quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Revisão do PDM da Sertã – uma oportunidade única para (re)pensar o concelho

“Os Planos Directores Municipais que irão entrar em vigor na segunda década do século XXI, poderão ser uma oportunidade para a afirmação das cidades e resolução dos seus problemas, caso permitam concretizar as orientações estratégicas para o seu desenvolvimento”. As palavras de Fernando Santo, antigo bastonário da Ordem dos Engenheiros, proferidas há cerca de dois anos, continuam bastante actuais, ainda para mais num momento em que o concelho da Sertã assiste à revisão do seu PDM.
Para quem não sabe, o Plano Director Municipal é um instrumento de gestão territorial que vincula as entidades públicas mas também os particulares. Todo o planeamento e ordenamento do território está aqui consignado, com regras claras e ajustadas às necessidades de cada município. Os usos e actividades dos solos municipais, a identificação de redes urbanas, viárias e de transportes, as projecções de crescimento demográfico e económico, entre outras, são algumas das matérias abrangidas.
Como bem dizia Fernando Santo, os PDM são “uma oportunidade para a afirmação” das cidades/vilas e para a “resolução dos seus problemas”, pelo que se torna premente, no caso do Plano Director Municipal da Sertã, ter em atenção aquelas que são as questões fundamentais para o desenvolvimento futuro do nosso concelho.
Não tenho a pretensão de definir o que deve ou não ser prioritário no PMD sertaginense, mas o crescimento desordenado que se tem registado na vila da Sertã é uma consequência clara das “projecções loucas” do PDM actualmente em vigor. O centro histórico está despovoado e as urbanizações pululam um pouco por toda a vila (o cenário em Cernache do Bonjardim não é muito diferente), a maior parte delas às moscas.
Este é um problema transversal a todo o país. Por exemplo, em Portugal, decretou-se urbanizável território para 50 milhões de habitantes, um dado que ajuda a perceber a falta de rigor e orientação de quem gere o território municipal.
Esta revisão do PDM é também uma oportunidade única para a Sertã definir as suas prioridades e, sobretudo, resolver o seu futuro. Temos de decidir se queremos um destino turístico consolidado, capaz de se promover fora dos limites do município; um concelho líder nos investimentos decorrentes das energias renováveis; uma terra virada para a exploração sustentada do que ainda resta da sua fileira florestal; ou até uma região de eleição para quem quer voltar a apostar na agricultura.
O debate que antecedeu a apresentação da proposta de revisão do PDM de Lisboa envolveu todas as forças vivas da cidade e tentou perceber para onde podia caminhar a capital do país. A lógica dos editais públicos, afixados à entrada dos edifícios municipais, esperando que os cidadãos dêem as suas opiniões, foi relegada para segundo plano e a autarquia decidiu ir ao encontro das pessoas e ouvi-las sobre a cidade que idealizam para o século XXI.

Não tenho dúvidas de que este exemplo devia ser seguido na Sertã, até porque isso aumentaria a transparência de todo o processo e colocaria os seus habitantes a falarem sobre que concelho idealizam para o futuro. Quantas vezes se fizeram debates alargados e sérios (sem as ‘palas’ castradoras dos interesses político-partidários) sobre o futuro deste nosso município? Será que vamos continuar a assobiar para o lado e deixar que aquilo que se vem passando, desde há 30 anos na Sertã (despovoamento, desinvestimento, degradação do património, entre outras), conduza este concelho a um beco sem saída? Talvez até ao abismo?

Um bom exemplo que chega de Proença-a-Nova

Sempre foi boa política aprender com os 'bons' exemplos que nos chegam dos outros. E a acção de promoção que a Câmara Municipal de Proença-a-Nova fez recentemente no Metro de Lisboa (entre 25 de Novembro e 16 de Dezembro) é algo que nos deveria fazer pensar sobre o impacto que este tipo de iniciativas podem ter na promoção turística dos concelhos do Interior.
Qualquer especialista nos dirá que os destinos turísticos não valem apenas pela sua qualidade mas também pela eficiência como são promovidos. E, neste último caso, a Câmara de Proença-a-Nova marcou pontos. Isto porque, os potenciais turistas que o município quer seduzir não estão nos limites do seu concelho mas noutras regiões do país – uma acção deste género tem um impacto deveras superior, no turismo de uma região, ao de uma qualquer feira local.
A iniciativa da Câmara de Proença-a-Nova (que já havia decorrido no Metro do Porto) não se limitou a promover as potencialidades turísticas do concelho. As colectividades culturais tiveram também aqui o seu espaço (os ranchos locais actuaram nas gares das estações de metro em ‘hora de ponta’).

Claro que, para que tudo isto funcione, é necessária uma estratégia clara e bem definida no que toca à promoção turística do concelho. As promessas não chegam e neste, como em qualquer outro mercado, quem não se mexe é ultrapassado pelos outros. O tempo do «nós temos… e por isso somos melhores» já pertence ao passado.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Tornado fustigou concelho da Sertã

Foi apenas um minuto, mas os ventos de mais de 200 km/h deixaram um rasto de destruição indescritível no concelho da Sertã. O tornado, que já antes atingira os concelhos de Tomar e Ferreira do Zêzere, chegou à Sertã pelas 15h10m de ontem e o pânico instalou-se entre a população do município.
A Rádio Condestável foi o primeiro órgão de informação a dar nota do sucedido, transmitindo ao longo da tarde/noite todas as incidências do que estava a acontecer no concelho. Mais tarde, as edições electrónicas de jornais e rádios nacionais dedicavam também especial atenção para o que estava a suceder pela Sertã. As estações de televisão, nos seus serviços informativos da noite, deram igualmente destaque às notícias que chegavam da Beira Baixa.
O balanço surgiu já noite dentro e os números foram actualizados durante o dia de hoje: 100 habitações danificadas (dados provisórios), três desalojados, as instalações da empresa Resicorreia “completamente destruídas”, muitas árvores arrancadas, postes de iluminação derrubados e “alguns milhões de euros em prejuízos”.
Segundo os jornais e rádios (Jornal de Notícias, Público, Rádio Renascença, i, Visão, Rádio Condestável, TVI24), a zona de Vale Porco, na freguesia da Sertã, foi “a mais fustigada, com 18 casas danificadas”.
As freguesias de Palhais (o centro náutico foi bastante atingido), Cabeçudo e Troviscal foram também afectadas pelo tornado.
O presidente da Câmara da Sertã, José Farinha Nunes, garantiu, citado pela Rádio Condestável, “a disponibilidade dos presidentes de câmara da região em ajudarem no que for necessário”.
Já esta manhã, o ministro da Administração Interna, Rui Pereira, visitou os concelhos de Tomar, Ferreira do Zêzere e Sertã, mas não garantiu apoio para os populares afectados, sublinhando que os seguros estão na “primeira linha para dar resposta aos pedidos de ajuda”. Contudo, o governante admitiu a hipótese do Governo poder ajudar “pessoas necessitadas” que não sejam ressarcidas pelos seguros, mas que isso será “avaliado caso a caso”, declarou o governante, citado pelo Diário Iol.
Segundo a Rádio Condestável, o ministro Rui Pereira pediu, na Sertã, que lhe chegasse “com a maior brevidade possível” um relatório dos estragos decorrentes deste tornado.
Deixamos aqui de seguida, alguns links de jornais, televisões e rádios que acompanharam o tornado na Sertã:

http://www.publico.pt/Local/populacoes-afectadas-por-tornado-tentam-regresso-a-normalidade_1470032

http://www.radiocondestavel.pt/site/index2.php?option=com_content&task=view&id=3771&pop=1&page=0&Itemid=1

http://sic.sapo.pt/online/video/informacao/noticias-pais/2010/12/serta-ficou-sem-energia-electrica-devido-a-passagem-do-tornado07-12-2010-205427.htm

Pedimos também aos nossos leitores para que aqui deixem as suas impressões sobre o tornado que ontem fustigou a zona da Sertã.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

E as zonas industriais que não saem do impasse

O jornal «A Comarca da Sertã» deu conta, na sua edição do passado dia 26 de Novembro, que “as zonas industriais do concelho (Sertã e Cernache do Bonjardim) registam longo impasse”, aguardando “há anos a reclamada ampliação”.
O problema – como todos sabem – vem-se arrastando no tempo, e segundo as palavras do actual presidente da Câmara, José Farinha Nunes, um dos culpados para este estado de coisas é a burocracia. “É necessário um ‘plano de pormenor’ para as zonas industriais para se desbloquear a situação”, disse o autarca, citado por aquele semanário, acrescentando que “a legislação emperra o andamento dos processos”.

