terça-feira, 6 de março de 2012

Turismo religioso em Cernache: reflexões e sugestões

A recente sessão da Assembleia Municipal realizada em Cernache do Bonjardim (saúde-se a descentralização destas reuniões) serviu de palco para levantar algumas questões prementes que marcam a vida desta freguesia. Uma delas foi a já tradicional intenção de transformar esta zona do concelho num importante ponto de turismo religioso centrado na figura de São Nuno de Santa Maria.
A ideia é antiga e até se falou na existência de um projecto que previa a construção de um santuário nas imediações do actual Seminário das Missões. Todavia, as intenções não passaram disso mesmo.
Apesar de não existirem certezas quanto ao local do seu nascimento, vários documentos que viram a luz do dia nos últimos anos permitem-nos reforçar a ideia de que Nuno Alvares Pereira poderá mesmo ter nascido em Cernache do Bonjardim, no ano de 1360.
Partindo deste pressuposto, faz todo o sentido fomentar o turismo religioso em torno da figura do Condestável, canonizado a 26 de Abril de 2009 e agora conhecido por São Nuno de Santa Maria. Contudo, é preciso lembrar que o que hoje existe em Cernache que nos ligue ao mais recente santo português é pouco. Apenas a memória e pouco mais.
Vem isto a propósito de um assunto que já aqui abordámos em tempos – a realização de escavações arqueológicas no local onde se supõe terem existido os Paços do Bonjardim, que o pai de Nuno Alvares Pereira mandou construir em pleno século XIV. Algumas fontes históricas dizem-nos que foi aqui que nasceu o Condestável e alguns dos seus irmãos. Fernão Lopes, na Crónica de D. João I, exaltou este local: “Os paços e assentamento do Boõ Jardim que he obra asaz vistosa e fermosa”.
Dos 'famosos' Paços do Bonjardim já nada resta. Em 1791, o almoxarife da Sertã, Cláudio de Meneses e Castro, num relatório enviado ao príncipe regente, escrevia a propósito deste local: “Junto a uma das fontes do Parque Bom Jardim, chamada das Hortas, se divisam ainda alguns vestígios dos antigos Paços, que ali edificou o primeiro que se intitulou Grão Prior do Crato, D. Álvaro Gonçalves Pereira, ilustríssimo progenitor do grande Condestável de Portugal, D. Nuno Alvares Pereira, que neste sítio nasceu em 24 de Junho do ano de 1360 e se educou até à idade de treze anos”.
Em meados do século passado, o antigo juiz conselheiro José Maria Bravo Serra defendeu, por várias vezes, a necessidade de serem executadas escavações no local, a fim de se descobrirem algumas ruínas soterradas, mas as suas sugestões nunca foram ouvidas.
Um trabalho do género só enriqueceria o futuro santuário, que passaria a contar com os hipotéticos achados arqueológicos. Seria mais um argumento para atrair visitantes, além daquele que é o mais óbvio – o culto a São Nuno de Santa Maria.
Não tenho dúvidas de que todos teriam a ganhar com isto.