sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Concelho da Sertã vai passar a contar com 10 freguesias


A Assembleia Municipal da Sertã disse que não tinha ‘mandato’ para extinguir/agregar freguesias, no âmbito da reforma da administração local decretada pelo Governo, e colocou o ónus da decisão nas mãos da Unidade Técnica para a Reorganização Administrativa do Território (UTRAT). Esta unidade anunciou, na passada quarta-feira, a proposta do novo mapa administrativo do concelho da Sertã, que passa a contar com 10 freguesias ao contrário das actuais 14.
Mas antes de entrarmos na análise da proposta propriamente dita, façamos um exercício de memória relativamente ao comportamento da Assembleia Municipal da Sertã e dos seus deputados durante todo este processo.
Desde que foi conhecida a intenção do Governo em extinguir/agregar freguesias, plasmada no célebre Documento Verde, se percebeu que esta e outras assembleias municipais do país não estavam particularmente interessadas em discutir a matéria, nem tampouco em reflectir sobre se o actual mapa administrativo espelha o que são as novas dinâmicas demográficas e sócio-económicas do país.
Contudo, o primeiro sinal de alarme no concelho soou quando se percebeu que o município da Sertã poderia perder até seis freguesias com esta reforma. Os presidentes de junta vieram à praça pública dizer que não concordavam com os critérios utilizados pelo Governo (critérios esses bastante reducionistas, diga-se) e pediam uma revisão da proposta apresentada.
Passos Coelho fez-lhes a vontade e o documento seguinte foi mais ‘brando’ e com critérios bastante aceitáveis. Fazendo as contas, o concelho perderia entre duas a três freguesias, com a benesse de a decisão partir das assembleias municipais, que indicariam as freguesias a extinguir/agregar.
O presente era envenenado, diziam as assembleias municipais, que a partir daí utilizaram as suas sessões para discussões inócuas e sem sentido sobre o que era isto de agregar/extinguir freguesias e quais as consequências políticas que uma decisão deste género teria em futuros actos eleitorais. Porque, no fundo, foi isso que demoveu os cerca de dois terços de assembleias municipais de não apresentaram qualquer proposta de reforma do seu território administrativo.
Na Sertã, os deputados, com duas ou três honrosas excepções, assobiaram para o lado e não perceberam o que estava em jogo, nem sequer entenderam a oportunidade que se abria para discutir o mapa administrativo do nosso território, que é hoje tão desajustado face à realidade que temos no município.
A inacção dos nossos deputados foi revoltante. Talvez seja por isso que outros debates decisivos para o futuro da Sertã nunca se fizeram.
Sobre a proposta da UTRAT, o mínimo que se pode dizer é que a reforma do território se faz a regra e esquadro, sem atender sequer às características culturais e sócio-económicas do território. Por exemplo, agregar duas freguesias extremamente despovoadas como a Ermida e o Figueiredo é o mesmo que juntar dois pequenos problemas para acabar a transformá-lo num grande. Seria mais lícito que essa agregação se fizesse com uma freguesia dita mais forte como o Troviscal ou a Várzea dos Cavaleiros, como agora parece que tem sido sugerido (agora é que sugerem!?!?!?).
Por seu lado, a agregação das freguesias do Nesperal e de Palhais à de Cernache do Bonjardim parece ser mais acertada, ainda que deva merecer alguma atenção o facto de algumas das povoações da freguesia de Palhais estarem mais próximas da Cumeada do que propriamente de Cernache do Bonjardim.
Já sobre a agregação das freguesias de Marmeleiro e Cumeada, será curioso perceber como é que duas freguesias separadas por uma rivalidade com mais de dois séculos conviverão sob uma mesma unidade. Ainda assim, e olhando para o mapa do território e para os critérios que presidiram a esta reforma, parecia desde o início a agregação mais óbvia, como aliás surgia a agregação de duas freguesias, que há mais de cinco séculos têm estado unidas, ainda que separadas administrativamente – falamos de Pedrógão Pequeno e do Carvalhal. Quem se lembra dos limites do extinto concelho de Pedrógão Pequeno, que no próximo ano comemora os 500 anos da sua fundação?
Foi esta a discussão que ninguém teve coragem de fazer aqui na Sertã como na maior parte dos municípios vizinhos ou no resto do país.
O que agora se segue é aquilo que já tivemos oportunidade de ouvir na Rádio Condestável (saúde-se a acção desta rádio na tentativa de discutir o problema nestes últimos meses): os presidentes de junta e os nossos representantes autárquicos a criticarem a proposta e a dizer que tudo deveria ter sido feito de forma diferente. 
Contudo, o que está na proposta da UTRAT – e ficará para a posteridade – é esta frase lapidar: “A Assembleia Municipal da Sertã não se pronunciou nos termos do artigo 11.º da Lei n.º 22/2012”.