O primeiro-ministro Pedro Passos Coelho pede aos portugueses para que se habituem aos altos níveis de desemprego no nosso país (quanto a formas de inverter o cenário a única que se lhe conhece é a reforma laboral), ao passo que o secretário de Estado do Orçamento, Luís Morais Sarmento, diz que o que se está a passar no mercado de trabalho é “algo inesperado” (estranha declaração de um governante que ainda há meses dizia que era inevitável que o desemprego subisse). Tudo isto, no momento em que Portugal regista uma taxa de desemprego de 15,3 por cento, a mais alta desde que há registos estatísticos deste índice no nosso país.
O problema do desemprego é hoje dramático e parece estar a “tirar o sono” a Miguel Relvas, ministro dos Assuntos Parlamentares, que já veio dizer que “este caminho de reformas que estamos a seguir é um caminho que nos vai poder permitir que em 2013 e 2014 seja possível reduzir, numa primeira fase ainda de uma forma mais tímida, mas numa segunda fase de forma mais acelerada, o desemprego”.
Apesar das boas intenções dos nossos governantes, convém lembrar o que a jornalista Helena Garrido escreveu recentemente no Jornal de Negócios: “O problema do país não é o que o Governo está a fazer. O problema está no que não está fazer”. Para, em seguida, acrescentar: “Dez meses passados com este Governo, as únicas medidas visíveis são as que reduziram salários, aumentaram o tempo de trabalho, facilitaram o despedimento e agravaram impostos. Tinha de ser feito, sem dúvida. Mas onde estão as medidas que também deviam ter sido tomadas? O que não foi feito nas parecerias público-privadas, na energia e nos impostos será o grande travão a esse país de prosperidade que o Governo vê nas suas previsões”.
Claro que a solução não está só no Terreiro do Paço, as empresas têm aqui um papel fundamental, como dizia há tempos o espanhol Antonio Argandonã, um dos maiores especialistas mundiais em ética empresarial: “Não coloco a minha esperança nos governantes, mas nas empresas. São estas que criam emprego, devolvem a confiança aos trabalhadores, abrem novos mercados, inovam e criam oportunidades. Aos governantes devemos pedir que sejam sensíveis às necessidades dos cidadãos e facilitem as mudanças necessárias nas instituições, nas regulações e nas leis”.
E no concelho da Sertã, como é que estão os níveis de desemprego? De acordo com os últimos dados do IEFP (Março de 2012), o número de desempregados no concelho era de 733 indivíduos, um valor muito preocupante e que só não é superior porque muitos dos actuais desempregados optaram por emigrar à procura de soluções para o seu problema (um expediente que, infelizmente, é muito recorrente por estas paragens). De notar que dos 733 desempregados, 242 estão nesta situação há mais de um ano.
Mas quem são estes desempregados? A maioria é do sexo feminino (467), sendo que o grupo etário mais afectado por este drama é o que se situa, à semelhança do que vem sucedendo em anos anteriores, no intervalo entre os 35 e 54 anos (325 indivíduos). Ao nível da escolaridade, os desempregados com o secundário concluído são em maior número (236), seguindo-se os que contam com o 3.º ciclo do ensino básico (200). Uma nota de destaque para os 63 licenciados no desemprego.
Já aqui dissemos, no final do ano passado, que este é um problema poucas vezes discutido na nossa região, entretida com outras matérias de duvidosa pertinência. A solução, como é bom de ver, não está nos políticos nem nas autarquias. Contudo, a eles cabe uma tarefa fundamental nestes tempos: criar um ambiente favorável ao investimento sustentado e desburocratizar procedimentos. Mais do que nunca, é chegada a hora de olhar de frente estes problemas e identificar aquilo que poderão ser as oportunidades de investimento que uma região como a nossa tem para oferecer.
Se não houver respostas, arriscamo-nos a ter de fazer esta pergunta a nós próprios – o que esperamos que a Sertã seja daqui a 25 anos: Um concelho totalmente despovoado (para lá caminhamos a passos largos) ou um município dinâmico e sustentado?