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Como futebolista espalhou magia pelos campos do nosso país e, como treinador, ensinou várias gerações de jogadores. João Matiota foi isto e muito mais, numa carreira recheada de êxitos, onde lhe ficou a faltar a passagem pelo escalão máximo do nosso futebol – ele próprio não escondeu esse desejo em algumas conversas.Apesar de ter nascido em Cabo Verde, foi em Coimbra que despontou para o desporto. Primeiro como nadador (várias alcunhas desses tempos são reveladoras das suas qualidade para a modalidade) e depois como jogador de futebol ao serviço do União de Coimbra, que militava na 2.ª Divisão Nacional.
O seu futebol deu logo nas vistas, tendo rumado duas épocas depois ao Marco, equipa que trocaria anos mais tarde pelo Salgueiros.
No final da década de 1950, o Viação de Sernache (hoje Vitória de Sernache) passou a contar nas suas fileiras com Matiota. Os anos seguintes foram de confirmação para o jogador, que ajudou este clube durante o período mais áureo da sua história (brilharetes no Distrital de Castelo Branco e na 3.ª Divisão nacional e consequente subida à 2.ª Divisão nacional).
Em 1962, o Viação de Sernache abandonou o futebol e Matiota ficou sem clube. Depois de alguns jogos ao serviço de equipas vizinhas, o jogador ressurgiu já no final desta década ao serviço dos Bombeiros Voluntários da Sertã (BVS).
No dealbar da década de 1970, o presidente do Sertanense, José da Cunha e Santos, apostou forte na entrada do clube nas competições oficiais de futebol. Matiota, Amâncio e Aníbal Pires foram, juntamente com aquele responsável directivo, os grandes obreiros da constituição da equipa, que aproveitou muitos dos jogadores da antiga equipa do BVS.
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Matiota acumulava as funções de jogador com as de treinador. Nas contas finais da época de 1970/71, o Sertanense ficou na última posição da prova, somando apenas três pontos (uma vitória e um empate). Matiota participou em todos os oito jogos da equipa, tendo apontado um golo frente à formação do Minas da Panasqueira – o último golo da sua carreira.
Na época seguinte, ‘arrumou as botas’ e dedicou-se exclusivamente à carreira de treinador. Orientou o Sertanense nas épocas de 1971/72, 1972/73, 1975/76 (na primeira metade da época), 1977/78 (até às últimas jornadas do campeonato), 1981/82, 1982/83, 1983/84, 1984/85 (na parte final da temporada) e 1985/86. Neste período, passou ainda pelo comando técnico do Vitória de Sernache, Recreio Pedroguense, Troviscal e Castanheira de Pêra.
Foi também um dos responsáveis pela introdução do futebol jovem no Sertanense (em 1974, orientou a primeira equipa de juniores do clube e outras que se seguiram) e do futebol feminino (treinou a formação organizada em 1975).
Em 2006, a Direcção do Vitória de Sernache homenageou-o através de um torneio de futebol de sete, a que deu o seu nome (a competição tem decorrido anualmente), e em 2009, foi homenageado durante as comemorações dos 75 anos do Sertanense Futebol Clube.