestivo nome – Raul Sertã. Colocada a investigação em campo, foi possível apurar que este ilustre cidadão da cidade é descendente de um dos muitos sertaginenses que emigraram para o Brasil no século XIX.
Este emigrante, que dava pelo nome de António Lopes Sertã (pensamos que o apelido foi adoptado em jeito de homenagem à sua vila natal), nasceu em 1851, na Sertã, e emigrou ainda muito jovem para terras de Vera Cruz.
Sabemos que quando chegou ao Brasil trabalhou como mascate (uma espécie de vendedor ambulante) e que vinha periodicamente a Nova Friburgo (colonizada, no início do século XIX, por 261 famílias suíças, que baptizaram o lugar com o nome da cidade de onde provinha a maioria). Aí se apaixonou por Elisa Ferreira e com ela teve seis filhos (Licínio, Mário, Raul, Alfredo, Aníbal, António e Hilda – os dois últimos morreram antes de completarem 22 anos de idade).
António Lopes Sertã faleceu aos 46 anos, numa altura em que já acumulara grande fortuna, sobretudo devido à empresa de comércio do sogro, o conhecido Joaquim Tomé Ferreira (também ele emigrante português).
Após a morte do marido, Elisa Ferreira Sertã continuou os negócios e foi uma das fundadoras da Caixa Rural, o primeiro banco de Nova Friburgo (quando faleceu, o seu nome ficou imortalizado numa das ruas da cidade). A família Sertã era já uma das mais ilustres desta zona do estado do Rio de Janeiro.
Os filhos não ficaram atrás dos progenitores. Mário Sertã tornou-se médico e inaugurou a primeira Casa de Saúde particular de Nova Friburgo, ao passo que Raul Sertã ficou conhecido pelas suas actividades no ramo das frutas – conta-se que Getúlio Vargas (presidente do Brasil durante 18 anos) era um dos maiores apreciadores da fruta produzida por Raul Sertã nas suas enormes quintas.
Mas Raul Sertã não se ficou por aqui: doou um enorme casarão para recolher as órfãs de Nova Friburgo, cedeu o terreno para o Nova Friburgo Futebol Clube construir o seu actual estádio (que tem o seu nome) e doou também o terreno para a edificação da Santa Casa da Misericórdia local (mais tarde transformada em hospital e cujo nome homenageia o seu benemérito).


Fontes: O Cotidiano de Nova Friburgo no final do Século XIX - Práticas e Representação Social (Janaína Botelho); HistórideFriburgo.blogspot.com; jornal A Voz da Serra; Wikipédia;