sexta-feira, 22 de julho de 2011

Memórias: Capela de São Sebastião



As nossas Memórias são hoje dedicadas à Capela de São Sebastião. Não que o templo tenha desaparecido, mas sim porque a oportunidade se nos afigura como a ideal para trazer à estampa esta foto, da autoria de Olímpio Craveiro.
Sobre a história da Capela de São Sebastião pouco se conhece. Uma recolha rápida de informações permite-nos concluir que, no lugar onde hoje se encontra este templo, existiu uma ermida, onde se veneravam as imagens de Santa Iria e São Crispim. Foi também neste local, mais precisamente numas pequenas casas aqui existentes, que residiram os frades fundadores do Convento de Santo António, Frei Hierónimo de Jesus (natural de Viana do Castelo) e Frei Cristóvão de S. Joseph (natural da Sertã). Aliás, o primeiro destes chegou a ser sepultado nesta ermida, tendo sido mais tarde (1650) transladado para o Convento.
A capela terá sido construída no século XVIII, restando desses primeiros tempos apenas umas pinturas quase imperceptíveis no arco-mestre. Ao longo dos anos, as várias intervenções que sofreu descaracterizaram bastante o interior deste templo religioso, situado junto à zona da Carvalha.

Povoações: Serra do Pinheiro (freguesia da Sertã)

O nome original deve-o a um dos seus habitantes mais ilustres, apesar de hoje todos conhecerem a povoação por Serra do Pinheiro. Mas em tempos mais recuados, a designação deste lugar era outra, mais precisamente Serra de Pedro Nunes.
De Pedro Nunes pouco ou nada se sabe, além de que foi um proprietário bastante abastado e que viu o seu filho (João Nunes) casar em Cernache do Bonjardim, no dia 25 de Setembro de 1580, com Catarina Colaço.
Quando por aqui morou, a povoação chamava-se apenas Serra, sendo de crer que os seus limites abarcavam também o território vizinho, hoje conhecido por Serra de São Domingos. Foi já depois da morte de Pedro Nunes e em sua homenagem que o lugar passou a ser conhecido por Serra de Pedro Nunes.
Segundo as Inquirições mandadas fazer pelo rei D. Manuel I, em 1527, a Serra de Pedro Nunes possuía nessa altura apenas cinco fogos, um número que passou para o dobro (11) em 1730, altura em que se fizeram novas inquirições régias.
A povoação fazia parte da Capelania de São Domingos, juntamente com os lugares de Amioso, Cimo da Ribeira, Verdelhos, Picoto e Picotinho, Serra de São Domingos, Herdade, Passaria (antigamente conhecida por Aldeia de Maria Vicente) e Venestal. Refira-se que a criação desta capelania remonta aos finais do século XVIII, altura em que, devido à grande extensão da freguesia da Sertã, o Grão Priorado da Sertã decidiu criar esta e outras capelanias para melhor atender às necessidades litúrgicas e espirituais dos fiéis. Cada capelania tinha uma capela, onde era servido um capelão dizer missa aos domingos e dias santos. O primeiro capelão da Capelania de São Domingos foi João Nunes.
A agricultura e, mais tarde, a exploração florestal eram as principais fontes de subsistência dos habitantes da Serra de Pedro Nunes, que em 1911 ultrapassavam já a centena de indivíduos, espalhados por 23 fogos.
Não se sabe quando é que o nome actual (Serra do Pinheiro) começou a ser utilizado mas alguns documentos dos finais do século XVIII já veiculam esta nova designação.
Hoje, a Serra do Pinheiro continua a contar com um número bastante assinalável de habitantes, apesar de alguns se terem ausentado para o estrangeiro ou para a cidade de Lisboa.