Não tenho dúvidas de que o desenvolvimento económico de um concelho como o da Sertã terá de passar por dar melhores condições aos empresários que aqui querem investir e não tanto por colocar entraves burocráticos que só causam entropia e que levam ao desespero os interessados. Consequência? Os empresários vão apostar noutro lado e dessas histórias já todos nós ouvimos falar.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

As ruas da Sertã: Rua Eduardo Barata da Silva Corrêa

Onde fica? Está situada na zona da Praceta da Pinhal, não muito longe da Mata Velha

Quem foi? “No dia 30 de Março de 1957, ao cair da noite, pelas 19 horas, exalava o último suspiro na sua casa da Sertã, o Sr. Eduardo Barata da Silva Corrêa, director deste jornal desde a sua fundação, em Maio de 1936”. Foi desta maneira que o jornal «A Comarca da Sertã» noticiou a morte do seu director e fundador Eduardo Corrêa, um dos homens que mais fez pelo jornalismo da região e que deixou um legado impressionante nas diversas áreas em que actuou.
Quem com ele conviveu fala de um homem “corajoso”, “sincero”, “persistente”, “lutador”, “teimoso” e “destemido”. Eduardo Corrêa foi isso e muito mais, mas para a posteridade ficou como o ‘pai’ d’A Comarca da Sertã, o semanário que no próximo ano comemora os 75 anos de existência.
A sua vida foi preenchida e cheia de histórias. Nasceu no dia 24 de Fevereiro de 1902, sendo filho de Eduardo Barata Correia e Silva e de Efigénia Neves Correia e Silva.
A sua infância foi passada na vila da Sertã. Depois de frequentar a escola primária (onde teve como professores Tomás Namorado e Joaquim Pires de Moura), viajou até Lisboa para seguir o liceu, que haveria de concluir em Cernache do Bonjardim, mais precisamente no Instituto de Missões Coloniais.
A paixão pelo jornalismo começou a desenvolver-se durante a sua estada neste instituto. Nas férias, resolveu publicar um pequeno jornal, «A Hora», “cujos exemplares eram obtidos por meio de copiógrafo e distribuídos pelos assinantes, constituídos pelas pessoas de família e amigos”, escrevia o jornal «A Comarca da Sertã», na sua edição de 15 de Abril de 1957.
Regressado à Sertã, começou a trabalhar no escritório de seu pai, dividindo o tempo entre os seus afazeres profissionais e a publicação de um novo jornal, «A Folha», que além da actualidade noticiosa do concelho, dedicava as suas páginas a fomentar a cultura entre os sertaginenses.
Aos 20 anos decidiu tentar a sua sorte em Moçambique e por lá permaneceu durante 12 anos.
Já na Sertã, juntou-se a Ângelo Henriques Vidigal, António Barata e Silva, José Barata Corrêa e Silva e José Carlos Erhardt e fundou, em 1936, o jornal «A Comarca da Sertã», que dirigiu até 1957, altura do seu falecimento. “Foi no desempenho destas funções que melhor deu a medida das suas qualidades de inteligência e de carácter, mostrando também ser um trabalhador incansável que dava ao seu jornal horas e horas de exaustiva aplicação”, assinala a mesma edição deste semanário.
Nas mais de duas décadas em que foi director desta publicação pugnou pela defesa dos interesses da Sertã e integrou diversas comissões que lutavam pela construção de diversas infra-estruturas no concelho. Só para referir algumas, destacamos o seu papel em todo o processo de instalação do Centro Liceal Técnico, na construção de uma linha de caminho de ferro que passasse pela Sertã e na definição de um novo plano urbanístico para a vila da Sertã (processo polémico que se arrastou durante quase toda a década de 1940).
Mas não foi só no jornalismo que a sua presença se fez notar. Esteve igualmente ligado a diferentes direcções do Clube da Sertã, do Sertanense Futebol Clube e dos Bombeiros Voluntários da Sertã (o seu corpo foi conduzido à última morada no pronto-socorro dos Bombeiros Voluntários da Sertã).
Os seus dotes para a docência eram-lhe também reconhecidos, tendo sido professor particular de “muita competência”.

Foi casado com Maria Vitorina de Oliveira Barata, com quem teve seis filhos.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Algumas reflexões sobre a suspensão de actividades do Atelier Túlio Vitorino

A recente suspensão de actividades no Atelier Túlio Vitorino, em Cernache do Bonjardim, deveria merecer uma discussão bastante séria sobre aquilo que é hoje a oferta cultural do concelho e, sobretudo, os públicos a que se dirige.
Aquando da recuperação e abertura deste espaço, várias foram as sugestões para o seu aproveitamento. Ao longo dos anos, o atelier nunca conseguiu assumir ou construir uma identidade própria, apesar dos esforços dos seus responsáveis e colaboradores. Esta situação decorre, em grande medida, da dificuldade de implantar um espaço deste género num local em que não existem hábitos culturais, devido ao desinvestimento continuado nesta área ao longo das últimas décadas – por muito que isso custe, longe vão os tempos em que Cernache era o centro dinamizador de muita da oferta cultural do concelho. E diga-se que a Sertã também não fica bem na fotografia.
Claro está que uma população sem hábitos deste género não se mostra sensível, num primeiro momento, a estas manifestações. Não queremos aqui menorizar ninguém, até porque nisto de cultura tanto vale um espectáculo de música clássica como uma iniciativa em que os mais velhos contam histórias do ‘seu tempo’ aos mais novos (um dos eventos mais conseguidos pelo atelier). Mas é inquestionável afirmar que se torna difícil programar espaços como o Atelier Túlio Vitorino, quando a população não adere às actividades realizadas.
E a culpa é de quem? Talvez de todos nós, que deixámos que um concelho como o nosso morra aos poucos, reduzido a uma oferta cultural que vive da boa vontade dos nossos responsáveis autárquicos e não tanto de agremiações culturais, que se demitiram dessa função há já longos anos (surgem agora algumas tentativas meritórias dos centenários Club de Sertã e de Cernache para mudar o estado de coisas).
Claro que em alturas de crise, este tema nunca será uma prioridade (há outras bem mais prementes), mas é preciso lembrar que a cultura é uma das melhores formas de educar um povo e de qualificá-lo. Num concelho com tão baixa qualificação, a cultura poderia desempenhar, a este nível, um papel fundamental.
Perante tudo isto, o que podemos fazer? Talvez deixar de estar de braços cruzados à espera que outros façam aquilo que também nós poderemos fazer. É óbvio que a Câmara, como dínamo cultural do concelho, tem um importante papel a desempenhar mas é preciso mais dos cidadãos e das elites do concelho, estas que desapareceram por completo e que nos inícios do século XX garantiram um fomento cultural, sem precedentes, no concelho. Eram os tempos em que o concelho da Sertã tinha quatro bandas filarmónicas, duas companhias de teatro, um grupo coral… tudo isto, numa altura em que o dinheiro não abundava.
Uma última palavra para o Atelier Túlio Vitorino, sobre o qual recai um pouco do ónus deste texto. Esperamos que o chamado ‘Plano B’ da Câmara possa devolver a este espaço muito do que ele não teve nestes últimos meses, ou seja, o reconhecimento da população. Mas atenção, esta é apenas a ponta do icebergue daquilo que se está a passar um pouco por todo o concelho da Sertã.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Memórias: Ponte Romana


A colecção de postais ilustrados editados por António da Silva Lourenço, durante o século passado, fez vibrar muita gente e ajudou a perpetuar vários sítios tão especiais da vila da Sertã.
Daí que tenhamos decidido recuperar um dos postais lançados nessa colecção, mais precisamente o da Ponte Romana, construída durante o reinado de D. Filipe II e um dos cartões de visita do concelho.
Já quase tudo se disse sobre esta ponte, que é também conhecida por Ponte da Carvalha, Ponte Velha ou Ponte da Várzea. Tem 64 metros de comprimento e seis arcos de alvenaria e custou cerca de 45.800 réis.

Povoações: Santinha (Figueiredo)

Estamos na encosta da serra de Alvéolos e é lá que vamos encontrar a povoação da Santinha. Pertencente à freguesia do Figueiredo, este pequeno lugar guarda para si histórias e sobretudo memórias de um tempo em que o pinhal (e a resina) era o principal sustento das gentes que por aqui habitavam.
Perde-se nas brumas as origens da Santinha, também conhecida por Dona Maria da Santinha. Os primeiros registos documentais que encontramos transportam-nos para as inquirições régias mandadas fazer durante o século XV – o número de habitantes não chegava a meia dezena nessa altura.
Todavia, se atendermos à recente descoberta das Insculturas da Fechadura (laje de xisto situada entre as localidades do Figueiredo e da Santinha), talvez possamos aventar que estas terras foram povoadas desde tempos mais recuados. Só é pena que este verdadeiro monumento pré-histórico não se encontre sinalizado e seja quase impossível de visitar.

Voltando à literatura histórica, o povoamento da Santinha começou a verificar algum crescimento a partir do século XVIII, havendo notícia da existência de sete fogos em 1730 e de 10 em 1891.
O dealbar do século XX e o consequente florestamento de boa parte da nossa região (iniciada com o pinheiro em 1901) trouxe mais gente a estas povoações, atraídas pelos rendimentos da floresta e sobretudo pela colheita da resina. Por exemplo, na década de 1970, as famílias mais abastadas da Santinha chegaram a possuir cerca de 10.000 bicas, um valor muito superior àquilo que era a média na freguesia do Figueiredo (entre 3.000 e 5.000 bicas).
O número de habitantes desta aldeia atingiu o seu pico em meados da década de 1950, quando os censos registavam mais de seis dezenas de habitantes. Hoje, este número desceu significativamente para cerca de 20 habitantes, que ainda resistem numa das muitas aldeias isoladas do nosso concelho.
Um dado interessante sobre a Santinha é o facto de, ao longo da sua história, ter pertencido a três freguesias diferentes. Senão vejamos: até 1554, a aldeia pertenceu à freguesia da Sertã. Com a criação da freguesia do Troviscal nesse mesmo ano, a Santinha ficou integrada nos seus limites, o que viria a suceder até 1828, altura em que passou a ser abrangida pela freguesia do Figueiredo, criada nove anos antes.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Novo centro de saúde para breve?

