terça-feira, 29 de março de 2011

Presidente da Câmara da Sertã falou sobre o seu mandato

O presidente da Câmara Municipal da Sertã concedeu uma entrevista à Rádio Beira Interior (depois publicada nas páginas do jornal Povo da Beira), onde fez um “balanço francamente positivo” do seu mandato e mostrou-se disponível para continuar na autarquia depois de 2013, isto claro se os eleitores depositarem novamente a confiança no seu partido.
A entrevista abordou alguns dos temas mais sensíveis do momento (com excepção para a educação e saúde) e provocou algumas revelações surpreendentes por parte de José Nunes.
Depois de fazer um balanço positivo, o autarca lamentou a conjuntura difícil na altura em que tomou posse e disse ter sido “uma surpresa desagradável porque estávamos convencidos que íamos fazer um trabalho mais abrangente, mas com a diminuição da receita, em cerca de um milhão de euros, o nosso trabalho foi condicionado”.
O edil sertaginense referiu, em seguida, que alguns dos projectos previstos (não referiu quais) iriam ficar, para já, “sem concretização”, uma vez que as candidaturas a fundos “não seriam aceites”. José Nunes disse que a aposta iria estar centrada nas zonas industriais da Sertã e de Cernache, “numa tentativa de consolidação e criação de empregos”.
O mercado imobiliário sertaginense mereceu algumas palavras, com o presidente da Câmara a informar que “tudo o que foi construído foi vendido”, além de que “todas as moradias em construção estão já vendidas”. Não deixa de surpreender este bom momento do mercado imobiliário sertaginense, em claro contraciclo com o que se passa no resto do país.
Revelando que “temos muitos pedidos para implementação de empresas no concelho”, José Nunes congratulou-se com esses pedidos “numa altura em que tanto se fala de crise”.
O turismo será uma das apostas deste executivo e a sua concretização deverá passar por uma requalificação da zona histórica da vila (ainda pouco se sabe do projecto que se diz estar em preparação na autarquia), pela aposta na gastronomia (será organizada, em Junho, a primeira edição da Feira da Gastronomia) e por algumas requalificações em zonas estratégicas da vila da Sertã.
O problema da falta de quartos no concelho (é um facto, mas parece haver quem se esqueça que o concelho dispõe de um hotel em Pedrógão Pequeno, de uma residencial na Sertã e de algumas casas de turismo de habitação) foi igualmente abordado, com o edil a anunciar que estão “em andamento” três ou quatro projectos, destacando a construção de um hotel de quatro estrelas no antigo Convento de Santo António.
Questionado sobre uma eventual recandidatura, José Nunes parece decidido a avançar: “Se tivesse que decidir hoje diria que estava disponível para um novo mandato”.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Património esquecido: Ponte ‘romana’ de Palhais

É uma ponte que liga as povoações de Palhais (Sertã) e de Vilar Ruivo (Vila de Rei) e que começou a ser construída no ano de 1889. A sua história é marcada pela perseverança das populações dos dois lugares, que num esforço sem precedentes tentaram convencer as autoridades para a necessidade de se construir uma ponte que ligasse as duas margens.
Como a resposta não chegou, as populações colocaram mãos à obra e iniciaram a construção desta ponte de ‘estilo romano’, que ficou concluída em finais do século XIX.
Com a nova ponte de três arcos em volta perfeita, os habitantes dos dois lugares ficaram mais próximos e as trocas entre os dois concelhos aumentaram.
Recentemente, a ponte foi alvo de recuperação, tendo sido aberta uma estrada do lado de Palhais, o que permite um melhor acesso a todos os que a queiram visitar.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Guerra do ultramar: Lembrar os sertaginenses 50 anos depois