Fontes: Casa do Infantado (Maço 120); Certã Ennobrecida (Manso de Lima); Antiguidades, Famílias e Varões de Sernache do Bonjardim (Cândido Teixeira); Cadastro da População do Reyno; A Sertã e o seu Concelho (António Lourenço Farinha)

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Sertã continua a perder população

Os dados preliminares dos Censos 2011 vieram confirmar o que já há muito se especulava. O concelho da Sertã voltou a perder população nos últimos dez anos, um cenário que se mantém ininterruptamente desde 1960, altura em que o número de habitantes chegou aos 27.997.
Olhando para os números agora revelados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), temos que a Sertã regista, em 2011, uma população residente de 15.927 indivíduos, um valor abaixo do verificado em 2001 (16.720 habitantes), ano que foi efectuado o último Censos. Quer isto dizer que nos últimos dez anos, a Sertã perdeu 4,74 por cento da sua população, um valor que, ainda assim, fica abaixo da queda verificada entre 1991 e 2001 (8,1 por cento).
No conjunto da Zona do Pinhal, apenas Vila de Rei não perdeu habitantes na última década (variação positiva de 2,83 por cento), enquanto Proença-a-Nova (-14,02 por cento) e Oleiros (-14,60 por cento) sofreram quedas bastante acentuadas entre a sua população residente. No distrito de Castelo Branco, além de Vila de Rei, apenas o município da capital de distrito não perdeu gente (aumento de 0,58 por cento), sendo que os restantes viram a sua demografia baixar consideravelmente, como sucedeu, por exemplo, com Idanha-a-Nova (-17,69 por cento).
Posto isto, e voltando à Sertã, urge analisar estes números de forma fria e objectiva. Claro que os discursos políticos dos últimos dias nos disseram que a situação é um reflexo do fosso, cada vez maior, existente entre o Interior e o Litoral, de várias decisões erradas dos nossos governantes (encerramento de escolas, centros de saúde e de outros serviços públicos), do desinvestimento numa larga faixa do nosso território e da dificuldade em fixar populações no Interior.
Tudo isto é verdade, mas tudo isto é também reflexo de alguma acomodação. Por exemplo, no caso da Sertã, é triste verificar que ao longo dos últimos 30 anos, poucas vezes o problema do despovoamento foi discutido de forma aberta e frontal, de modo a tentar identificar as causas e apontar as soluções. Porque se o problema é difícil de inverter, pelo menos o desígnio deveria ser o de manter a população que ainda hoje por aqui reside.
Uma iniciativa bastante salutar teve lugar em 2008, quando foi apresentado o estudo «Dinâmicas Populacionais e Projecções Demográficas da Sertã», que analisava o passado e o futuro da nossa população. Além de ficarmos a saber que a Sertã tinha perdido 42 por cento da sua população, nos últimos 50 anos, era-nos revelado que o concelho poderia perder, nos 25 anos seguintes, mais 11 por cento dos seus habitantes. Para já, perdemos 4,74 por cento, não sendo despiciente pensar que estamos no ‘bom caminho’ para perder ainda mais gente.
Com estes dados em cima da mesa, não podemos ficar de braços cruzados. O debate tem que ser sério e não marcado por agendas políticas, sempre dúbias e que poucas vezes obedecem aos interesses da nossa região.
Começa a ser tempo de os nossos representantes olharem de frente para o problema e não o arrumarem ‘debaixo do tapete’. E este debate já devia ter começado há 30 anos!

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Maranho e Bucho em destaque no Festival de Gastronomia

O «Festival de Gastronomia: Maranho e Bucho» tem início no próximo dia 8 de Julho e decorre até 10 do mesmo mês. O certame realiza-se na Alameda da Carvalha, na Sertã, e conta com várias iniciativas ao longo dos três dias.
Este festival pretende “contribuir de forma sólida e consistente para a divulgação de um importante recurso sócio-económico da região que é a nossa gastronomia tradicional”, sublinhou José Farinha Nunes, presidente da Câmara da Sertã, que acrescentou: “O Maranho e o Bucho são produtos que importa defender e divulgar, dando-lhes visibilidade e permitindo que a sua fama atravesse as fronteiras da nossa região”.

