O nome dispensa qualquer tipo de apresentações, visto estarmos perante um dos maiores vultos do desporto sertaginense, e não só, dos últimos 50 anos. Quis o destino que Matiota nos deixasse hoje, aos 78 anos de idade.
Como futebolista espalhou magia pelos campos do nosso país e, como treinador, ensinou várias gerações de jogadores. João Matiota foi isto e muito mais, numa carreira recheada de êxitos, onde lhe ficou a faltar a passagem pelo escalão máximo do nosso futebol – ele próprio não escondeu esse desejo em algumas conversas.Apesar de ter nascido em Cabo Verde, foi em Coimbra que despontou para o desporto. Primeiro como nadador (várias alcunhas desses tempos são reveladoras das suas qualidade para a modalidade) e depois como jogador de futebol ao serviço do União de Coimbra, que militava na 2.ª Divisão Nacional.
O seu futebol deu logo nas vistas, tendo rumado duas épocas depois ao Marco, equipa que trocaria anos mais tarde pelo Salgueiros.
No final da década de 1950, o Viação de Sernache (hoje Vitória de Sernache) passou a contar nas suas fileiras com Matiota. Os anos seguintes foram de confirmação para o jogador, que ajudou este clube durante o período mais áureo da sua história (brilharetes no Distrital de Castelo Branco e na 3.ª Divisão nacional e consequente subida à 2.ª Divisão nacional).
Em 1962, o Viação de Sernache abandonou o futebol e Matiota ficou sem clube. Depois de alguns jogos ao serviço de equipas vizinhas, o jogador ressurgiu já no final desta década ao serviço dos Bombeiros Voluntários da Sertã (BVS).
No dealbar da década de 1970, o presidente do Sertanense, José da Cunha e Santos, apostou forte na entrada do clube nas competições oficiais de futebol. Matiota, Amâncio e Aníbal Pires foram, juntamente com aquele responsável directivo, os grandes obreiros da constituição da equipa, que aproveitou muitos dos jogadores da antiga equipa do BVS.
Matiota acumulava as funções de jogador com as de treinador. Nas contas finais da época de 1970/71, o Sertanense ficou na última posição da prova, somando apenas três pontos (uma vitória e um empate). Matiota participou em todos os oito jogos da equipa, tendo apontado um golo frente à formação do Minas da Panasqueira – o último golo da sua carreira.
Na época seguinte, ‘arrumou as botas’ e dedicou-se exclusivamente à carreira de treinador. Orientou o Sertanense nas épocas de 1971/72, 1972/73, 1975/76 (na primeira metade da época), 1977/78 (até às últimas jornadas do campeonato), 1981/82, 1982/83, 1983/84, 1984/85 (na parte final da temporada) e 1985/86. Neste período, passou ainda pelo comando técnico do Vitória de Sernache, Recreio Pedroguense, Troviscal e Castanheira de Pêra.
Foi também um dos responsáveis pela introdução do futebol jovem no Sertanense (em 1974, orientou a primeira equipa de juniores do clube e outras que se seguiram) e do futebol feminino (treinou a formação organizada em 1975).
Em 2006, a Direcção do Vitória de Sernache homenageou-o através de um torneio de futebol de sete, a que deu o seu nome (a competição tem decorrido anualmente), e em 2009, foi homenageado durante as comemorações dos 75 anos do Sertanense Futebol Clube.