Há cerca de dois anos, lembrámos aqui os sertaginenses que ‘pagaram’ com a vida a sua participação na guerra do ultramar. Num ano, em que se comemoram os 50 anos do início desta ofensiva militar, voltamos ao assunto.
Quase sempre nos habituámos a tratar como factos históricos episódios que a todos, directa ou indirectamente, nos dizem muito. E a guerra colonial é um deles. Foram muitos os naturais do nosso concelho que tomaram parte nesta ofensiva e cujos feitos foram esquecidos.
Em homenagem aos 31 sertaginenses que pereceram nessa guerra, deixamos hoje aqui os seus nomes. Prometemos, em breve, dar a conhecer também o nome de todos os outros que regressaram com vida do teatro de guerra.
Aqui vai a lista dos que faleceram: Adelino Duarte (natural do Carvalhal), Albino Farinha (Mosteiro de São Tiago), Albino Simão (Troviscainho), Alfredo Marques (Santa Rita – Castelo), António Farinha (Relvas – Ermida), António Marçal (Palhais), António Alves (Outeirinho – Várzea dos Cavaleiros), Carlos Marques (Castelo), Clementino António (Ladeirinha – Figueiredo), Daniel dos Santos (Chão das Macieiras – Cernache do Bonjardim), Eduardo Alves (Ermida), Eduardo Cartaxo (Sertã), Fernando Silva (Várzea dos Cavaleiros), Fernando Cotrim (Orgueira – Palhais), Fernando Martins (Tojal – Cabeçudo), Joaquim Gonçalves (Cernache do Bonjardim), Joaquim Ramos (Moinho da Rola – Sertã), José Mendes (Cernache do Bonjardim), José Martins (Pedrógão Pequeno), José Marques (Mourisco), José Nunes (Cernache do Bonjardim), José Rodrigues (Mourisco), José Martins (Várzea dos Cavaleiros), José Pereira (Castanheira Grande – Cumeada), Libânio Pires (Troviscal), Manuel Mendes (Tapada), Manuel de Jesus (Santinha – Figueiredo), Manuel Dias (Entre-a-Serra – Várzea dos Cavaleiros), Olímpio Santos (Cernache do Bonjardim), Pedro Matos Neves (Sertã), Rogério Fernandes e Silva (Pombas – Sertã).

quarta-feira, 9 de março de 2011

Memórias: Campo Nun’Álvares


Primeiro foi o Campo de Jogos da Casa do Povo de Sernache do Bonjardim e depois o ‘mítico’ Campo Nun’Álvares. É a este último que dedicaremos as nossas memórias de hoje.
O campo de futebol, que se localizava no local onde hoje está o pavilhão desportivo de Cernache, assistiu a muitas tardes de glória do Viação e, mais tarde, do Vitória de Sernache.
O Viação de Sernache (que alterou a sua designação na década de 1970 para Vitória) viveu neste campo a euforia de várias subidas de divisão, nomeadamente aquela que conduziu o clube à 2.ª Divisão Nacional, nos inícios da década de 1960. Foi uma época (1961/62) para recordar e os mais velhos ainda se lembram de ali se deslocarem para ver jogar equipas como o Boavista, Sporting de Braga ou Oliveirense.
A foto que aqui reproduzimos é de um desafio, no Campo Nun’Álvares, entre o Viação de Sernache e o Desportivo da Sertã, um clube com existência efémera e que apenas se dedicou ao futebol.

