A
antiga capela de Nossa Senhora da Estrela foi um dos monumentos mais simbólicos
do concelho, não tanto pela sua grandiosidade ou beleza, mas sobretudo pela sua
história e pela densa cortina de mistério em que ainda hoje se encontra
envolvida.
O
lugar onde estava localizada (Monte Minhoto) é já de si uma pista pouco
convencional, dada a singularidade do topónimo em zona tão central do país. O
Monte Minhoto ainda hoje existe na freguesia de Cernache do Bonjardim, não
muito distante de outro lugar também emblemático, a Várzea de Pedro Mouro.
Mas
voltemos à capela de Nossa Senhora da Estrela, cuja história remonta ao século
XII, altura em que os cavaleiros Templários terão ali erigido uma torre de
vigia para, conjuntamente com a de Dornes (situada não muito longe), controlar e
vigiar um dos principais eixos de comunicação da altura – o rio Zêzere. Os
Templários tinham o hábito de construir torres junto aos rios para melhor
fiscalizarem as suas águas. Aliás, há quem afiance que na actual povoação do
Castelo Velho (freguesia da Sertã) também terá existido uma dessas torres.
Não
se sabe o que aconteceu à torre do Monte Minhoto, todavia é hoje quase certo
que junto a ela foi construído um pequeno convento. Segundo notícias do século
XVII, eram visíveis naquela zona “huns alicerces de
casas antigas, & huma porta tapada de parede no corpo da Igreja”. O
convento não sobreviveu à impiedosa marcha do tempo, porém o mesmo não sucedeu
com a sua pequena igreja, em cujas fundações nasceu a capela de Nossa Senhora
da Estrela. Vários autores defendem que a capela foi construída devido ao
aparecimento de uma imagem de Nossa Senhora numa gruta situada junto ao local.
O frade Agostinho de
Santa Maria referiu-se demoradamente a esta ermida numa das suas obras, editada
em 1711. Escreveu que a ermida era “grande, com capella mayor, e dous Altares
collateraes”, nos quais eram veneradas as imagens de Santa Ana e de Santo
André. Além disso, a capela, que possuía “hum grande alpendre”, era de “muita
devoção” e nela “obraria a mão de Deos muytos prodigios, pela invocação de sua
Santissima May em aquella sua imagem da Senhora da Estrela”.
Inicialmente o
eremita (ou capelão), que ali rezava missa aos domingos e dias santos, era pago
pela Confraria de Santo André, contudo a partir de 1763, o Priorado do Crato
passou a assumir esse ónus. O primeiro capelão a desempenhar o lugar nessas
condições foi Manuel Jorge dos Santos. Durante o século XIX, a capela ruiu por
duas vezes, sendo prontamente restaurada. A partir de 1859, o templo deixou de
servir ao culto e foi abandonado. Nas suas imediações ainda foi instalada uma
unidade para cuidar dos leprosos, mas até essa não teve existência muito prolongada.
Quem hoje se aventurar na sinalização do local
onde estaria a capela e a dita torre não encontrará mais do que pedras soltas e
mato muito denso.