
O segundo dia de Janeiro de 1937 era aguardado com grande interesse, em virtude do desafio de futebol agendado entre as formações do «Onze Unidos» da Sertã e da Casa do Povo de Sernache do Bonjardim.
Dias antes, estas duas equipas defrontaram-se em Cernache, com a vitória (3-2) a pertencer ao conjunto que jogava em casa. Agora, a partida era na Sertã.
Logo que o árbitro deu sinal para iniciar o desafio, que decorreu no Campo de Jogos do SFC, na Alameda da Carvalha, percebeu-se que o ambiente entre os adeptos dos dois lados estava bastante crispado.
As provocações surgiam de parte-a-parte e os jogadores, com algumas entradas mais violentas, incendiaram ainda mais os ânimos. O antigo sócio n.º 1 do Sertanense, José Serra (falecido em 2008), foi um dos que presenciou episódio: “A confusão começou junto das pessoas que estavam em frente à escadaria do Convento de Santo António. Começaram a trocar-se insultos entre pessoas da Sertã e de Cernache e não demorou muito até que se partisse para a violência”.
As agressões físicas entre adeptos geraram o pânico nalguns espectadores, enquanto outros incitavam aos confrontos, puxando de armas de fogo e disparando para o ar. A Guarda Nacional Republicana, que estava aquartelada bem perto, rapidamente interveio, evitando que aquelas cenas acabassem em desgraça. Várias cabeças partidas e alguns olhos negros terão sido o resultado deste inusitado recontro.
Nos dias seguintes, o assunto dominava as conversas nas ruas e nas tabernas e chegou mesmo a ser discutido numa sessão da Câmara Municipal da Sertã. O seu presidente, José Farinha Tavares, decretou que nos meses seguintes não se fizessem jogos entre equipas destas duas povoações. A resolução durou até Agosto, altura em que o «Onze Unidos» foi até Cernache defrontar o Atlético local.