A notícia foi hoje divulgada pela Rádio Condestável, no seu website, e revela que “a Unidade Local de Saúde (ULS) de Castelo Branco mostrou-se sensibilizada para a construção de um novo Centro de Saúde na Sertã e como tal, enviou à Câmara Municipal o programa funcional para o futuro centro”.
Segundo o que foi avançado por este órgão de comunicação social, “a sugestão da ULS abrange nove unidades funcionais”, designadamente uma unidade de cuidados de saúde personalizados, uma unidade de cuidados na comunidade e ainda uma unidade de saúde pública.

Este programa funcional servirá de base ao futuro projecto do centro de saúde, faltando saber qual o investimento a realizar e onde será construído.
Só fazemos votos para que os erros cometidos na construção do actual centro de saúde não se repitam, porque a sensação que temos hoje é que se andou a brincar com o dinheiro dos contribuintes e não se estudou a sério nem a localização do centro, nem tampouco as necessidades das populações do nosso concelho – como foi possível abrir as portas de uma estrutura que ao fim de alguns meses já não respondia às necessidades da população?

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Memórias: Uma aldeia submersa


As Memórias de hoje conduzem-nos até à freguesia do Castelo e a uma aldeia que as águas do rio Zêzere trataram de submergir aquando da construção da Barragem da Bouçã. Esta é a história da Barca do Bispo.
Os poucos dados que existem sobre este pequeno lugar, situado na margem esquerda do rio Zêzere, podem ser encontrados na monografia «Castelo – A Terra e suas Gentes», de José Gaspar Domingues. Aqui fica a transcrição de algumas das informações: “Aldeamento situado na margem esquerda do rio Zêzere, numa zona de extenso areal, onde grande parte da população do concelho da Sertã ia a banhos, tanto mais que um enorme açude fora construído no leito do rio. Na margem existia um moinho e uma casa pertença do prelado, assim como uma enorme embarcação que transportava pessoas e animais para a outra margem”.
A foto que aqui reproduzimos foi tirada há alguns anos, numa altura em que foram abertas as comportas da barragem da Bouçã, o que fez baixar consideravelmente o nível das águas.
Foto: Postal da Junta de Freguesia do Castelo

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Orçamento de Estado ‘pouco simpático’ para o concelho da Sertã

Enquanto na capital portuguesa, Governo e PSD tentam encontrar uma versão final para o tão propalado Orçamento de Estado (que poderá levar Portugal a uma situação de recessão e fazer com que a classe média fique mais pobre), na Sertã a Câmara faz contas à vida, em virtude deste mesmo Orçamento, e até já admite suspender a próxima edição da FAFIC.
E os ventos não correm de feição, a julgar por aquilo que está previsto no Orçamento de Estado’2011 para a Sertã. Desde Logo, no Programa de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central (PIDDAC), o concelho da Sertã, à semelhança do que tinha sucedido no Orçamento do ano passado, não recebe qualquer verba, ficando assim de fora a tão esperada construção do novo centro de saúde.
No entanto, cumpre aqui realçar que das verbas do PIDDAC previstas para o distrito de Castelo Branco, mais de 75 por cento são canalizadas para três projectos: Estabelecimento Prisional de Castelo Branco, UBI Medical e Faculdade de Ciências da Saúde da UBI. Dá que pensar….
Mas as más notícias chegam também do lado das transferências do Estado para os municípios. O concelho da Sertã viu o seu valor baixar de 8.650.376 euros (OE’2010) para 7.906.758 euros (OE’2011). Esta última verba encontra-se assim distribuída no Orçamento de Estado: Fundo de Equilíbrio Financeiro Corrente (4.485.312 euros), Fundo de Equilíbrio Financeiro Capital (2.990.208 euros), Fundo Social Municipal (226.751 euros) e IRS (204.487 euros).
No que se refere às transferências para as freguesias do município sertaginense também se verificou um decréscimo face ao ano passado: 634.483 euros para 579.962 euros. Este valor ficou assim distribuído pelas diferentes freguesias – Cabeçudo (28.528 euros), Carvalhal (24.367), Castelo (38.058), Cernache do Bonjardim (80.518), Cumeada (31.410), Ermida (30.936), Figueiredo (24.502), Marmeleiro (31.758), Nesperal (24.363), Palhais (28.358), Pedrógão Pequeno (43.020), Sertã (102.063), Troviscal (50.195) e Várzea dos Cavaleiros (41.886).

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Uma Fonte dos Amores “no meio do mundo”

É uma das muitas histórias do nosso concelho que o tempo apagou. Esta então ficou remetida ao esquecimento durante largas décadas até que um jornalista do Diário de Notícias a recuperou em 1941.
A história conduz-nos até à povoação da Marinha de Vale Carvalho, na freguesia do Troviscal, onde estava situada uma pequena fonte, conhecida por Fonte dos Amores.
Segundo o jornalista daquele diário, Fernão Lopes foi o primeiro a referir-se a ela numa das suas muitas crónicas, situando-a “no termo da Sertã, no meio de Portugal e no meio do mundo”. O seu nome e fama devem-se a uma história muito curiosa que envolve D. Aldensa Cogominhos e seu marido D. Paio Sancho. Este casal, “após vinte de união estéril e incompreendida, encontraram a felicidade e o almejado herdeiro, depois de terem bebido na Fonte dos Amores”.

Não sei se a dita fonte ainda hoje existe (nunca lhe conheci qualquer referência à excepção das fontes citadas), mas se algum dos nossos leitores quiser acrescentar algum dado a esta história, ficaríamos gratos.

Escolas do concelho da Sertã com comportamento modesto nos rankings

Os rankings valem o que valem mas não deixam de ser bons instrumentos de análise de realidades poucas vezes examinadas. Isso mesmo acontece com as escolas, que sempre que o mês de Outubro se aproxima do fim vêem analisado o seu desempenho – pelo menos no que toca aos resultados dos exames efectuados pelos seus alunos.
Vários foram os jornais e estações de televisão que nos últimos dias deram conta das suas tabelas e rankings escolares. À semelhança do que sucedeu em anos anteriores, optámos pelo ranking apresentado pelo jornal Público, devido à sua antiguidade e à profundidade das suas análises.
Desde logo, podemos observar que a Escola Secundária da Sertã ocupa o 314.º lugar no ranking das escolas públicas (num total de 488), com uma média final nos exames de 9.91. No entanto, se juntarmos as escolas privadas a este ranking (independentemente do número de provas que cada uma tenha realizado), a Secundária da Sertã desce para a 411.ª posição. Já o Instituto Vaz Serra (Cernache do Bonjardim) ocupa o 88.º lugar no ranking das escolas privadas, com uma média nos exames de 10.39, e o 322.º lugar na tabela final de públicas e privadas (ou seja, à frente da sua congénere da Sertã).
Numa análise mais pormenorizada aos resultados obtidos por estas duas escolas, podemos revelar que os alunos da Escola Secundária da Sertã estiveram melhor na disciplina de Matemática A (média de 11.38) do que na de Física e Química (7.80). Destaque para as médias positivas alcançadas nas disciplinas de História (10.74), Português (10.37) e Biologia e Geologia (10.00). No total, foram efectuadas neste estabelecimento de ensino 270 provas.
Já no Instituto Vaz Serra (onde se realizaram apenas 33 provas – o que poderá melhorar a sua classificação relativamente a escolas onde se efectuaram mais exames), os alunos mereceram nota positiva a Matemática A (13.74) e Português (10.97). No lado negativo, ficaram as disciplinas de Física e Química (9.55) e Biologia e Geologia (9.41).
Reportando-nos ao ranking do ensino básico (exames do 9.º ano, com classificação entre 0 e 5), verificamos que, no conjunto do concelho da Sertã, o Instituto Vaz Serra foi o que alcançou a melhor posição (227.º lugar entre as 1.295 escolas do país), com uma média de 3.14, logo seguido da E.B. da Sertã na 234.ª posição, com uma média bastante similar (3.13). Já a E.B. Padre António Lourenço Farinha não foi além da 818.ª posição (ainda assim, melhorou em relação ao ano transacto) com uma média nos exames do 9.º ano de 2.70.