sexta-feira, 4 de março de 2011

As ruas da Sertã: Avenida Ângelo Henriques Vidigal

Onde fica? artéria que dá acesso ao mercado municipal

Quem foi? De uma ou de outra forma, já todos devem ter ouvido este nome: Ângelo Henriques Vidigal. O concelho da Sertã tem para com ele uma dívida de gratidão pelos serviços que prestou, tanto como médico, professor ou simplesmente como dinamizador cultural e desportivo em várias colectividades.
Ângelo Henriques Vidigal nasceu em Pedrógão Pequeno, no dia 13 de Junho de 1893, sendo filho de Joaquim Henriques Vidigal e de Maria Ângela da Conceição Vidigal. Fez a instrução primária nesta vila e estudou medicina em Lisboa, onde se formou na Faculdade de Medicina, em 1920.
Regressou à sua terra e Abílio Marçal, na altura director do Instituto das Missões Coloniais, em Cernache do Bonjardim, convidou-o para leccionar no liceu nacional, que estava anexo àquele instituto.
Cinco anos depois, em 1925, vários cidadãos proeminentes da Sertã tentaram convence-lo a ocupar a vaga que José Carlos Ehrardt iria deixar no partido médico da vila. Resistiu a aceitar, num primeiro momento, mas o Pe. Francisco dos Santos e Silva (seu grande amigo e padrinho de casamento) conseguiu demove-lo da sua recusa. A 30 de Março de 1925 tomou posse do cargo de forma interina, subindo a efectivo no dia 13 de Junho do mesmo ano.
Em 21 de Agosto de 1940, foi nomeado subdelegado de saúde do concelho, substituindo Gualdim de Queirós e Melo.
O seu trabalho como médico era por todos reconhecido e isso ficou bem patente em vários artigos publicados no jornal «A Comarca da Sertã», após a sua morte. Por exemplo, José Barata Correia escrevia: “Era um homem singular, um médico de eleição e um homem bom”, acrescentando: “Ângelo Vidigal era um homem cheio de actividade para quem não era suficiente a canseira quase permanente de um médico de província, sem horas para as refeições, calcorreando montes e vales e estradas péssimas para fazer um parto ou para acudir a todos os aflitos que o chamavam em busca de consolo e alívio para os seus males”.
Dele se dizia, que “servia o pobre e o rico com igual carinho, o mesmo fervor e isenção. Nunca registou nem fez assentos dos serviços prestados. Não apresentou contas a ninguém”.
Contam-se várias histórias da sua nobreza e disponibilidade enquanto homem. João Lopes Ferreira, que assinou durante muitos anos várias crónicas n’«A Comarca da Sertã», contava certo dia: “Por motivo de saúde, fui levado por minha mãe até ao seu consultório, e ali, depois do diagnóstico feito, e de ter ganho uma lembrança para não chorar, minha genitora, faz aquela pergunta de praxe: Então senhor doutor Ângelo quanto é que lhe devo? Eu que ainda não tinha meia dúzia de anos estava de lado mirando aquela figura simpática de faces rosadas, pesando mais de cem quilos, quando com os olhitos meio espantados, ouvi aquela voz suave como uma melodia dizer: «Tu és doida Maria, guarda o dinheiro para comprares pão para os teus filhos». Minha mãe ficou meia estática e sem jeito, agradeceu-lhe comovida, e aquele projecto de gente que se agarrava às suas saias, jamais esqueceu tão nobre gesto”.
As suas simpatias políticas iam directamente para o ideário republicano (por clara influência de seu pai – um dos ilustres republicanos do concelho) e mais tarde ficou a saber-se que era “anti-salazarista” (algo que escondeu toda a sua vida, ainda para mais porque ocupava o cargo de subdelegado de saúde).
Mas o seu nome não ficou apenas ligado à medicina. Foi ainda presidente da Assembleia-Geral do Sertanense ininterruptamente entre 1936 e 1956; liderou a direcção do Clube da Sertã em várias ocasiões e foi um dos fundadores do jornal «A Comarca da Sertã».
Casou com D. Maria Amélia, sua prima, nascida no Brasil.
Faleceu em 1957, mais precisamente no dia 20 de Novembro. Encontra-se sepultado em Pedrógão Pequeno.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A Sertã e o desemprego

O desemprego está novamente a crescer no concelho, depois de um abrandamento verificado nos últimos meses de 2010. Segundo dados disponibilizados pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), no seu sítio de Internet, a Sertã registava 583 desempregados, no passado mês de Janeiro, um número superior aos 553 de Dezembro de 2010.
Olhando para as estatísticas, é possível concluir que a curva descendente do desemprego inverteu-se no último mês de 2010. Depois de a Sertã ter chegado a contar com 647 desempregados, em Agosto de 2010, este número começou a baixar nos meses de Setembro (620), Outubro (608) e Novembro (542), voltando a subir em Dezembro (553) e em Janeiro de 2011 (583).
Estes são dados bastante preocupantes, ainda para mais se tivermos em atenção que a população activa do concelho não deverá ultrapassar em muito as seis mil pessoas (de acordo com algumas fontes estatísticas, que carecem de revisão).
Como já aqui dissemos, o problema do desemprego é um dos mais sensíveis para as gentes do nosso concelho e a falta de emprego um dos motivos para que parte da população, sobretudo os mais jovens, rume a outras paragens, despovoando a Sertã – a curiosidade é enorme para saber os resultados demográficos dos Censos que se realizarão este ano.
Um dado importante a reter é a baixa qualificação da população existente (a Sertã, à semelhança de boa parte dos concelhos do Interior, não consegue fixar população qualificada nem tampouco dá resposta aos qualificados que por aqui querem ficar), o que, de certo modo, limita o universo de empresas que poderão investir por estas paragens, algo que aliás nem sequer se tem visto nestes últimos tempos (com algumas honrosas excepções).
Para perceber melhor tudo isto, recuemos até 2004, altura em que o anterior executivo socialista lançou a Agenda 21 Local do município da Sertã [um verdadeiro oásis que não encontrou sequência], que alertava para “as poucas oportunidades de emprego” no concelho, para a “incerteza de manutenção e sobrevivência de micro, pequenas e médias empresas ligadas ao sector florestal, em consequência dos incêndios” e para a “pouca competitividade da actividade agrícola local” devido ao seu carácter minifundiário. O mesmo documento chamava ainda a atenção para o “fraco associativismo por parte dos agricultores” e para a “reduzida actividade industrial”.

