quinta-feira, 31 de maio de 2012

Centro histórico da Sertã: o capítulo final?

O escritor Fernando Bartolomeu relatava, em 1874, que o centro histórico da Sertã possuía “casas toscamente construídas, muitas desmoronadas, e outras prestes a isso”. Quase 140 anos depois, o cenário não é muito diferente e tudo indica que, nas próximas décadas, o coração da vila sertaginense possa mesmo deixar de bater tal o estado de degradação e abandono em que se encontra.
O tema não é novo e, nos últimos anos, vários foram os momentos em que o assunto foi trazido a público, mais para encontrar responsáveis pela situação do que propriamente sinalizar soluções para o problema.
Começando pelos responsáveis: a lista é longa e, em abstracto, todos podemos incluir-nos nela, quanto mais não seja pelo nosso silêncio complacente. Depois temos os vários executivos autárquicos, actuais e passados, que falharam redondamente na definição e aplicação de políticas que pudessem inverter a agonia e abandono que se apoderaram do centro histórico. Os muitos proprietários da zona têm também a sua quota-parte de responsabilidade. Quantos deles deixaram que a sua propriedade imobiliária caísse aos poucos, na vã esperança de assim a valorizarem? Outros pediam rendas excessivas por imóveis que não justificavam esse tipo de valores. Outros ainda demitiram-se das suas funções de proprietário, ou porque a recuperação das casas (que lhes chegaram, na maior parte dos casos, por via de herança) é muito onerosa e sem grande viabilidade económica (é difícil convencer alguém a morar num local sem grande estacionamento ou que tem como vizinhos prédios em risco de derrocada) ou porque os seus interesses há muito estão longe da Sertã, olhando para estas residências como ‘aquelas casas velhas dos meus pais’.
Chegados aqui, convém perguntar o que podemos fazer para inverter este cenário? A resposta não é fácil, sobretudo se atendermos a que a Sertã ganhou novas dinâmicas noutras zonas da vila por contraponto com aquilo que se passou aqui. E o problema não é um exclusivo da Sertã. Uma visita às cidades de Lisboa e Porto devolve-nos o mesmo cenário que podemos observar por aqui.
Uma das soluções para esta zona poderá passar por olhar todo este território de uma forma integrada e não isolada, tal como sucedeu na cidade de Coimbra, que tem o seu centro histórico nas mesmas condições. A requalificação de toda esta zona é fundamental, mas para isso é necessário envolver proprietários, comerciantes, autarquia, associações e escolas, sentando-os à mesma mesa para discutir o problema e tentar encontrar soluções de compromisso. Não é trabalho fácil, aliás arrisco-me a dizer que, no actual contexto socioeconómico do concelho, não restará grande esperança ao centro histórico. Todavia não podemos deixar de acreditar que algo pode ser feito.
Depois de se ter deixado cair a Casa da Guimarães, e com ela um pedaço de história sertaginense, e de outros imóveis caminharem para o mesmo destino, seria importante estancar este problema. E penso que a saída da Junta de Freguesia da Sertã do centro histórico não ajudará muito ao actual estado de coisas.