São sem dúvida resultados a merecer reflexão!

sábado, 16 de outubro de 2010

Matiota: Um nome para a história do desporto sertaginense

O nome dispensa qualquer tipo de apresentações, visto estarmos perante um dos maiores vultos do desporto sertaginense, e não só, dos últimos 50 anos. Quis o destino que Matiota nos deixasse hoje, aos 78 anos de idade.
Como futebolista espalhou magia pelos campos do nosso país e, como treinador, ensinou várias gerações de jogadores. João Matiota foi isto e muito mais, numa carreira recheada de êxitos, onde lhe ficou a faltar a passagem pelo escalão máximo do nosso futebol – ele próprio não escondeu esse desejo em algumas conversas.Apesar de ter nascido em Cabo Verde, foi em Coimbra que despontou para o desporto. Primeiro como nadador (várias alcunhas desses tempos são reveladoras das suas qualidade para a modalidade) e depois como jogador de futebol ao serviço do União de Coimbra, que militava na 2.ª Divisão Nacional.
O seu futebol deu logo nas vistas, tendo rumado duas épocas depois ao Marco, equipa que trocaria anos mais tarde pelo Salgueiros.

No final da década de 1950, o Viação de Sernache (hoje Vitória de Sernache) passou a contar nas suas fileiras com Matiota. Os anos seguintes foram de confirmação para o jogador, que ajudou este clube durante o período mais áureo da sua história (brilharetes no Distrital de Castelo Branco e na 3.ª Divisão nacional e consequente subida à 2.ª Divisão nacional).
Em 1962, o Viação de Sernache abandonou o futebol e Matiota ficou sem clube. Depois de alguns jogos ao serviço de equipas vizinhas, o jogador ressurgiu já no final desta década ao serviço dos Bombeiros Voluntários da Sertã (BVS).
No dealbar da década de 1970, o presidente do Sertanense, José da Cunha e Santos, apostou forte na entrada do clube nas competições oficiais de futebol. Matiota, Amâncio e Aníbal Pires foram, juntamente com aquele responsável directivo, os grandes obreiros da constituição da equipa, que aproveitou muitos dos jogadores da antiga equipa do BVS.
Matiota acumulava as funções de jogador com as de treinador. Nas contas finais da época de 1970/71, o Sertanense ficou na última posição da prova, somando apenas três pontos (uma vitória e um empate). Matiota participou em todos os oito jogos da equipa, tendo apontado um golo frente à formação do Minas da Panasqueira – o último golo da sua carreira.
Na época seguinte, ‘arrumou as botas’ e dedicou-se exclusivamente à carreira de treinador. Orientou o Sertanense nas épocas de 1971/72, 1972/73, 1975/76 (na primeira metade da época), 1977/78 (até às últimas jornadas do campeonato), 1981/82, 1982/83, 1983/84, 1984/85 (na parte final da temporada) e 1985/86. Neste período, passou ainda pelo comando técnico do Vitória de Sernache, Recreio Pedroguense, Troviscal e Castanheira de Pêra.
Foi também um dos responsáveis pela introdução do futebol jovem no Sertanense (em 1974, orientou a primeira equipa de juniores do clube e outras que se seguiram) e do futebol feminino (treinou a formação organizada em 1975).
Em 2006, a Direcção do Vitória de Sernache homenageou-o através de um torneio de futebol de sete, a que deu o seu nome (a competição tem decorrido anualmente), e em 2009, foi homenageado durante as comemorações dos 75 anos do Sertanense Futebol Clube.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

As ruas da Sertã: Rua Dr. Carlos Martins

Onde fica? Artéria situada em pleno centro histórico da Sertã e paralela à Rua Cândido dos Reis

Quem foi? “Homem de grande estatura moral e intelectual, de carácter nobre, personalidade vigorosa, porte varonil, inteligência brilhante e culta, causídico de grande saber e justificada fama, funcionário de alta competência, cidadão dos mais distintos e influentes”. Os elogios de Amaro Vicente Martins, director do jornal «A Comarca da Sertã, a Carlos Martins, por alturas da morte deste em 1966, deixam perceber o perfil de um homem que marcou a história sertaginense.
Natural da povoação do Labrunhal, freguesia de Proença-a-Nova, Carlos Martins começou por frequentar o Seminário de Portalegre até 1906, altura em que se matriculou na Universidade de Coimbra, onde se formou em Direito.
Regressou à sua região e assumiu, entre 1912 e 1915, o cargo de Administrador do concelho de Proença-a-Nova. Quatro anos depois é convidado para dar aulas no Liceu de Castelo Branco.
Em 1920, começa a leccionar no Instituto das Missões Laicas, em Cernache do Bonjardim, e por aí se mantém até 1927. Neste ano, resolve abrir um escritório de advocacia na Sertã, sendo nomeado, em 1937, Conservador do Registo Predial.
Durante as décadas de 40 e 50 ocupou diversos cargos de relevo na Sertã, tendo assumido mesmo, durante alguns anos, a presidência da Câmara da Sertã.
Quando completou 70 anos de idade, colocou um ponto de final na sua carreira profissional. “Desde então dividia o seu tempo entre um ou outro caso do foro e os cuidados do seu quintal e das suas abelhas, que eram a sua distracção predilecta”, escreveu Amaro Martins a propósito do seu amigo Carlos Martins.
Uma das histórias mais tocantes do advogado é também contada pelo antigo director d’ «A Comarca da Sertã»: “Sendo das primeiras pessoas a possuir receptor [de televisão] na Sertã, franqueava as portas da sua casa a todas as crianças da terra – sem distinção de nascimento ou roupa – que lá quisessem ir assistir aos programas infantis”.
Viria a falecer em 1966.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Memórias: Casa das Guimarães

Numa altura em que o país aperta o cinto (graças a um Governo que tardou em acordar para a realidade) e em que se comemoram os 100 anos da República, vamos aproveitar esta efeméride para trazer aqui uma recordação, que deveria fazer corar de vergonha todos os nossos governantes autárquicos dos últimos 20 anos. E até todos nós... cúmplices em tudo o que se passou.
A Casa das Guimarães fez correr litros de tinta pelos jornais locais, monopolizou debates em assembleias municipais e foi personagem principal em muitas conversas de café e de rua. E no fim, veio abaixo.
E porquê esta associação da Casa das Guimarães às comemorações dos 100 anos da República? Porque foi nesta casa que, em 1810, José de Mascarenhas Leitão e Bárbara Benedita Leitão viram nascer a sua filha Clementina Amália de Mascarenhas Pimenta, nada mais, nada menos que a avó paterna de José Relvas, o homem que, da varanda da Câmara de Lisboa, proclamou a República no dia 5 de Outubro de 1910.
Esta casa, que viria alguns anos mais tarde a ser oferecida por Romão de Mascarenhas a Ricardo Guimarães (como presente de casamento), guardava entre as suas paredes muitas histórias e memórias de noites grandiosas - nos finais do século XIX aí se faziam récitas de poesia e se assistiam a concertos de música.
Aqui fica a lembrança de uma casa que permanece no nosso imaginário. Que melhor sítio do que este para a instalação do museu da memória sertaginense...

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Olhanense vem à Sertã jogar para a Taça de Portugal

O Sertanense ficou hoje a conhecer o seu adversário na terceira eliminatória da Taça de Portugal. Depois de nos últimos três anos ter calhado sempre em sorte o FC Porto, a equipa da Sertã volta a medir forças com uma equipa da 1.ª Liga, o Olhanense.
O sorteio, realizado esta manhã na sede da Federação Portuguesa de Futebol, em Lisboa, ditou que o Olhanense viesse jogar à Sertã, no fim-de-semana de 16 e 17 de Outubro (ainda não é conhecido o dia definitivo do jogo), o que poderá trazer muitos adeptos a terras sertaginenses.
Em declarações à Rádio Condestável, Paulo Farinha, presidente do Sertanense, disse que “é muito gratificante” receber a equipa algarvia, visto que “o Olhanense está a fazer um excelente campeonato na primeira liga, o que só vai dignificar o espectáculo”.
O Olhanense, treinado por Daúto Faquirá, ocupa actualmente o quinto lugar da classificação da 1.ª Liga, com os mesmos pontos (nove) do Benfica.

Vamos todos apoiar o Sertanense em mais esta jornada histórica do clube.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Sertã comemora centenário da República

A Câmara da Sertã vai aproveitar o próximo dia 5 de Outubro para levar a cabo um conjunto de actividades, que servirão para assinalar os 100 anos da implantação da República. Do programa, destaque para a apresentação do livro «Ilustres Republicanos do Concelho da Sertã».
As comemorações terão início, pelas 10h30m, com uma sessão solene a decorrer nos paços do concelho, que incluirá o hastear da bandeira e a execução do hino nacional pela Sociedade Filarmónica Aurora Pedroguense (Pedrógão Pequeno).
Já da parte da tarde, às 17 horas, a Casa da Cultura recebe a inauguração da exposição «A I República no Concelho da Sertã», elaborada pelo Arquivo Municipal e que tem como objectivo “ilustrar a situação vivida no Concelho da Sertã no período que antecedeu e procedeu o 5 de Outubro de 1910”.
Seguidamente terá início a cerimónia de lançamento do livro «Ilustres Republicanos do Concelho da Sertã», da autoria de Marta Martins e Maria de Fátima Mata. “Esta obra sistematiza os resultados da investigação realizada em torno da I República, demonstrando a influência do novo regime na vida social, cultural, educacional e política no concelho da Sertã”, pode ler-se numa nota da autarquia.

A terminar os festejos (18h), teremos um concerto musical dos Vox Angelis, na mesma Casa da Cultura.

