segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A floresta e a pouca atenção que lhe tem sido devotada

As Nações Unidades declararam 2011 como o Ano Internacional das Florestas. E para assinalar estas comemorações nada melhor do que reflectir um pouco sobre o estado das florestas aqui em Portugal.
Para ponto de partida, nada melhor do que relermos o artigo de opinião (publicado no jornal Público de 2 de Fevereiro) assinado por Rui de Sousa Barreiro, secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural. Diz o nosso governante que a floresta ocupa mais de 3,4 milhões de hectares do território nacional, o que representa uma taxa de arborização de cerca de 39 por cento do território. O pinheiro bravo, o sobreiro e o eucalipto ocupam, no seu conjunto, quase 75 por cento da área de floresta. E esta vasta área está na base de “um sector da economia competitivo e dinâmico que representa cerca de três por cento do PIB nacional e assegura mais de 260 mil postos de trabalho directos e indirectos”.
O secretário de Estado elenca ainda tudo o que este Governo tem feito pela nossa floresta: as Zonas de Intervenção Florestal (que abrangem uma área de 670 mil hectares); a certificação florestal (o Governo acredita que, em 2013, pode ter 500 mil hectares de área florestal certificada) e o reforço do Fundo Florestal Permanente.
Quem ler o artigo pensará que o estado das nossas florestas é idílico e que o Governo tem feito um trabalho de se lhe tirar o chapéu. O problema é que o artigo do nosso governante não conta toda a história, ou melhor, conta apenas o lado bom da história.
E qual é o outro lado? Talvez seja bom começar por lembrar a Rui de Sousa Barreiro que, entre 1999 e 2010, a área ardida no nosso país foi de cerca de 1.696.390 hectares (fonte: ANF), e que as suas tão ‘queridas’ Zonas de Intervenção Florestal tardam em ter execução prática no terreno.
É fácil dizer que o nosso país tem todas as condições para ver na floresta um sector decisivo para o futuro da sua economia, o grande problema é que Governo, proprietários e Indústria pouco ou nada têm feito para preservar este nosso precioso bem, que é responsável por sequestrar anualmente mais de 289 milhões de toneladas de dióxido de carbono.
E se dúvidas existissem, basta lembrar o que disse recentemente a Quercus: “A falta de conservação da floresta portuguesa tem sido a grande falha no combate aos incêndios dos últimos anos”. Se a isto juntarmos o que escreveu José Manuel Fernandes no final do ano passado, então temos o retrato completo: “A primeira razão por que ocorrem fogos de grandes dimensões e consequências catastróficas é a existência de uma excessiva concentração de biomassa em manchas contínuas. Se não houver suficiente madeira acumulada e matos ressequidos, não há fogos. Quando, em contrapartida, existem manchas florestais contínuas de espécies altamente inflamáveis e nunca se limpam as matas, qualquer pequeno acidente ou descuido é suficiente para que, havendo uma ignição, o fogo progrida de forma galopante e incontrolável. (…) Ora o que sabemos é que, neste domínio, pouco se fez, e o que se fez não chega para produzir frutos. Primeiro porque, fora das áreas das florestas de produção geridas pelas empresas de celuloses, o ordenamento florestal é quase inexistente. Depois, porque as associações de produtores florestais – única forma de ultrapassar os problemas colocados por um mundo rural dominado pelo minifúndio – arrancaram de forma deficiente e, por atrasos no Proder, estão estranguladas financeiramente”.
Outra coisa que o nosso governante se esqueceu de dizer foi que o nosso Estado tem prestado pouca atenção à dispersão urbanística nos espaços florestais. Tal como diz a Quercus, “Portugal parece particularmente empenhado em destruir a sua própria floresta, autorizando diversos projectos de urbanização em áreas condicionadas, nomeadamente áreas de montado de sobro e azinho e florestas litorais”.
A tudo isto há a somar o falta de diálogo entre todos os intervenientes neste processo. A este propósito, Rosário Alves, directora executiva da Forestis, defende um “contrato social entre proprietários, indústria e Estado” para tornar a floresta mais ‘resiliente’.
Talvez fosse bom aproveitar este Ano Internacional das Florestas para pensar melhor o que temos andado a fazer com este nosso verdadeiro tesouro. Porque a este ritmo de destruição, um dia destes somos capazes de estar aqui a lamentar algo bem mais triste….