sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Orçamento de Estado com duas 'caras' para a Sertã

O concelho da Sertã não foi contemplado com qualquer verba no Programa de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central (PIDDAC) para 2010. Não é a primeira vez que isto sucede, mas o que é facto é que o Orçamento de Estado para este ano (OE’2010), apresentado na última terça-feira à noite, não consagra qualquer verba para a Sertã neste programa. Todavia, nem tudo são más notícias, isto porque, as transferências para o município sertaginense, no OE’2010, registaram um ligeiro aumento face ao último ano.
Talvez seja melhor irmos por partes. Concentremo-nos, em primeiro lugar, no PIDDAC. A não afectação de verbas para o concelho da Sertã já teve outros exemplos no passado, mas é de lamentar que assim suceda, sobretudo quando o distrito de Castelo Branco recebe, ao abrigo deste programa, 4.261.683 euros (só o concelho de Castelo Branco arrecada 3.297.329 euros). Os nossos concelhos vizinhos também não têm grandes motivos para festejos – Oleiros irá receber 50.000 euros, Vila de Rei 26.510 euros e Proença-a-Nova nem um tostão (Pedrógão Grande e Castanheira de Pêra tiveram a mesma sorte).
Apesar do PS se escudar no argumento de que determinados investimentos, que surgiam no PIDDAC, estarem agora noutros documentos (o que é verdade em parte, sobretudo em obras transversais a vários concelhos), não deixa de ser verdade o forte desinvestimento que se verificou neste programa relativamente a anos anteriores.
Quanto às transferências do Estado para os municípios, a Sertã viu o seu valor aumentar ligeiramente de 8.238.453 euros (OE’2009) para 8.650.376 euros (OE’2010). Esta última verba encontra-se assim distribuída no Orçamento de Estado: Fundo de Equilíbrio Financeiro Corrente (4.924.438 euros), Fundo de Equilíbrio Financeiro Capital (3.282.959 euros), Fundo Social Municipal (248.951 euros) e IRS (194.028 euros).

Nas transferências para as freguesias do município sertaginense também se registou um ligeiro aumento face ao ano passado: 589.435 euros contra 634.483 euros. Este valor ficou assim distribuído pelas diferentes freguesias – Cabeçudo (31.210 euros), Carvalhal (26.658), Castelo (41.636), Cernache do Bonjardim (88.807), Cumeada (34.363), Ermida (33.844), Figueiredo (26.805), Marmeleiro (34.743), Nesperal (26.653), Palhais (31.024), Pedrógão Pequeno (47.064), Sertã (111.658), Troviscal (54.914) e Várzea dos Cavaleiros (45.824).

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Sertã fora das 7 Maravilhas Naturais de Portugal

O concelho da Sertã está fora da corrida ao concurso «7 Maravilhas Naturais de Portugal». A lista de 323 candidaturas validada pela comissão organizadora (New 7 Wonders Portugal) não inclui qualquer património natural do município sertaginense.
Não sabemos se as entidades competentes apresentaram alguma candidatura a este concurso (desconfio que não!), mas penso que se gorou uma boa oportunidade para promover o património natural do nosso concelho, bastante rico por sinal. Basta referir o enorme tesouro que é o Vale do Cabril, ali junto a Pedrógão Pequeno.
Curiosamente, o município de Pedrógão Grande não desperdiçou a oportunidade e candidatou este mesmo vale, sobretudo a zona que está situada na sua margem, ao concurso das 7 Maravilhas Naturais de Portugal.
No que diz respeito aos outros concelhos da Zona do Pinhal, Proença-a-Nova candidatou as Portas do Vale do Almourão, ao passo que Vila de Rei apresentou a concurso a Serra da Melriça – Centro Geodésico de Portugal.
Os sete eleitos desta iniciativa serão conhecidos durante o próximo mês de Setembro.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

As Ruas da Sertã: Rua Cândido dos Reis

Onde fica? Está situada entre a Praça da República e a Avenida Gonçalo Rodrigues Caldeira. Apesar de todos a conhecerem por Rua do Vale (nome que a artéria já ostentava em pleno século XVI), o seu nome actual é Rua Cândido dos Reis