O evento tem início na sexta-feira, 8 de Julho, com um workshop, subordinado ao tema «Gastronomia Vector Estratégico para o Turismo», que contará com as presenças de Daniela Araújo, Doutorada em Ciências Sociais pela UTAD e antropóloga no Museu de Arte Popular em Lisboa, Jorge Santos, professor na Escola Tecnológica e Profissional da Sertã, Pedro Martins Araújo, Chefe Executivo do Grupo AXIS, e Joel Hasse Ferreira, professor do Instituto Superior de Ciências da Administração (Grupo Lusófona).

O programa do primeiro dia continua depois com as actuações dos Tambores de Casal da Madalena (17h30m), do grupo Vira Milho (21h) e dos Trilhos (22h30m).

Para sábado, está agendada uma “representação viva das tradições do concelho” (16h), com a confecção de Medronho em alambique tradicional e de pão em forno tradicional, além da recriação da Malha do Centeio. Pelas 18 horas, terá lugar um concerto do Grupo Instrumental do CCD da Câmara Municipal da Sertã, e três horas depois avança o encontro de folclore, com as presenças do Rancho Folclórico e Etnográfico de Cernache do Bonjardim, Rancho Folclórico de Penacova, Rancho Folclórico de Pedrogão Pequeno, Rancho Típico de Pombal, Rancho Folclórico do Clube Bonjardim e Rancho Folclórico da Varziela. A fechar a noite (23h), sobem ao palco os Popxula.

No domingo, o programa abre com o Torneio de Sueca Inter-Associações (9h) e com a arruada de Filarmónicas (Filarmónica União Sertaginense, Sociedade Filarmónica Aurora Pedroguense, Sociedade Filarmónica União Maçaense e Sociedade Filarmónica Oleirense) pelas 10 horas. Às 15 horas terá lugar um Encontro de Concertinas (Grupo Seca Adegas, Os Amigos da Concertina de Proença-a-Nova, Grupo de Concertinas da Casa do Benfica de Vila do Rei, Grupo de Concertinas da Conceição, Grupo de Música Popular de Cernache do Bonjardim e José Cláudio & Catarina Brilha).

Na noite de domingo actua a banda Cosmos (21h) e o artista Zézé Fernandes (22h30m).
Ainda durante o «Festival de Gastronomia: Maranho e Bucho» estará patente ao público uma exposição fotográfica, que dará a conhecer os diversos passos da «Confecção do Maranho».

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Fotógrafos sertaginenses expõem em Lisboa

Os artistas sertaginenses continuam a dar cartas um pouco por todo o país. Depois da excelente vitória alcançada pelos músicos Miguel Calhaz e Marco Figueiredo, no festival «Cantar Abril», que decorreu em Almada (http://www.youtube.com/watch?v=v2rvj9-dNa0&feature=related), agora é a vez dos fotógrafos Ângelo Lucas e Humberto Sarmento darem a conhecer uma parte das suas obras nas ruas de Lisboa.
Os dois fotógrafos participam na iniciativa «Lisboa 2011 – A Maior Exposição Fotográfica do Mundo», que se propõe mostrar “exposições de fotógrafos nacionais, internacionais ou mesmo prémios internacionais de fotografia”. A ideia é transformar a cidade alfacinha “numa imensa galeria da arte de fotografar”, sintetizou Aurora Diogo, da organização.
Ângelo Lucas ocupa dois espaços diferentes da cidade de Lisboa. No Casino de Lisboa, apresentou a exposição «áDeriva», que segundo as palavras do próprio, publicadas no website da organização, “não pretende ser um todo homogéneo de imagens. Não conta nenhuma história e não serve nenhum objectivo especifico em conjunto, a não ser talvez o de ser vista e quem sabe, apreciada, foto a foto. Cada imagem nela, é um objecto individual, autónomo, um momento, uma situação, um sítio, uma coisa ou até coisa nenhuma...no fundo àDeriva”.
Quanto à segunda exposição, patente nas arcadas Nascente do Terreiro do Paço, o fotojornalista dá uma visão muito própria do Líbano. A exposição, intitulada «Todos os mundos cabem ali», mereceu as seguintes reflexões de Ângelo Lucas: “O Líbano está ao lado de Israel onde também fica a Palestina. Israel e o Líbano estão há muitos anos num estado de guerra latente, que de vez em quando degenera em conflitos violentos, palestinianos e israelitas disputam desde sempre as mesmas terras e também muitas vezes se chocam violentamente”.
Já Humberto Sarmento teve oportunidade de mostrar a sua exposição «O Douro», no interior da Estação de Santa Apolónia. “Falar do Douro, não é apenas falar de um rio ou de uma região. É muito mais do que isso... é falar de toda a sua história e das suas gentes, que o tornam tão especial. Conhecer o Douro não é apenas visitar a região, é partir numa viagem à descoberta de um lugar único, com uma história, cultura e pessoas únicas”, escreveu o fotógrafo sertaginense no website.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Sertã volta a receber final de etapa da Volta a Portugal