O impasse que se tem verificado no alargamento das zonas industriais da Sertã e de Cernache pode explicar muita coisa, mas é preciso fazer algo mais para tornar o concelho competitivo e mais atractivo para os empresários. E como já se percebeu não são as ‘feiras’ (que mais não são do que desculpas para mais uma ‘festarola’ e não mostram grande capacidade de atrair investimento) nem as declarações de circunstância, sempre que os meios de comunicação nacionais nos visitam, que mudarão o actual cenário. Exige-se uma atitude diferente e um pensamento estratégico para esta questão, sob pena de a Sertã poder transformar-se, daqui a 40 anos, num enorme asilo (sem querer ofender os mais idosos) e num concelho sem futuro.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Jornais antigos: Voz do Povo

Divulgar “a propaganda republicana” e difundir “os princípios liberais”. Estes eram os grandes objectivos da Comissão Municipal Republicana (aqui baptizada de Empreza de Propaganda Liberal) para o jornal «Voz do Povo», criado no seu seio em 4 de Dezembro de 1910. A nova publicação, que durou até 30 de Novembro de 1913, tinha como administrador Zeferino Lucas, director António Augusto Rodrigues e editor Luís Domingues da Silva Dias.
O forte cunho republicano deste jornal fez-se notar ao longo das suas 157 edições, sendo certo que os seus responsáveis visavam, em primeiro lugar, o “bem da nossa terra”. No segundo número da «Voz do Povo», podia ler-se: “Apenas advogamos a necessidade d’uma leal conjuncção de esforços no sentido de elevarmos esta terra ao maior gráo de progresso que seja compatível com a sua situação, e de fazer frente – com probabilidades de victoria – a qualquer assalto que aos seus justificados direitos porventura seja dirigido”.
Esta publicação foi bastante influente no concelho e nela foram dadas a conhecer diversas matérias, até aqui, ignoradas pelos seus leitores. A vida política, social e cultural tinha um papel importante no jornal, que não esquecia também os artigos de opinião assinados por alguns dos ilustres cidadãos da época.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A floresta e a pouca atenção que lhe tem sido devotada

As Nações Unidades declararam 2011 como o Ano Internacional das Florestas. E para assinalar estas comemorações nada melhor do que reflectir um pouco sobre o estado das florestas aqui em Portugal.
Para ponto de partida, nada melhor do que relermos o artigo de opinião (publicado no jornal Público de 2 de Fevereiro) assinado por Rui de Sousa Barreiro, secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural. Diz o nosso governante que a floresta ocupa mais de 3,4 milhões de hectares do território nacional, o que representa uma taxa de arborização de cerca de 39 por cento do território. O pinheiro bravo, o sobreiro e o eucalipto ocupam, no seu conjunto, quase 75 por cento da área de floresta. E esta vasta área está na base de “um sector da economia competitivo e dinâmico que representa cerca de três por cento do PIB nacional e assegura mais de 260 mil postos de trabalho directos e indirectos”.
O secretário de Estado elenca ainda tudo o que este Governo tem feito pela nossa floresta: as Zonas de Intervenção Florestal (que abrangem uma área de 670 mil hectares); a certificação florestal (o Governo acredita que, em 2013, pode ter 500 mil hectares de área florestal certificada) e o reforço do Fundo Florestal Permanente.
Quem ler o artigo pensará que o estado das nossas florestas é idílico e que o Governo tem feito um trabalho de se lhe tirar o chapéu. O problema é que o artigo do nosso governante não conta toda a história, ou melhor, conta apenas o lado bom da história.
E qual é o outro lado? Talvez seja bom começar por lembrar a Rui de Sousa Barreiro que, entre 1999 e 2010, a área ardida no nosso país foi de cerca de 1.696.390 hectares (fonte: ANF), e que as suas tão ‘queridas’ Zonas de Intervenção Florestal tardam em ter execução prática no terreno.
É fácil dizer que o nosso país tem todas as condições para ver na floresta um sector decisivo para o futuro da sua economia, o grande problema é que Governo, proprietários e Indústria pouco ou nada têm feito para preservar este nosso precioso bem, que é responsável por sequestrar anualmente mais de 289 milhões de toneladas de dióxido de carbono.
E se dúvidas existissem, basta lembrar o que disse recentemente a Quercus: “A falta de conservação da floresta portuguesa tem sido a grande falha no combate aos incêndios dos últimos anos”. Se a isto juntarmos o que escreveu José Manuel Fernandes no final do ano passado, então temos o retrato completo: “A primeira razão por que ocorrem fogos de grandes dimensões e consequências catastróficas é a existência de uma excessiva concentração de biomassa em manchas contínuas. Se não houver suficiente madeira acumulada e matos ressequidos, não há fogos. Quando, em contrapartida, existem manchas florestais contínuas de espécies altamente inflamáveis e nunca se limpam as matas, qualquer pequeno acidente ou descuido é suficiente para que, havendo uma ignição, o fogo progrida de forma galopante e incontrolável. (…) Ora o que sabemos é que, neste domínio, pouco se fez, e o que se fez não chega para produzir frutos. Primeiro porque, fora das áreas das florestas de produção geridas pelas empresas de celuloses, o ordenamento florestal é quase inexistente. Depois, porque as associações de produtores florestais – única forma de ultrapassar os problemas colocados por um mundo rural dominado pelo minifúndio – arrancaram de forma deficiente e, por atrasos no Proder, estão estranguladas financeiramente”.
Outra coisa que o nosso governante se esqueceu de dizer foi que o nosso Estado tem prestado pouca atenção à dispersão urbanística nos espaços florestais. Tal como diz a Quercus, “Portugal parece particularmente empenhado em destruir a sua própria floresta, autorizando diversos projectos de urbanização em áreas condicionadas, nomeadamente áreas de montado de sobro e azinho e florestas litorais”.
A tudo isto há a somar o falta de diálogo entre todos os intervenientes neste processo. A este propósito, Rosário Alves, directora executiva da Forestis, defende um “contrato social entre proprietários, indústria e Estado” para tornar a floresta mais ‘resiliente’.
Talvez fosse bom aproveitar este Ano Internacional das Florestas para pensar melhor o que temos andado a fazer com este nosso verdadeiro tesouro. Porque a este ritmo de destruição, um dia destes somos capazes de estar aqui a lamentar algo bem mais triste….