Quem foi? No ano em que se comemora o centenário da implantação da República, é da mais elementar justiça recordar o nome de Cândido dos Reis (mais conhecido por Almirante Reis), um dos organizadores militares da revolta de 5 de Outubro de 1910.
Carlos Cândido dos Reis nasceu na cidade de Lisboa, no dia 16 de Janeiro de 1852. Aos 17 anos, iniciou a sua carreira na Marinha, como voluntário, tendo ocupado nos anos seguintes as mais diversas posições na hierarquia militar: comandou canhoneiras, dirigiu a Escola de Marinheiros do Porto, a Escola de Torpedos Fixos e a 2.ª e 4.ª divisões do Corpo de Marinheiros. Foi ainda instrutor e professor da Escola Prática de Artilharia Naval.
Depois de aderir ao Partido Republicano Português, tornou-se membro da Carbonária – uma espécie de sociedade secreta e revolucionária liderada pelo grão-mestre Luz de Almeida e que incluía nomes como os de Machado Santos, António Maria da Silva ou António Granjo.
Em 1908, mais precisamente a 28 de Janeiro, o Almirante Reis envolveu-se no golpe que visava a detenção de João Franco, na altura chefe de Governo, e a consequente tomada do poder. O golpe fracassou, mas os objectivos permaneceram inabaláveis.
Não foi preciso esperar muito para que os revolucionários (que incluíam elementos afectos à Carbonária, Partido Republicano e Maçonaria) desenhassem o plano que na manhã do dia 5 de Outubro de 1910 colocaria um ponto final em mais de 750 anos de monarquia. Cândido dos Reis foi um dos estrategas do golpe e as palavras que proferiu, na véspera do 5 de Outubro, quando alguns oficiais sugeriram o adiamento do plano, ficaram célebres: “A Revolução não será adiada. Sigam-me se quiserem. Havendo um só que cumpra o seu dever, esse único serei eu”.
O resto é história: “Na madrugada de 5 de Outubro, em plena acção revolucionária, dirigiu-se aos Banhos de São Paulo para conferenciar com os companheiros. As notícias que corriam não eram boas, pois a maior parte das unidades militares comprometidas não tinham chegado a revoltar-se. Concluíram que o golpe falhara e decidiram fugir. Cândido dos Reis despediu-se e desapareceu nas ruas da cidade. Horas depois foi encontrado morto na zona de Arroios. Tinha-se suicidado”. Curiosamente, nos dias seguintes à sua morte, os jornais da época ainda apontaram para a hipótese de assassinato, mas a ausência de provas nesse sentido manteve a versão oficial de suicídio.
O seu funeral, realizado conjuntamente com o de Miguel Bombarda (morto a tiro dois dias antes da Revolução), atraiu milhares de pessoas à cidade de Lisboa. De todo o país, chegaram delegações que se propunham a prestar uma última homenagem ao Almirante Reis.
A vila da Sertã não ficou indiferente aos feitos deste herói republicano e a Comissão Municipal, criada logo após a implantação da República, decidiu alterar o nome da Rua do Vale para Rua Cândido dos Reis, numa reunião que teve lugar no dia 15 de Outubro de 1910. Neste mesmo dia, a até então Praça do Comércio foi também rebaptizada de Praça da República.

Fontes: História de Portugal (Joaquim Veríssimo Serrão), Plano de Leitura, História Política da Primeira República Portuguesa, Wikipédia, jornais O Século, A Lucta e O Mundo

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Turismo na Sertã: que futuro?

O fomento do potencial turístico do concelho da Sertã continua por fazer. A ausência de um verdadeiro roteiro turístico, que pudesse servir de guia a todos quantos querem descobrir as potencialidades do nosso concelho, a que se soma a crescente degradação de muitos dos locais de interesse a incluir nesse roteiro, deveriam ser motivo de preocupação de todos, sobretudo por estarmos a falar de um sector com um elevado nível de rentabilidade para a Sertã.
A recente notícia de que o Posto de Turismo poderá ficar instalado na escola da Carvalha (que deverá receber também a sede da junta de freguesia) merece o nosso aplauso, isto porque o edifício está extremamente bem localizado e é um ponto de passagem para muitas das pessoas que nos visitam e também para todos os sertaginenses (um público-alvo sempre esquecido nestas coisas).
Já a ideia da junta de freguesia da Sertã em produzir um roteiro turístico da freguesia é louvável, mas talvez fosse mais eficiente a elaboração de um roteiro de todo o concelho, até para que quem visitasse a vila ficasse consciente de que existe um mundo de descobertas à sua frente nas outras povoações do município. Mas é claro que aqui a iniciativa teria que partir da Câmara da Sertã [o programa eleitoral apresentado por José Nunes, nas últimas eleições, anunciava aliás a intenção de “criar um programa integrado de dinamização e promoção turística do concelho da Sertã”] e não da junta que se limita a fazer o seu trabalho de promoção da freguesia.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Mitos e lendas do concelho: O Mouro do Cabril