A Sertã vai ser novamente palco de uma chegada da Volta a Portugal em bicicleta. A primeira, e única vez, em que isso sucedeu foi em 1976, ou seja, há precisamente 35 anos. O concelho sertaginense receberá, no dia 14 de Agosto (domingo), a penúltima etapa da volta deste ano. A etapa terá partida da Covilhã, não se conhecendo ainda o percurso final, nem quais os locais por onde circularão os corredores.
A Volta a Portugal de 2011 terá 10 etapas, a que se somará o prólogo inicial a disputar, no dia 4 de Agosto, pelas ruas da cidade de Fafe. A etapa que termina na Sertã será antecedida pela ‘tirada rainha’ da prova, precisamente a que tem o seu epílogo na Torre (Serra da Estrela).
Mas recuemos no tempo até 19 de Agosto de 1976 (quinta-feira), o dia em que a Sertã se vestiu de gala para receber, pela primeira vez, uma chegada da Volta a Portugal em bicicleta. A mais longa etapa desse ano ligou Évora à Sertã, numa distância de 185 quilómetros. No final, e perante um enorme banho de gente, Marco Chagas (da equipa Costa do Sol) venceu a tirada, deixando atrás de si Firmino Bernardino (Benfica) e Manuel Silva (FC Porto). Os ‘históricos’ Venceslau Fernandes (Sangalhos) e Joaquim Andrade (Safina) ficaram nas posições seguintes.
O sucesso da chegada da Volta à Sertã foi assinalado pelos principais jornais da época. O jornal «A Bola» escreveu: “Foi impecável a organização da Sertã (…). Uma comissão, da qual faziam parte, entre outros entusiastas, Fiel Farinha, ex-presidente da FPC, Ângelo Farinha, Raul Rodrigues, Amâncio Carvalho e José Maria, conseguiu organizar uma chegada de excelente nível”.
Por sua vez, no jornal «Record» podia ler-se: “Não queremos deixar de fazer uma especial referência à forma como a volta foi recebida na vila da Sertã (…). Ruas completamente lotadas [a linha de meta estava instalada na avenida Gonçalo Rodrigues Caldeira]. Arcos coloridos e alegóricos no enfeite das mesmas. Foguetes a estrelejarem no ar. Uma recepção impecável, em todos os aspectos de organização, quer aos ciclistas quer a toda a caravana”.
No dia seguinte (20 de Agosto de 1976) a Sertã assistiu à partida da etapa que haveria de ter o seu término na Mealhada. O vencedor foi Manuel Caetanita, do Almodôvar. Quanto ao ciclista que triunfou na Volta de 1976, o seu nome foi Firmino Bernardino (Benfica).

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O Interior esquecido – reflexões a propósito do discurso de Cavaco Silva