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A tragédia que nos deu a conhecer a família Sertã

A recente tragédia no Brasil, onde violentas cheias provocaram mais de 800 mortos na região serrana do estado do Rio de Janeiro, trouxe ao nosso encontro uma conhecida família brasileira, cujas origens remontam ao século XIX e mais precisamente ao concelho da Sertã.
Para contar a história é preciso ir até ao município de Nova Friburgo, um dos mais atingidos pelas cheias e cujo hospital nos chamou a atenção devido ao seu sugestivo nome – Raul Sertã. Colocada a investigação em campo, foi possível apurar que este ilustre cidadão da cidade é descendente de um dos muitos sertaginenses que emigraram para o Brasil no século XIX.
Este emigrante, que dava pelo nome de António Lopes Sertã (pensamos que o apelido foi adoptado em jeito de homenagem à sua vila natal), nasceu em 1851, na Sertã, e emigrou ainda muito jovem para terras de Vera Cruz.
Sabemos que quando chegou ao Brasil trabalhou como mascate (uma espécie de vendedor ambulante) e que vinha periodicamente a Nova Friburgo (colonizada, no início do século XIX, por 261 famílias suíças, que baptizaram o lugar com o nome da cidade de onde provinha a maioria). Aí se apaixonou por Elisa Ferreira e com ela teve seis filhos (Licínio, Mário, Raul, Alfredo, Aníbal, António e Hilda – os dois últimos morreram antes de completarem 22 anos de idade).
António Lopes Sertã faleceu aos 46 anos, numa altura em que já acumulara grande fortuna, sobretudo devido à empresa de comércio do sogro, o conhecido Joaquim Tomé Ferreira (também ele emigrante português).
Após a morte do marido, Elisa Ferreira Sertã continuou os negócios e foi uma das fundadoras da Caixa Rural, o primeiro banco de Nova Friburgo (quando faleceu, o seu nome ficou imortalizado numa das ruas da cidade). A família Sertã era já uma das mais ilustres desta zona do estado do Rio de Janeiro.
Os filhos não ficaram atrás dos progenitores. Mário Sertã tornou-se médico e inaugurou a primeira Casa de Saúde particular de Nova Friburgo, ao passo que Raul Sertã ficou conhecido pelas suas actividades no ramo das frutas – conta-se que Getúlio Vargas (presidente do Brasil durante 18 anos) era um dos maiores apreciadores da fruta produzida por Raul Sertã nas suas enormes quintas.
Mas Raul Sertã não se ficou por aqui: doou um enorme casarão para recolher as órfãs de Nova Friburgo, cedeu o terreno para o Nova Friburgo Futebol Clube construir o seu actual estádio (que tem o seu nome) e doou também o terreno para a edificação da Santa Casa da Misericórdia local (mais tarde transformada em hospital e cujo nome homenageia o seu benemérito).