As raízes de José Relvas na Sertã

José Relvas era conhecido entre os seus camaradas republicanos pelo «Conspirador Contemplativo» e foi ele que na manhã do dia 5 de Outubro de 1910, na varanda da Câmara Municipal de Lisboa, declarou a implantação da República.
A sua participação no antes e depois desta implantação foi decisiva, contudo o que poucos sabem é que as suas origens estão directamente ligadas ao concelho da Sertã.
O seu avô paterno, José Farinha Relvas, nasceu em 1791, na povoação das Relvas, na freguesia da Ermida (concelho da Sertã). Seus pais, Manuel Ferreira Relvas e Maria Antónia Relvas, eram proprietários de boa parte dos terrenos da aldeia, e não só, e pessoas muito respeitadas pelos vizinhos.
Mas José Farinha Relvas não permaneceu por terras sertaginenses, tendo rumado, quando completou 30 anos de idade, à Golegã, para administrar a Quinta da Labruja. Nos anos seguintes, acumulou património e construiu uma fortuna assinalável.
Em 1837, casou com Clementina Amália de Mascarenhas Pimenta [nascida na Sertã, em 1810, no seio da ilustre família dos Mascarenhas Pimenta], com quem teve dois filhos – Carlos Augusto Relvas e José Relvas (que viria a falecer ainda jovem).
Carlos Relvas é o senhor que se segue. Pioneiro da fotografia em Portugal e grande apaixonado pela tauromaquia, o filho de José Farinha Relvas manteve as ligações paternas à Sertã, onde foi visita permanente sempre que as férias chegavam ou quando surgia a oportunidade de visitar algum amigo mais chegado.
Da sua união com Margarida Mendes de Azevedo Vasconcelos, resultou o nascimento de cinco filhos: José Relvas, Clementina Relvas (que chegou a morar na Sertã em 1892), Francisco Relvas, Maria Liberata (faleceu depois de completar um ano de vida) e Margarida Relvas.
A história continua agora com José de Mascarenhas Relvas. Nascido a 5 de Março de 1858 (foi baptizado a 7 de Abril do mesmo ano, sendo o seu avô José Farinha Relvas o padrinho), frequentou o curso de Direito na Universidade de Coimbra, que viria a abandonar para se matricular no curso superior de Letras.
Depois de regressar a Alpiarça, casou-se com Eugénia Antónia de Loureiro da Silva Mendes e tornou-se um dos mais abastados agricultores da região. A sua voz levantou-se, mais do que uma vez, pela defesa dos agricultores da região e contra as políticas agrícolas do governo de João Franco.
Aderiu ao Partido Republicano Português e iniciou um período bastante prolífico a nível político – presidiu à 1.ª sessão do Congresso do Partido Republicano, em Abril de 1908; envolveu-se activamente na preparação da revolta que viria a culminar com a queda da monarquia a 5 de Outubro de 1910; foi eleito ministro das Finanças a 11 de Outubro de 1910; foi embaixador de Portugal em Madrid entre Novembro de 1911 e os inícios de 1914; em Janeiro de 1919 foi chamado a formar Governo, que duraria apenas de 27 de Janeiro a 30 de Março desse mesmo ano.
Voltou a Alpiarça e, na sua Casa dos Patudos, passou os últimos anos de vida, ocupando o tempo com os seus negócios vitícolas e com a actividade de coleccionador. Viria a falecer a 31 de Outubro de 1929.


Bibliografia: José Relvas e a República, Fotobiografia de José Relvas, Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Folhetim sobre a família Mascarenhas

Consultas médicas e apontamentos avulsos sobre o Centro de Saúde da Sertã

Enquanto em Lisboa os responsáveis dos dois principais partidos políticos dão um triste espectáculo, mostrando que nem um nem outro merecem governar o que quer que seja, no concelho da Sertã assiste-se ao arrastar de um problema, que nos coloca bem próximo de uma realidade de terceiro mundo. Falo das consultas médicas ou das dificuldades encontradas na sua marcação.
O último capítulo deste episódio foi denunciado pela Rádio Condestável que, na sua edição on-line, dá conta de que a população da freguesia do Carvalhal “está a deslocar-se de véspera à extensão do Centro de Saúde da Sertã (CSS) na localidade para conseguir obter uma simples consulta”.
Este problema é justificado por António Silva, coordenador do CSS, com base no facto da funcionária daquela extensão estar de férias, uma situação que foi agravada pela mudança do “esquema que habitualmente estava estabelecido”, visto que “o médico mudou e depois de alguns dias também teve férias”.
Mas António Silva, citado pela Rádio Condestável, disse mais: “o que está estabelecido [nesta extensão de saúde] é que teremos, numa semana uma consulta e noutra duas consultas”, adiantando que “é o que o apropriado para aquele posto médico que tem 500 utentes”. “Esta situação não se vai repetir e foi uma coincidência por causa das férias”, sublinhou.
No entanto, este episódio é apenas a ponta de um icebergue que tem vindo a ganhar uma dimensão razoável. Por exemplo, no Centro de Saúde da Sertã, são várias as queixas dos utentes que são obrigados a deslocar-se para a porta do edifício às três e quatro da manhã para conseguirem uma consulta.
É um facto que as coisas têm vindo a melhorar nos últimos tempos, mercê de algumas alterações operadas na marcação de consultas, contudo as filas noite dentro, à porta do centro de saúde, mantém-se.
E já que falamos no centro de saúde da Sertã, o que irá realmente acontecer ao actual edifício? A pintura a que foi sujeito servirá para lhe dar cara nova por mais umas décadas? Vai ser construído um novo centro? Estará o Ministério da Saúde disposto (em tempo de vacas magras) a investir mais dinheiro num concelho que ainda há menos de duas décadas foi dotado de um centro de saúde “moderno e novinho em folha”? E para terminar, como é que será resolvido o problema da falta de médicos com que se debate actualmente o Centro de Saúde da Sertã?

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Sertã: Crónica de uma morte anunciada?

É um assunto muito sério mas que tem merecido pouca atenção por parte da classe política local, entretida com outras matérias de pertinência duvidosa. O despovoamento do concelho da Sertã é hoje uma triste evidência e o cenário para o futuro não se advinha muito risonho.
Passemos aos factos: segundo o relatório «Dinâmicas Populacionais e Projecções Demográficas da Sertã», o concelho perdeu, entre 1970 e 2000, 37,5 por cento da sua população. Em 1970, a Sertã possuía cerca de 23 mil habitantes, um número que, em 2000, baixou para 16.720 (Censos 2001). Se recuperarmos os dados provisórios que têm vindo a ser publicados anualmente pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), podemos observar que estes valores continuam em curva descendente – em 2008, a população sertaginense estava estimada em 15.663 habitantes, e não será difícil de imaginar que nos Censos de 2011 este número possa ser inferior.
Esta evolução negativa encontrava-se já plasmada no relatório «Dinâmicas Populacionais e Projecções Demográficas da Sertã», que dava conta de que, até 2026, a Sertã poderia perder mais 12 por cento da sua população (qualquer coisa como 1.845 habitantes).
O cenário que aqui traçamos é infelizmente extensível aos concelhos vizinhos (por exemplo, em Proença-a-Nova, a população baixou de 9.610 habitantes, em 2001, para 8.849 em 2008) e à quase totalidade do Interior português. Contudo, isso não implica que fiquemos de braços cruzados achando que o problema é estrutural (também o é!!!) e que o único caminho é assistir, impávido e sereno, ao definhamento de toda esta zona do país.
No caso particular da Sertã, é urgente fazer um debate sério, juntando todas as forças vivas do concelho (população incluída), no sentido de encontrar caminhos e soluções que possam ajudar a inverter este cenário, sob pena do concelho poder estar, em menos de 100 anos, reduzido a pouco mais de um milhar de habitantes.
Mais do que conversas de circunstância (onde a defesa dos interesses do partido sobrepõe-se sempre à defesa dos interesses do concelho) e banalidades, em forma de soundbyte, urge fazer alguma coisa, sobretudo porque o futuro da Sertã está em risco.

