terça-feira, 20 de maio de 2014

Património desaparecido: Capela de Nossa Senhora da Estrela (Monte Minhoto)



A antiga capela de Nossa Senhora da Estrela foi um dos monumentos mais simbólicos do concelho, não tanto pela sua grandiosidade ou beleza, mas sobretudo pela sua história e pela densa cortina de mistério em que ainda hoje se encontra envolvida.
O lugar onde estava localizada (Monte Minhoto) é já de si uma pista pouco convencional, dada a singularidade do topónimo em zona tão central do país. O Monte Minhoto ainda hoje existe na freguesia de Cernache do Bonjardim, não muito distante de outro lugar também emblemático, a Várzea de Pedro Mouro.
Mas voltemos à capela de Nossa Senhora da Estrela, cuja história remonta ao século XII, altura em que os cavaleiros Templários terão ali erigido uma torre de vigia para, conjuntamente com a de Dornes (situada não muito longe), controlar e vigiar um dos principais eixos de comunicação da altura – o rio Zêzere. Os Templários tinham o hábito de construir torres junto aos rios para melhor fiscalizarem as suas águas. Aliás, há quem afiance que na actual povoação do Castelo Velho (freguesia da Sertã) também terá existido uma dessas torres.
Não se sabe o que aconteceu à torre do Monte Minhoto, todavia é hoje quase certo que junto a ela foi construído um pequeno convento. Segundo notícias do século XVII, eram visíveis naquela zona “huns alicerces de casas antigas, & huma porta tapada de parede no corpo da Igreja”. O convento não sobreviveu à impiedosa marcha do tempo, porém o mesmo não sucedeu com a sua pequena igreja, em cujas fundações nasceu a capela de Nossa Senhora da Estrela. Vários autores defendem que a capela foi construída devido ao aparecimento de uma imagem de Nossa Senhora numa gruta situada junto ao local.
O frade Agostinho de Santa Maria referiu-se demoradamente a esta ermida numa das suas obras, editada em 1711. Escreveu que a ermida era “grande, com capella mayor, e dous Altares collateraes”, nos quais eram veneradas as imagens de Santa Ana e de Santo André. Além disso, a capela, que possuía “hum grande alpendre”, era de “muita devoção” e nela “obraria a mão de Deos muytos prodigios, pela invocação de sua Santissima May em aquella sua imagem da Senhora da Estrela”.
Inicialmente o eremita (ou capelão), que ali rezava missa aos domingos e dias santos, era pago pela Confraria de Santo André, contudo a partir de 1763, o Priorado do Crato passou a assumir esse ónus. O primeiro capelão a desempenhar o lugar nessas condições foi Manuel Jorge dos Santos. Durante o século XIX, a capela ruiu por duas vezes, sendo prontamente restaurada. A partir de 1859, o templo deixou de servir ao culto e foi abandonado. Nas suas imediações ainda foi instalada uma unidade para cuidar dos leprosos, mas até essa não teve existência muito prolongada.
Quem hoje se aventurar na sinalização do local onde estaria a capela e a dita torre não encontrará mais do que pedras soltas e mato muito denso.