O presidente da República fez, no passado dia 10 de Junho, um discurso que peca por tardio. A mensagem é válida, actual e pertinente mas não deixa de causar alguma sensaboria que, só em Junho de 2011, e depois de todos os avisos/apelos feitos ao longo dos anos para as assimetrias criadas entre o Litoral e o Interior, para o despovoamento, para a falta de oportunidades de quem optava por resistir à tentação de partir, a preocupação com o Interior tenha-se tornado efectiva. Mas isso não é culpa apenas de Cavaco Silva – o primeiro que falou deste problema sem ser em campanha eleitoral – apesar de o presidente da República também ter a sua culpa no cartório pelo estado a que chegou o Interior do nosso país. Contudo, honra lhe seja feita por ter levantado a questão, ainda para mais num período tão decisivo para Portugal.
Para já, peguemos nas palavras de Cavaco Silva e tentemos perceber o que nos quis dizer o presidente da República. O seu discurso começou de modo lapidar: “Ao escolher Castelo Branco para palco destas celebrações do dia 10 de Junho, pretendo trazer o Interior do país para o centro da agenda nacional, alertando para a questão das desigualdades territoriais do desenvolvimento e para os problemas da interioridade, do envelhecimento e do despovoamento de uma vasta parcela do nosso território”.Com esta frase, Cavaco Silva caracterizou, de forma quase perfeita, aquilo que é actualmente o Interior português, onde o concelho da Sertã se inclui.
Apesar de admitir que este cenário é resultado de “uma tendência estrutural, que não nasceu, sequer, nas últimas décadas”, o presidente lembra – e bem – “o menosprezo dos poderes públicos pela realidade do Interior”, que “obrigaram gerações inteiras a deixar as suas terras, umas vezes rumo ao estrangeiro, outras concentrando-se nas grandes cidades do Litoral, que cresceram de forma desmesurada e, mais ainda, desordenada”.
E a questão do despovoamento surge aqui como central no discurso de Cavaco, que a ela relaciona problemas como o envelhecimento e os fluxos migratórios, “mas também problemas sociais e económicos, como a fragilização dos laços familiares, o desemprego e a delapidação da riqueza criada com muito trabalho e com muitos sacrifícios”. Basta olhar para as vilas e aldeias despovoadas, com as casas a cair e os terrenos, que tanto produziram no passado, votados ao abandono.
O ‘dedo na ferida’ veio logo a seguir: “Portugal foi-se tornando um país desequilibrado, um território a duas velocidades do ponto de vista da distribuição da sua população, mas também no que toca à valorização dos seus activos e ao aproveitamento integral dos seus recursos”.
“O Interior, que contém grandes potencialidades, nomeadamente na agricultura e no turismo, deixou de as aproveitar por uma razão muito simples: perdeu capital humano para o fazer”. E aqui Cavaco falou de duas das mais penosas realidades do Interior, a agricultura e o turismo. Se no primeiro caso, o presidente da República foi um dos grandes responsáveis, enquanto primeiro-ministro, pela forma como a nossa agricultura foi desbaratada e entregue aos senhores de Bruxelas, já no caso do turismo os grandes responsáveis foram os sucessivos governos que tiveram vistas curtas para esta realidade e as autarquias que não souberam definir estratégias coerentes e corajosas que pudessem fazer dos seus concelhos destinos turísticos atractivos. A falta de coordenação entre as câmaras municipais, neste ponto, é também ela desejável.
No que toca à questão do despovoamento, não posso deixar de concordar com Cavaco Silva que chama a atenção para os efeitos nefastos desse mesmo despovoamento e, sobretudo, para aquilo que foi o menosprezo a que o poder em Lisboa condenou as gentes destas regiões. Prometeram-se mundos e fundos e pouco chegou. Não basta dizer que veio muito dinheiro de Bruxelas para as estradas e infra-estruturas da região, até porque, como bem sabemos, o desenvolvimento sustentado não se compadece apenas com estas obras de circunstância que falham quase sempre no essencial.
Mas não podemos culpar apenas o poder central pelo despovoamento, até porque as autarquias locais (apesar de terem assumido um papel fundamental na manutenção da vitalidade que algumas regiões do Interior do país ainda demonstram) têm também culpas no cartório, sobretudo porque foram incapazes de implementar políticas (e não medidas avulsas) que ajudassem na fixação das populações e na atractividade de empresas. É preciso lembrar que o problema não começou com a crise e a incapacidade para dar a volta à situação é visível em algumas autarquias, que infelizmente se partidarizaram em demasia, esquecendo a sua verdadeira função: servir os cidadãos.
Mas isso são contas de outros rosários, porque como bem disse António Barreto, no dia 10 de Junho, “os políticos devem respeitar os empresários e os trabalhadores, o que muitos parecem ter esquecido há algum tempo. Os políticos devem exprimir-se com verdade, princípio moral fundador da liberdade, o que infelizmente tem sido pouco habitual. Os políticos devem dar provas de honestidade e de cordialidade, condições para uma sociedade decente”.
Perante isto, espero que as mentalidades dos nossos decisores políticos possam mudar, para que não voltemos a lamentar-nos disto daqui a 30 anos. Além da agricultura e do turismo, o Interior tem enormes potencialidades em áreas como a floresta e as energias renováveis, que urge aproveitar. Mas não só: “A principal potencialidade do Interior está, no entanto, no espírito que caracteriza as suas populações, as gentes desta terra”.
Antes de terminar apenas uma nota para uma passagem do discurso de Cavaco Silva, em que este lança o apelo para que se preservem tradições e mantenham os vestígios da memória, salvaguardando o património material e imaterial que nos foi legado. Que bom que era que na Sertã, por exemplo, este apelo fosse seguido, para que não nos voltássemos a lamentar de que mais um pedaço de história sertaginense se perdeu… como já tantas vezes sucedeu.