E as ideias para dinamizar este concelho já foram quase todas formuladas, agora basta colocá-las em prática, desde o turismo às energias renováveis, passando pela floresta e pelo aproveitamento do património histórico e natural do concelho.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

D. Nuno Alvares Pereira com Sessão Evocativa na Casa da Comarca da Sertã

A Casa da Comarca da Sertã, em Lisboa, vai ser palco, no próximo dia 18 de Setembro (Sábado), pelas 15 horas, de uma Sessão Evocativa da figura de D. Nuno Alvares Pereira. No ano em que se comemoram os 650 anos do nascimento do Condestável, e agora também conhecido por S. Nuno de Santa Maria (canonizado a 26 de Abril de 2009), esta é uma boa oportunidade para recordar uma das grandes personalidades da História de Portugal.
Apesar de não existirem certezas, tudo indica que Nuno Álvares Pereira terá nascido no Paço do Bonjardim, na freguesia de Cernache do Bonjardim, concelho de Sertã, em 24 de Junho de 1360. Há quem discorde desta versão, apontando Flor da Rosa como local de nascimento, mas o que é certo é que muitos historiadores (Oliveira Martins, Aires do Nascimento, Virgínia Rau, Valério Cordeiro, Fernando Denis ou Elias Cardoso – só para citar alguns) inclinam-se para a vila cernachense.
“Herói militar, foi graças à sua determinação e empenho que Portugal venceu a Batalha de Aljubarrota, em 14 de Agosto de 1385, facto decisivo para manter a independência de Portugal face a Espanha e consolidando, assim, D. João I, Mestre de Avis, no trono”, pode ler-se numa pequena nota biográfica elaborada pela Casa da Comarca da Sertã, que acrescenta: “D. João I fez dele um dos homens mais ricos de Portugal e casou o seu filho natural D. Afonso, Conde de Barcelos e futuro Duque de Bragança, com D. Beatriz de Alvim, única filha sobrevivente do Condestável. D. João, 8.º duque de Bragança, seu descendente, veio a dar início à dinastia de Bragança com o nome de D. João IV, em 1 de Dezembro de 1640, pondo fim aos cerca de 60 anos de domínio espanhol e restaurando a soberania portuguesa”.
Em 15 de Agosto de 1423 depois de se despojar de todos os seus bens, D. Nuno Álvares Pereira recolheu-se ao Convento do Carmo – que havia mandado construir –, adoptando o nome de Nuno de Santa Maria. Faleceu no dia 1 de Abril de 1431.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Jornais antigos: Correio da Beira

O dia 14 de Abril de 1932 ficou para a história do jornalismo sertaginense pelo aparecimento de um novo semanário, intitulado «Correio da Beira». Dirigido por Virgílio Godinho e editado por Zeferino Lucas, esta publicação sobreviveu até 1934.
No primeiro número, os objectivos dos promotores ficaram logo definidos: “Propõe-se este jornal ser doravante, a boca que reclama, o cérebro que congemina, o coração que sente, outorgando-se o privilégio de reclamar, pensar e sentir em nome de todos quantos, até agora, se têm mantido, por inércia, por comodismo, na vaga expectativa de uma justiça que cairá dos infinitos céus aos trambolhões para realizar, a golpes de mágica, todos os instrumentos do progresso regional”.
Entre as notícias em destaque nesta edição inaugural contavam-se o problema do analfabetismo no concelho, a inauguração da carreira diária entre Sertã e Lisboa da Companhia de Viação de Sernache e a contracção de um empréstimo de 100 mil escudos destinados ao aproveitamento de uma queda de água da Ribeira Grande, para produção de energia eléctrica, que abastecerá a vila da Sertã de luz artificial.

Este semanário fazia ainda publicar artigos de vários ilustres sertaginenses como o Pe. António Lourenço Farinha, Cândido Teixeira ou José Carlos Ehrarhdt.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Campeonato Distrital de Castelo Branco conta com Vitória de Sernache

O Vitória de Sernache já conhece os seus adversários para a temporada 2010/2011 do Campeonato Distrital de Castelo Branco (Liga Covifil). Na primeira jornada, que se realiza no dia 19 de Setembro, a formação vitoriana recebe o Oleiros.
Depois de jogar na ronda inaugural com o conjunto oleirense, a equipa de Cernache do Bonjardim defronta os seguintes emblemas: Proença-a-Nova (fora), Vila Velha de Ródão (casa), Vilarregense (fora), Penamacorense (casa), Escalos Cima (fora), Atalaia do Campo (casa), Teixosense (fora), Pedrógão (casa) e Alcains (fora). Na segunda volta, a ordem de jogos é igual, apenas se alterando a condição visitante/visitado.
Para esta época, o Vitória de Sernache continua a ser orientado por Simões Gapo e o plantel é, para já, constituído pelos seguintes jogadores: Rodrigo (ex-Vilarregense), Vasco Ladeiras (ex-júnior), Rui Barrela (ex-Torres Novas), Dário, Pedro, Tiago, Ricardo André, 'Velho', DavidVieira (ex-Torres Novas), Filipe Avelar (ex-Sertanense), Dani, Rabat, Maçaroco, Jorge Pinheiro (ex-Ferroviários), Gaspar, Toni, André Vieira (ex-Torres Novas), M'Passo, Santolini, Gameiro (ex-Mação) e os ex-juniores João Ladeiras, Rui Martins, Diogo Lima, Gil Henriques, Micael, Fachinha e Luís Farinha.
Foto: Blog do Vitória de Sernache

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Mostra Santo Condestável tem início sexta-feira em Cernache do Bonjardim

A quarta edição da Mostra do Santo Condestável tem início na próxima sexta-feira, dia 3 de Setembro, e estende-se até ao domingo seguinte. O certame, que se realiza no Pavilhão Desportivo de Cernache do Bonjardim, é organizado pela junta de freguesia local.
Entre os objectivos desta iniciativa estão a divulgação das “potencialidades gastronómicas e económicas da freguesia”, ao mesmo tempo que se pretende “dar um espaço de relevo ao movimento associativo e à actividade artesanal da região”.
O cartaz de actividades da Mostra do Santo Condestável é bastante recheado. Depois da arruada de tambores, protagonizada pelo grupo do Casal da Madalena, e da inauguração de uma exposição de pintura («De Cernache a Ponte de Lima», dos pintores Anabela Ramos e Américo Carneiro), o dia de sexta-feira será preenchido com as actuações do Rancho Folclórico Clube Bonjardim, das Dance Club e de Fernando Correia Marques.
No sábado, além da tarde desportiva (corrida de carrinhos de rolamentos e torneio de sueca), teremos nova actuação das Dance Club e ainda o espectáculo da cantora brasileira Kátia Salvador.
Já no domingo, a feira contará com diversas actividades desportivas (passeio de motoretas, torneio de futebol de 7, torneio de xinquilho e trial Santo Condestável), uma missa campal em honra de S. Nuno de Santa Maria, uma ‘tarde cultural’ com os vencedores da Noite de Talentos e a actuação do Rancho Folclórico e Etnográfico de Cernache do Bonjardim. No encerramento desta quarta edição actua o grupo Senso Comum.
Aqui fica uma sugestão para o próximo fim-de-semana.

Mapa político-administrativo: extinguir ou não extinguir, eis a questão!

Foi uma ideia apregoada aos quatros ventos pelo Governo socialista, até que a mesma se viu subitamente remetida à gaveta, de modo a evitar as polémicas que já surgiam entre os autarcas. Falo, claro está, da reforma do mapa político-administrativo português, que o Executivo, liderado por José Sócrates, quis levar por diante em 2006.
O projecto de lei nunca viu a luz do dia, mas era do conhecimento de alguns círculos que o objectivo passava por extinguir algumas das 4.259 freguesias existentes, tendo em vista a “racionalização de recursos” (palavras de António Costa, na altura ministro da Administração Interna e hoje presidente da Câmara de Lisboa). Um dos critérios para essa extinção seria o número de eleitores, a que se somaria mais alguns pressupostos, que o Governo nunca revelou.
O novo mapa administrativo chegou a estar ‘desenhado’, sendo que, por exemplo, o concelho da Sertã veria o seu número de freguesias reduzido das actuais 14 para apenas 9.
Tudo isto vem a propósito de uma reportagem publicada, no passado domingo, no jornal Público, onde João Ferrão, investigador da Universidade de Lisboa e ex-secretário de Estado socialista do Ordenamento do Território, defendeu que era necessário voltar a colocar na ordem do dia a discussão sobre “a rectificação do mapa político-administrativo do país”. E logo ali se percebeu qual é a sua posição: “Numa área em que a densidade populacional já não justifica uma extensão do centro de saúde e uma escola, faz sentido ter uma junta de freguesia?”.
Apesar de não partilhar das opiniões de João Ferrão, ainda que as mesmas sejam fundamentadas por um dos nossos maiores especialistas em geografia humana, penso que será necessário abrir este debate, quanto mais não seja para que se discuta de forma clara esta questão, colocando de lado as cegueiras partidárias (para não dizer outra coisa!!!) que muitas vezes reduzem à banalidade discussões sérias e pertinentes.
Claro que será um debate polémico, mas ele é fundamental para o futuro do nosso paíss. Se todas as 4.259 freguesias actualmente existentes são necessárias, isso é outra conversa, mas tenho para mim que as populações têm aqui uma importante palavra a dizer.

sábado, 28 de agosto de 2010

Memórias: Igreja Matriz de Cernache do Bonjardim

A Igreja Matriz de Cernache do Bonjardim está hoje em destaque nas nossas memórias. A foto que reproduzimos foi tirada, em 1966, por António Passaporte (cortesia do Arquivo Fotográfico da Câmara de Lisboa) e dá-nos uma ideia da beleza deste templo, cuja construção se iniciou pouco depois da criação da freguesia de Cernache, em 1555.
Erigida em louvor a S. Sebastião – padroeiro da freguesia – a Igreja Matriz apresenta uma “planta longitudinal”, sendo composta por “três naves de cinco tramos, capela-mor mais estreita, com duas sacristias de planta rectangular adossadas à capela-mor”, além de “duas capelas laterais de planta rectangular adossadas às naves laterais e torre sineira de planta quadrada”.
Entre os destaques deste templo, cuja torre sineira foi demolida e reconstruída em 1893, estão os azulejos setecentistas, que revestem as paredes da capela-mor, e os tectos das naves forrados a madeira. Referência também para os retábulos de talha barroca joanina nas capelas laterais e para o órgão positivo neoclássico no lado do Evangelho (adquirido em finais do século XVIII).
Um local de visita obrigatória, até porque é importante conhecer e preservar as riquezas históricas do nosso concelho, que tão pouca atenção têm merecido da parte de quem nos governa. Já agora, será que é desta que o concelho vai ter um museu que ajude a preservar e a conhecer a sua história?

