quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Escavações arqueológicas nos Paços do Bonjardim

Fernão Lopes, na sua «Crónica de D. João I», diz que Álvaro Gonçalves Pereira “fez na horde muytas obras e boas cousas”, nomeadamente “os paços e assentamento do Boõ Jardim que he obra asaz vistosa e fermosa”. Álvaro Gonçalves Pereira era – como já decerto sabem – pai de Nuno Álvares Pereira e os Paços do Bom Jardim situavam-se nas imediações do actual Seminário das Missões, em Cernache do Bonjardim, tendo servido de berço do Condestável, agora convertido em São Nuno de Santa Maria. Refira-se que, em pleno século XIV, Cernache era apenas conhecida por Bonjardim.
Mas a que propósito vem tudo isto? Logo que a canonização de Nuno Álvares Pereira ganhou forma, começou a falar-se na possibilidade de ser construído um santuário no local onde nascera o novo santo português, ou seja, nos Paços do Bonjardim. Da primitiva construção nada resta, estando o local sinalizado com um pequeno monumento, onde se lê: “Local em que existiam os Paços do Bonjardim, solar da família de Nuno Alvares Pereira, que aqui nasceu em 24 de Junho de 1360” (ver foto).
Dos projectos para o santuário já falaram os órgãos de comunicação social do concelho (apesar de a vontade inicial em levar a cabo o empreendimento estar a esmorecer), mas do que não se falou foi da importância arqueológica de todo este lugar. Não seria de todo conveniente efectuar um levantamento arqueológico de todo o local onde se pensa terem existido os Paços do Bonjardim, buscando artefactos ou outro tipo de materiais que poderão ter pertencido a esse monumento tão “vistoso e fermoso”, como refere o célebre cronista Fernão Lopes?
Esse levantamento só enriqueceria o futuro santuário, que passaria a contar com os hipotéticos achados arqueológicos. Seria mais um argumento para atrair visitantes, além daquele que é o mais óbvio – o culto a São Nuno de Santa Maria.
A questão imediata é quanto poderia custar um trabalho deste género? Concerteza que não custaria tanto como algumas das festas que por aí se fazem e, além disso, existem formas de reduzir os custos – o estabelecimento de parcerias com universidades portuguesas, que tenham cursos de arqueologia, seria uma boa ideia. É que a maioria dos responsáveis por estes cursos organiza campos de férias para os seus alunos, em que são exploradas diferentes zonas do país em busca de mais um pedaço de histórica escondida pelas areias do tempo. Claro que este tipo de operações seriam supervisionadas por arqueólogos qualificados.


Não tenho dúvidas de que todos teriam a ganhar com isto, tal como todo o concelho ganhou quando, nos anos de 1995 e 1996, o arqueólogo Carlos Batata levou a cabo um conjunto de escavações arqueológicas que permitiram reescrever alguns dos episódios perdidos da história da Sertã e, ao mesmo tempo, desfazer mitos. Pena é que o trabalho não tenha tido sequência e que parte dos achados permaneçam escondidos e encaixotados numa qualquer cave deste país.