A tendência para a desactivação de linhas-férreas (acompanhada pela redução drástica do número de comboios a circular em muitas das que ainda se encontram activas) torna quase deprimente o cenário ferroviário do nosso país, onde a aposta, desde os finais da década de 1980, vai para a rodovia.
Claro está que a desactivação de muitas das linhas se ficou a dever à fraca procura por este meio de transporte (vejam-se os efeitos da construção da A23 na Linha da Beira Baixa), mas também a uma ruinosa estratégia da REFER, acompanhada de perto pelas estranhas visões da CP para este meio de transporte. E quem perdeu com tudo isto foram sobretudo as populações do Interior que, agora além de terem de pagar as SCUT, não têm alternativas válidas à rodovia.
Claro que a Sertã nunca viu passar os comboios e também não podemos dizer que a rodovia, que atravessa o concelho, seja de grande qualidade (basta citar os exemplos da EN238 e do próprio IC8 – há estradas municipais com melhor piso do que esta via), no entanto o que aqui está em jogo são as oportunidades que se perdem (ou perderam) para estas zonas do país e a sensação de que mesmo que os desejos de homens como Domingos Tasso de Figueiredo, José Nunes da Mata ou José Carlos Ehrhardt se tivessem concretizado, hoje a linha de comboio Sertã-Tomar seria apenas pasto de ervas e arbustos.
É curioso verificar, e isso está bem plasmado no livro «Ilustres Republicanos da Sertã» (da autoria de Marta Martins e Maria de Fátima Mata), o desejo que as populações sertaginenses sempre tiveram de que o comboio passasse por estas bandas. Aliás, o desejo já vinha do tempo da monarquia, mais precisamente de 1909, altura em que um grupo de cidadãos do concelho apresentou um pedido ao rei D. Manuel II, solicitando a realização de estudos para “uma via férrea”, que ligando Tomar à Covilhã, atravessasse a Sertã.
O projecto foi retomado nos primeiros alvores da República e chegou mesmo a ser aprovado pelo Senado. Contudo, Afonso Costa entendeu que eram necessários mais estudos e pediu que a proposta fosse chumbada pela Câmara dos Deputados. Assim aconteceu numa célebre sessão de 30 de Junho de 1913.
Os sertaginenses não desistiram e voltaram à carga. O Governo acendeu uma luz de esperança na década de 1930, quando aprovou a construção de um caminho-de-ferro, de via estreita, a que deu o nome de Linha da Sertã: partia do Douro dirigindo-se ao Sabugal, passando depois por Penamacor, Idanha-a-Nova, Castelo Branco e Sertã, seguindo para Oeste em direcção a Pombal. A construção não saiu do papel!