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Incêndios: Já tudo se disse, mas pouco tem sido feito

Os números valem o que valem, mas eles dizem-nos que, entre 1999 e 2009, a área ardida no nosso país foi de 1.570.538 hectares (fonte: ANF). Os incêndios são invariavelmente o triste fado que se repete anualmente sempre que o Verão chega a Portugal e 2010 parece não ser excepção – desde o início do ano registaram-se 14.601 ocorrências de incêndios florestais.
Mais do que lançar achas para a fogueira, importa encarar de forma séria este problema e colocar, de vez, no terreno as medidas/soluções que têm vindo a ser preconizadas ao longo dos últimos anos – e não são tão poucas como isso! Seria também um sinal positivo sentar à mesma mesa todas as partes envolvidas neste processo (Governo, bombeiros, protecção civil, câmaras municipais, proprietários florestais, entre outros), visando a procura de consensos que são fundamentais.
Tenho para mim que este debate não pode acontecer em pleno teatro de operações, com as chamas como pano de fundo e os gritos das populações a servir de banda sonora, como temos assistido diariamente nos meios de comunicação social. Isto porque, entre as palermices do ministro da Agricultura (há anos que o país suspira por alguém competente nesta pasta), as intervenções desnorteadas do ministro da Administração Interna, as férias interrompidas da primeira e segunda figura do Estado (com declarações a raiar a inocuidade e que nada acrescentaram), o desespero dos autarcas a pedir mais meios e a angústia dos bombeiros que não conseguem acorrer a todas as solicitações, aquilo que parece ressaltar é uma terrível sensação de impotência perante tudo o que se passa. E o país não pode viver assim!
Se em alguns casos, pouco ou nada podemos fazer (vários especialistas defendem que as condições climatéricas adversas, que conjugam altas temperaturas com ventos mais secos, são uma das razões que dificultam a extinção dos fogos e contribuem para a sua grande extensão), noutros há, em que nem tudo tem sido feito. Por exemplo, Paulo Fernandes, investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), queixa-se, num estudo apresentado recentemente, da “muita desorganização no combate aos incêndios” e de “problemas na formação de quem comanda”. Para o especialista, os comandantes das operações no terreno “não sabem ler o incêndio”.Já Rosário Alves, directora executiva da Forestis, coloca o dedo na ferida e defende um “contrato social entre proprietários, indústria e Estado” para tornar a floresta mais ‘resiliente’. Esta responsável diz que falta concretizar “no terreno” as medidas planeadas aquando da criação das “zonas de intervenção florestal (ZIF)”: “O Proder tardou a iniciar-se e não há ainda reflexos desse investimento”. “Há falta de gestão do território”, constata Rosário Alves.
Um artigo de opinião, publicado na passada semana e assinado por José Manuel Fernandes, acrescenta alguns elementos a este debate. Segundo ele, a primeira razão por que ocorrem fogos de grandes dimensões e consequências catastróficas é “a existência de uma excessiva concentração de biomassa em manchas contínuas. Se não houver suficiente madeira acumulada e matos ressequidos, não há fogos. Quando, em contrapartida, existem manchas florestais contínuas de espécies altamente inflamáveis e nunca se limpam as matas, qualquer pequeno acidente ou descuido é suficiente para que, havendo uma ignição, o fogo progrida de forma galopante e incontrolável. Basta estar mais calor e algum vento. (…) Ora o que sabemos é que, neste domínio, pouco se fez, e o que se fez não chega para produzir frutos. Primeiro porque, fora das áreas das florestas de produção geridas pelas empresas de celuloses, o ordenamento florestal é quase inexistente. Depois, porque as associações de produtores florestais – única forma de ultrapassar os problemas colocados por um mundo rural dominado pelo minifúndio – arrancaram de forma deficiente e, por atrasos no Proder, estão estranguladas financeiramente”.
Mas nem tudo é mau e o Pinhal Interior (onde o concelho da Sertã está inserido) foi ainda ontem elogiado por especialistas, ouvidos pelo jornal Público, devido ao reduzido número de incêndios florestais em 2010. Segundo a notícia, o Pinhal Interior “deixou de ser das regiões mais castigadas pelos incêndios florestais”, uma situação que poderá ficar a dever-se “ao maior reconhecimento do potencial económico pelas populações que dependem da floresta”.
Para terminar uma palavra de apreço e de homenagem aos nossos bombeiros, que na maioria das ocasiões são quem sofre na pele os erros de planeamento e de gestão dos senhores que se sentam confortavelmente nas secretárias de um qualquer escritório, situado bem longe daquelas terras onde os incêndios lavram com toda a intensidade. Estes mesmos bombeiros são também, por vezes, os alvos preferenciais da ira das populações, que desesperam por salvar os seus haveres. Pior do que tudo, é quando estes soldados da paz perdem a vida a combater os incêndios… e só este Verão já faleceram dois.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Sertanense conhece adversários na 2.ª Divisão

São já conhecidos os adversários do Sertanense na próxima edição do Campeonato Nacional da 2.ª Divisão (Zona Centro), que tem início no dia 12 de Setembro. Na primeira jornada, o clube da Sertã recebe em casa a formação do Esmoriz.
Este campeonato, que tem como grande atractivo a participação de alguns históricos do nosso futebol (desde o antigo campeão nacional Boavista até ao Sporting de Espinho, que militou várias vezes na 1.ª Divisão), será disputado por 16 equipas, sendo o vencedor apurado para uma poule de subida à 2.ª Liga e os últimos quatro classificados automaticamente despromovidos à 3.ª Divisão.
O calendário do Sertanense para a primeira volta desta prova é o seguinte: Esmoriz (casa), Pampilhosa (fora), Cesarense (casa), Sporting Espinho (fora), Aliados Lordelo (casa), Tondela (fora), Tourizense (casa), Anadia (fora), Boavista (casa), Sporting Pombal (fora), União Serra (fora), Coimbrões (casa), Gondomar (fora), Padroense (casa) e Eléctrico Ponte de Sor (fora).
Para esta temporada, o clube sertaginense, que volta a ser orientado por José Bizarro, conta com os seguintes jogadores: guarda-redes - Paulo Salgado, Luís (ex-júnior) e Pedro Fernandes (ex-Desp. Aves); defesas - Hugo Ventosa, Pedro Miguel, David (ex-júnior), António (ex-Praiense) e Adilson (ex-União da Madeira); médios - Idris, Leandro, Casquinha, André, Cepeda (ex-União da Serra), André Santos (ex-Monsanto) e Leo Oliveira (ex-Esmoriz); avançados - Marco Farinha, Nélson (ex-júnior), Tony (ex-Penamacor), Alex (vindo de Cabo Verde), Júlio (ex-Infesta) e Luís Fernando (ex-júnior do Vitória de Setúbal).
Refira-se que no primeiro jogo de preparação desta época, realizado no passado sábado, o Sertanense foi a Viseu vencer o Académico local por 3-2.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Fãs dos Popxula lançam petição na Internet

A ideia é curiosa e tem como objectivo 'convencer' os Popxula a lançar um álbum de originais, "com todas as suas músicas que nós tão bem conhecemos e tanto estimamos em ouvir". A citação pertence a um grupo de fãs da banda que lançou uma petição na Internet, de modo a tentar alcançar este fim.
Na petição (disponível em www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=popxula), pode ler-se que "os Popxula são constituídos por músicos excepcionais, que desde sempre primaram pelo facto de apresentar uma música contrária a todo o tipo de estilos comerciais com que somos antigidos por grande parte dos meios audiovisuais de hoje. Sendo assim, ao longo dos seus anos de existência e de aparições esporádicas ao seu público nunca chegaram a produzir a sua música tendo em conta um meio comercial, sendo que a mesma apenas é passada de 'boca em boca' entre os seus admiradores".
Deste modo, "após largos anos a ouvir a música dos Popxula, nós fãs, acreditamos que cada vez mais está na hora de os Popxula nos presentearem com um álbum de originais com todas as suas músicas, que nós tão bem conhecemos e tanto estimamos em ouvir".


quinta-feira, 29 de julho de 2010

Rock' n’ Sertã volta a dar música nos dias 12 e 13 de Agosto

O festival Rock´ n’ Sertã está de regresso às margens da Ribeira Grande. O evento, que conta com a organização da Câmara da Sertã, tem lugar nos próximos dias 12 e 13 de Agosto (quinta e sexta-feira).
O primeiro dia de concertos conta com as actuações dos Frente 704 (22 horas), Frying Pan (23h), Pedra&Kall (24h) e do Gigolo Dance (1h da madrugada).
Já no dia 13 de Agosto, os Rockabyllio são os primeiros a subir ao palco (22 horas), seguindo-se os Kaviar (23h), os ‘históricos’ Popxula (24h) e a terminar a festa o Dj Bryto (1h da madrugada).
Aqui fica o convite para dois dias de música nas margens da Ribeira da Sertã.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Desemprego e falta de competitividade: realidades a ter em atenção na Sertã

