O despovoamento é um dos problemas mais graves com que se depara o concelho da Sertã. Já aqui por várias vezes falamos do tema e fizemos eco dos vários estudos que dão conta deste cenário. O último deles, «Dinâmicas Populacionais e Projecções Demográficas da Sertã», revela que o nosso concelho poderá perder, até 2026, cerca de 12 por cento da sua população (1.845 habitantes).
O presidente da Câmara da Sertã, José Paulo Farinha, desdramatizou, em entrevista recente, este cenário. “Embora reconhecendo que o futuro seja cada vez mais incerto e que inverter a tendência de despovoamento de um concelho seja um trabalho continuado, de longo fôlego, estou convicto que esta hipótese não se verificará”.
No entanto, hoje voltamos a insistir no tema, porque há dados novos que podemos introduzir no debate.
Fernanda Cravidão, especialista em Geografia Humana e professora catedrática da Universidade de Coimbra, deu uma entrevista há cerca de uma semana, onde coloca o dedo na ferida e traça o retrato do que se passa hoje em matéria de despovoamento, sobretudo no Interior.
A especialista constata que a Sertã caminha para um envelhecimento, cada vez mais acentuado, da sua população, a que se soma uma fuga dos mais jovens para outras paragens. Fernanda Cravidão dá também conta de um fenómeno que se verifica há já algum tempo: “há um aumento da população na sede do concelho devido ao efeito de sucção das áreas à volta”.
Se olharmos para o estudo que há pouco citámos, podemos perceber que, nos próximos anos, apenas duas freguesias do concelho deverão ganhar população: Sertã e Cabeçudo.
Sobre as causas do despovoamento, a professora é pragmática: “As causas do despovoamento são remotas. Dificilmente um país de reduzidas dimensões e fracos recursos passaria incólume por uma vaga de emigração para a Europa e uma guerra colonial, a que se sobrepôs uma mobilidade para o Litoral, nos anos 60, que ainda não parou”.
As soluções para o problema não são fáceis mas, ainda assim, Fernanda Cravidão faz a sua tentativa. “A solução passa por olhar para o Interior de outra forma, tirando partido daquilo que temos. (….) Aquele discurso de povoar o interior, subsídios para casais e coisas desse tipo, é tudo muito bem intencionado, mas não resulta. A mobilidade do Interior para o Litoral é desde sempre. Esse é um discurso perdido”, sublinha.
Além disso, “tentar levar para lá a população que saiu é contra-natura”, nota, referindo-se ao desenvolvimento de uma sociedade industrializada, consumista e globalizada, que não está disposta a abdicar de um modo de vida onde tudo é de acesso fácil.
Para esta especialista, “o mundo rural deve ser encarado de outra forma, como espaço de lazer, turismo de cargas brandas e agricultura biológica”, exemplificou, defendendo que as crianças devem ser levadas das escolas das cidades para saberem o que é um pinheiro e como se cultivam as batatas.
Apesar de não concordar com algumas das opiniões manifestadas por esta especialista, sobretudo no parágrafo anterior, este é um debate que urge fazer, até porque a viabilidade de concelhos como o da Sertã passa sobretudo pela resolução, ou atenuação, deste tipo de problemas.