Jaime Lopes Dias, na sua «Etnografia da Beira», deu a conhecer esta estranha lenda já quase esquecida no nosso concelho. Aqui vai a transcrição:
“As escarpas e ravinas que pendem sobre o leito do rio Zêzere, entre Pedrógão Grande e Pedrógão Pequeno, são tantas e tais que a cultura só ali é possível e pequena escala e através de grandes dificuldades.
Entre a mole imensa de grandes penedos, entrecortada de precipícios e panoramas formosos, como poucos tem a Beira Baixa, vicejam espontaneamente grande número de árvores e pequenas hortas que emprestam à paisagem nota de cor, frescura e alegria.
Em certo tempo, bonita moça, filha de modestos trabalhadores, seguia todas as manhãs, mal o sol nascia, agulhas e linhas na cesta pendurada do braço para fazer sua renda, a guardar avantajada porca seguida de anafados leitões. Passava os dias descuidados a ver a renda crescer e os bacorinhos medrar; regressava a casa pelo pôr-do-sol a ajudar a mãe no arranjo da casa e preparo da ceia.
Uma tarde, ultrapassada em muito a hora costumada do regresso, os pais, aflitos pela injustificada demorada da filha, dirigiram-se à horta, percorrendo e tornando a percorrer inutilmente todos os caminhos e veredas. Por muito tempo andou inquieta a população, que, em peso, implorava a Deus e aos santos o aparecimento da donzela. Com certeza arte do demo ou malefício desconhecido enredara a pequena.
Um dia, encontrando-se a pobre mãe na labuta da vida, no granjeiro da horta, apareceu subitamente a seu lado um homem que lhe pedia para ir assistir a uma mulher que ali próximo se encontrava sem qualquer auxílio. Acedeu ela à solicitação que lhe era feita, e seguiu o sujeito.
Caminhando algum tempo por veredas e atalhos, em certa altura abriu-se no terreno (estranho mistério) um alçapão. Ele entrou primeiro e ela, receosa, hesitou. Logo ele a tranquilizou e convenceu de que nenhum mal lhe aconteceria. Desceu, efectivamente, e breve se encontrou em presença de um corredor e de um interior de palácio de maravilha onde nada faltava. A pobre mulher estava estonteada!
Assistiu à parturiente e preparou a criança, ao mesmo tempo que o desconhecido morador do palácio lhe dava um frasco para, com o líquido que continha, lavar os olhos ao menino; mas recomendando-lhe e tornando a recomendar-lhe que não lavasse os olhos dela, porque, se tal fizesse, ficaria cega.
Curiosidade de mulher, mirou e remirou o frasco, e pensou de si para si: «E se eu lavasse um dos meus olhos? Mesmo que cegasse dele, sempre ficaria a ver do outro!»
Se bem o pensou, melhor o fez. Vestida a criança, foi colocá-la ao lado da mãe e, supremo espanto, viu então, mercê do líquido com que lavara um dos olhos, que a mulher a que assistira era a sua própria filha! E disse-lhe:
- Tu és a minha filha?
- Ó minha mãe, cale-se! Se ele a conhece, é capaz de a matar! Vá-se embora e não volte, que será a minha perdição eterna.
A mulher, com o coração sabe Deus como, despediu-se para se ir embora! O homem, como paga, deu-lhe uma grande mão-cheia de carvões. Fraca mulher, só, e a braços com tamanhas surpresas, perturbada e confusa, pegou na oferta e, sem atender no que recebia, meteu-a na algibeira do avental e saiu.
Em pleno ar livre, procurando orientar-se, olhou e tornou a olhar para todos os lados, mas já não viu rasto da porta ou do alçapão por onde saíra! Aflita, fora de si e morta por desabafar e contar ao marido tudo o que se passara, dirigiu-se para casa.
Entretanto lembrou-se de meter a mão na algibeira para ver o presente. Vendo que se tratava de carvões, deitou-os fora. Ao chegar a casa, contou ao marido o que vira, e quando falou da paga que recebera, meteu a mão no bolso do avental para mostrar uns restos de carvão. Qual não foi o seu espanto quando, em seu lugar, encontrou pequenas partículas de ouro. Compreendeu então que deitara fora grande riqueza!
Ouvida a narração, o marido disse:
- Isso é coisa de mouras encantadas, e contra o encantamento nada podem as almas cristãs.
No entanto, logo partiram os dois à cata da entrada no palácio do mouro. Pois se ele ficava ali tão perto! Noites e dias, madrugadas e luscos-fuscos, passearam inutilmente todo o sítio. Nem palácio, nem mouro, se bem que algumas vezes lhes parecesse chegarem a seus ouvidos choros de criança!
Passou tempo!
Um dia a pobre mãe precisou de ir a uma feira. No meio do povo que vendia e comprava, reconheceu, mercê do olho lavado com o líquido, o mouro.
Dirigiu-se-lhe a dar a salvação, mas logo ele atalhou:
- Vossemecê conhece-me?
E, palavras não eram ditas, cegou-lhe o olho que ela lavara com o líquido, inibindo-a de poder continuar a perscrutar ou observar os seus segredos.Entre a gente do Castelo, é fama que a formosa pastorinha continua encantada entre os grandes rochedos do Cabril do Zêzere”.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Memórias: Escola do Adro