O recente encerramento da MAFREL, e o consequente despedimento de 45 trabalhadores, só na unidade de Cernache de Bonjardim, voltou a trazer à discussão o problema do desemprego na nossa região. Apesar de não ser dos mais afectados pelo fenómeno, o concelho da Sertã precisa de olhar com atenção para os sinais que vão surgindo.
Para já, o cenário não é de alarmismos, até porque o Centro de Emprego da Sertã, que inclui os concelhos de Oleiros, Proença-a-Nova, Mação, Vila de Rei e Sertã, é aquele que na região Centro apresenta um menor número de desempregados. No passado mês de Junho, estavam inscritas neste centro de emprego 1.132 pessoas, sendo que a maioria era originária do concelho da Sertã (564).
O problema do desemprego é, neste momento, transversal a todo o mundo e em Portugal a taxa de desempregados tem vindo a crescer de forma pronunciada – em Maio estava nos 10,9 por cento, a quarta mais alta no conjunto dos países da OCDE.
A solução para este problema não é fácil, sobretudo num momento em que os países se confrontam com dívidas públicas assustadoras (a portuguesa está a caminho dos 90 por cento do PIB) e os bancos não conseguem encontrar financiamento no mercado interbancário e, portanto, são poucos os que conseguem empréstimos junto da banca.
No entanto, o que nos interessa aqui é o estado actual do emprego (e alguns factores colaterais) no concelho da Sertã. Os dados são escassos e as únicas fontes existentes não são actuais, daí a impossibilidade de apresentar um retrato fiel e fundamentado.
Contudo, e recorrendo às fontes existentes (Censos 2001; Anuário Estatístico da Região Centro 2008; Carta Social do Concelho da Sertã e Agenda 21 Local), podemos constatar que o total da população empregada no concelho ultrapassa as seis mil pessoas, estando a maioria afecta a actividades ligadas aos sectores secundário e terciário. A baixa escolaridade dos trabalhadores é uma evidência, sendo que a maioria não tem mais do que o terceiro ciclo do ensino básico (o equivalente ao 9.º ano). Mais preocupante é o número pouco significativo de trabalhadores com ensino superior (a grande maioria dos sertaginenses com ensino superior não exerce actividade no concelho).
Aliados às poucas qualificações da população existente, estão outros dados ‘esmagadores’, a que poucos têm prestado atenção e que, de certo modo, explicam a falta de competitividade da nossa economia local. Por exemplo, a Agenda 21 Local do município da Sertã alertava, em 2004, para “as poucas oportunidades de emprego” no concelho; para a “incerteza de manutenção e sobrevivência de micro, pequenas e médias empresas ligadas ao sector florestal, em consequência dos incêndios” que ocorrem anualmente; para a “pouca competitividade da actividade agrícola local” devido ao seu carácter minifundiário e ao “fraco associativismo por parte dos agricultores”; para a “reduzida actividade industrial” e também para o facto do “extenso parque industrial atrair sobretudo actividades comerciais e de prestação de serviços”.
Não queremos com isto dizer que tudo está mal na Sertã, até porque o exemplo recente da Central de Biomassa é um importante sinal de mudança neste cenário. Todavia, é pouco para um concelho com enormes potencialidades ao nível da floresta, energias renováveis ou turismo.
Em jeito de conclusão, acrescentemos outro dado que deverá continuar a merecer um olhar atento e que é decisivo inverter nos próximos anos: a perda de população no concelho. Olhando para o período entre 1950 e 2001, verificamos que a Sertã perdeu mais de 40 por cento da sua população residente. Se a isto somarmos o facto de, até 2026, e segundo o estudo Dinâmicas Populacionais e Projecções Demográficas, o concelho poder vir a perder mais de 12 por cento dos seus actuais habitantes, então estamos conversados.

São sinais que devem merecer a nossa atenção/preocupação e que muito do discurso político das últimas décadas (protagonizado por alguns vendedores de ilusões) tem vindo a escamotear, com honrosas excepções.

Sertã poderá vir a contar com novo edifício escolar

O concelho da Sertã poderá vir a ter um novo edifício escolar. O anúncio foi feito por José Farinha Nunes, presidente da Câmara da Sertã, e surge na sequência de uma reunião do autarca com a Secretaria de Estado da Educação, onde se falou da falta de espaço na Escola Básica Integrada (EBI) e das condições da escola Padre António Lourenço Farinha (na foto).
De acordo com a Rádio Condestável, o presidente da Câmara referiu, na reunião do executivo da passada quarta-feira, ter ficado “bem impressionado com o resultado da reunião”, uma vez que “há vontade e faz parte das prioridades do Ministério da Educação a construção de um novo edifício”, o que na sua óptica será “vantajoso” em “termos económicos”. Na referida reunião, onde esteve também presente a vereadora Cláudia André, a autarquia mostrou-se disponível para ceder o terreno para o novo edifício.
A notícia é bem-vinda e a construção de um novo edifício escolar vem responder a um conjunto de necessidades que urge resolver. Todavia, é sempre necessária alguma precaução nestas intenções do Governo, ainda para mais em ano de crise (a questão de quem paga o quê no novo equipamento é decisiva).
Além disso, convém recordar os constantes imbróglios (e atrasos) que se verificaram na construção da escola Padre António Lourenço Farinha, que quando abriu portas já era pequena para o elevado número de alunos que iria receber.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Casa da Água da Foz da Sertã: um triste espectáculo na entrada do concelho

Na fachada pode ler-se «Águas da Foz da Sertã – Posto de Venda e Informações». O nome deve estar a fazer corar de vergonha muita gente, tal é o estado lastimoso em que se encontra este imóvel, situado numa das entradas do concelho da Sertã, mais precisamente na freguesia de Cernache do Bonjardim. Num concelho que se quer afirmar pelo turismo, não deixa de provocar estranheza que quem por aqui entre se depare logo com este triste espectáculo.
Esta casa, que em tempos fez parte do complexo turístico do hotel da Foz da Sertã, está em avançado estado de ruína e a necessitar de intervenção urgente. Em tempos, serviu de posto de recepção para os clientes que pretendiam visitar aquela unidade hoteleira e de posto de venda para aquisição de garrafas de água da Foz da Sertã. Hoje, não serve para grande coisa.
Durante anos, o imóvel permaneceu esquecido, apesar de quando em vez alguém se lembrar dele e chamar a atenção, numa das muitas assembleias municipais cá do burgo, para o seu estado. Ainda recentemente, foi sugerido que o local passasse a funcionar como uma espécie de albergue/casa de apoio aos peregrinos que anualmente por aqui passam em direcção a Fátima.
No entanto, e até que alguém se resolva a fazer alguma coisa, a casa lá continuará a servir de cartão de boas-vindas a todos os que nos visitam.

Povoações: Porto dos Cavaleiros (Várzea dos Cavaleiros)

Diz a tradição que o seu nome deriva do facto de aqui se ter juntado um grupo de cavaleiros que acompanhou Nuno Alvares Pereira na Batalha de Aljubarrota, em 1385. Situada nas margens da Ribeira da Tamolha, a povoação do Porto dos Cavaleiros parece ter muitas histórias para contar.
E no meio de todas essas histórias há uma que merece destaque e que é anterior à que narrámos inicialmente. Corria o ano de 1246, altura em que Portugal vivia uma terrível crise de poder (D. Sancho II era um rei a prazo e o irmão D. Afonso III já sonhava com o trono), quando naquilo que é hoje a Várzea dos Cavaleiros – ou nas suas redondezas – se travou uma batalha entre D. Afonso III e o rei de Castela que veio em defesa de D. Sancho II. A Várzea (que no século XIII dava pelo nome de Tamola) ganhou esta designação em memória da batalha, ao passo que o Porto dos Cavaleiros ficou para a posteridade como o local onde os cavaleiros se juntaram antes do combate.
Ao longo dos séculos, esta povoação viveu sobretudo da fama destes feitos e não tanto dos números da população, que rareava por aqui. Nas várias inquirições realizadas, não há registos de habitantes nos seus limites até finais do século XVIII, altura em que surgem os primeiros fogos. Esta ausência humana não significava, contudo, que a terra estivesse ao abandono, isto porque todos os terrenos da zona eram cultivados por gentes das povoações vizinhas e o local era muito procurado devido à frescura das águas da ribeira (os mais antigos contam que era frequente ver por ali cavaleiros a saciar a sua sede e a das respectivas montadas).
Nos inícios do século XX, o Porto dos Cavaleiros contava seis habitantes (duas famílias), um cenário que hoje está reduzido a apenas dois moradores. Referência neste lugar para o lagar de azeite, bem conhecido em toda a freguesia da Várzea dos Cavaleiros. Os terrenos da povoação continuam também bastante férteis.