Fontes: O Cotidiano de Nova Friburgo no final do Século XIX - Práticas e Representação Social (Janaína Botelho); HistórideFriburgo.blogspot.com; jornal A Voz da Serra; Wikipédia;

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Protestos em Cernache contra cortes no financiamento ao Instituto Vaz Serra

A ministra da Educação diz que o financiamento já aprovado permitirá que todas as escolas do ensino particular (com contrato de associação) continuem a funcionar, mas os responsáveis destes estabelecimentos de ensino não concordam com a governante. A contestação já chegou à rua e, em Cernache do Bonjardim, onde está implantado o Instituto Vaz Serra (uma das escolas que serão afectadas por esta medida), os protestos têm-se feito ouvir de forma veemente durante os últimos dias.
Na base desta situação está uma portaria do Governo que determina um financiamento de 80.080 euros por ano e por turma nas escolas com contrato de associação. Recorde-se que, no ano lectivo anterior, o financiamento médio por turma foi de 114 mil euros, um valor que este ano (que funciona como período transitório) baixou para os 90 mil euros, sendo que, no próximo ano lectivo, baixará para os já referidos 80 mil euros.
Num comunicado enviado à comunicação social e a toda a população, os pais e encarregados de educação dos alunos do Instituto Vaz Serra manifestam “a sua preocupação pela publicação do DL nº 138-C/2010, de 28 de Dezembro, que regulou o apoio do Estado às escolas particulares e cooperativas, e da Portaria nº 1324-A/2010, de 29 de Dezembro, que fixou o valor do apoio financeiro à prestar pelo Estado às referidas escolas que celebrem Contratos de Associação, e que irá resultar numa violenta redução do financiamento anual a estes estabelecimentos de ensino. Consideramos que esta redução representa um estrangulamento à actividade destas escolas, e uma injustiça, na medida em que o esforço que está a ser pedido a estas escolas é muito superior ao esforço de contenção que está a ser pedido às escolas estatais”.
Durante o dia de ontem, mais de meio milhar de pessoas manifestou-se em frente ao IVS contra os cortes decretados pelo Governo. Em declarações à Rádio Condestável, Carlos Miranda, director pedagógico do IVS, considerou que “o problema do financiamento é grave mas é mais para algumas escolas do que para outras”. Carlos Miranda pediu “bom senso”, pois “no IVS há professores com muita antiguidade e os custos com vencimentos são muito elevados, logo o problema da redução de orçamento é mais premente”. Este responsável acredita que “é possível encontrar uma solução justa e equilibrada para o problema das escolas particulares com contrato de associação que prestam um serviço público”.
Pedro Martins, líder do CDS/PP da Sertã, também participou na marcha de protesto «SOS IVS» e, em entrevista à Rádio Condestável, disse que estes cortes “são mais uma machadada para a nossa região”.
Diamantino Calado Pina, presidente da Junta de Freguesia de Cernache do Bonjardim, revelou àquela estação de rádio que “seria uma grande perda para a zona Centro, zona do pinhal e Cernache se o IVS fechasse”.
Já depois do fim da manifestação, o actual executivo da Câmara Municipal da Sertã aprovou, durante uma reunião, um voto de apreensão pela aprovação do Decreto-lei que regula o ensino particular e cooperativo e que atinge directamente o IVS, em Cernache do Bonjardim.Recorde-se que mais de 60 por cento dos alunos do IVS beneficia da acção social escolar e que ninguém paga propinas, tal como foi revelado pela Rádio Condestável.
Para a posteridade, aqui ficam as palavras finais do comunicado distribuído durante o dia de ontem e que revelam bem o estado de espírito de todos os que se mostram desagradados com a situação que o Instituto Vaz Serra vive no ano em que comemora 60 anos de vida: “Apenas queremos, com esta manifestação, apelar ao bom senso dos responsáveis pela educação em Portugal, no sentido de ser encontrada uma solução justa e equilibrada que permitas às escolas com Contrato de Associação manter o seu projecto e o seu dinamismo”.