Não se trata propriamente de uma memória, mas o edifício da escola do Adro pode orgulhar-se de um passado cheio de recordações que se reparte por três séculos.
Durante o século XIX, este edifício serviu de hospital da vila. No século seguinte, foi transformado em escola primária e actualmente recebe o Julgado de Paz do Agrupamento de Concelhos de Oleiros, Mação, Proença-a-Nova, Sertã e Vila de Rei.
Foto: Olímpio Craveiro

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Povoações: Malpica (Sertã)

A povoação é conhecida sobretudo pela sua fonte, de onde brota água de excelente qualidade. Situada na freguesia da Sertã, não muito longe de um dos ramais de acesso do IC8, Malpica é terra de gente humilde e com cariz eminentemente rural.
Segundo vários documentos consultados, é de crer que a povoação seja recente, isto porque nas inquirições régias mais antigas não é mencionada a existência deste lugar. Só em pleno século XVIII é referida pela primeira vez, apesar dos registos dos primeiros povoamentos remontarem apenas a meados do século seguinte.
Este aparecimento tardio não impediu que o lugar crescesse de forma rápida. Em 1891, contavam-se 13 fogos, número que subiu para 16 em 1911. Neste mesmo ano, a população da Malpica já ascendia a 75 almas.
Dados publicados em 1930 dão conta de um aumento da população, para mais de 80 pessoas, e do número de fogos.
Estes números estabilizaram nos anos mais recentes. Todavia, hoje é possível verificar que várias casas têm sido construídas na Malpica – os seus ocupantes trabalham sobretudo na sede de concelho.
A fonte é o grande ex-libris, por assim dizer, da povoação. São muitos os que por aqui passam para saciar a sede ou mesmo abastecer os garrafões lá de casa. Não se sabe quando começou a fama desta fonte (os mais antigos dizem que esta água já era procurada nos primeiros anos do século XX), sabendo-se apenas que em 1966 a Câmara Municipal da Sertã ali instalou um fontanário, que ainda hoje se mantém.
Quanto à origem do nome, as informações são inexistentes. Ainda assim, arriscamos uma explicação com base naquela que foi dada para a povoação de Malpica do Tejo, no concelho de Castelo Branco: “Malpica (Mala mais Pica) é um nome ligado à configuração do terreno e orografia local, de proveniência espanhola”.

Bibliografia: Sertã e o seu Concelho, Certa Ennobrecida, Sernache do Bom Jardim – Traços Monográficos, Portugal Antigo e Moderno, Inquirições de D. Manuel