Foto: Presidência da República

segunda-feira, 6 de junho de 2011

ExpoCastelo inaugura a sua sexta edição

É já na próxima sexta-feira que tem início a sexta edição da ExpoCastelo, que decorre até domingo. O certame, organizado pela Junta de Freguesia do Castelo, realiza-se no pavilhão desportivo local e conta com cerca de 40 expositores.
O artesanato, a gastronomia e os produtos regionais estarão em destaque na edição deste ano, que conta também com um extenso programa de actividades. Assim, no dia 10 de Junho (sexta-feira), a ExpoCastelo será inaugurada pelas 19 horas, seguindo-se a apresentação de trabalhos dos alunos do jardim-de-infância e do 1.º ciclo, sobre o tema do «Ano Internacional da Floresta». Pelas 21h30m, serão entregues os diplomas aos melhores alunos do 12.º ano, assim como lembranças aos alunos do jardim-de-infância e do 1.º ciclo. A fechar a noite (23h) avança o espectáculo do artista Sillas da Guitarra e Banda Via Brasil.
O segundo dia deste evento tem início pelas 15h30m, com vários depostos radicais (Kart-Cross e Moto 4). Às 21h30m, será apresentada a Escola de Música do Castelo, seguindo-se a actuação do Grupo de Cantares «Os Maçaenses». A artista Isamar actua pelas 23 horas.
No domingo, tem lugar uma prova de trial 4x4 (início às 14h) e um encontro de artistas de concertina e acordeão (16h). A encerrar as festividades, actua o artista Dinis Brites.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Portugal vai a votos no próximo dia 5 de Junho

As eleições legislativas do próximo dia 5 de Junho trazem, desde logo, um dado novo. Independentemente do resultado das eleições, o ‘vencedor’ será sempre o ‘partido da Troika’ (não confundir com as troikas que se foram fazendo durante os tempos do regime soviético), que por cá deixou as linhas gerais daquilo que terá de ser feito em Portugal nos próximos três anos. E desengane-se quem achar que se podem contornar as medidas previstas – se isso acontecer fecha-se a torneira dos euros. Posto isto, qual é o principal motivo de interesse destas eleições? Saber apenas quem terá a espinhosa missão de colocar em prática o memorando de entendimento celebrado entre Portugal e a já famosa Troika (EU, BCE e FMI).
Olhando para o espectro de candidatos às eleições legislativas, apetece dizer que a Oeste nada de novo. A palavra renovação parece não ter entrado no léxico dos principais partidos portugueses que, no caso do distrito de Castelo Branco, repetem os cabeças de lista: José Sócrates (PS) e Costa Neves (PSD). Contudo, no caso das outras forças partidárias, as estruturas distritais resolveram avançar com novos nomes.
Analisando os candidatos, comecemos pela equipa liderada por José Sócrates, primeiro-ministro demissionário e número um da lista socialista por Castelo Branco. Dele já quase tudo se disse, sobretudo da sua dificuldade em ver e conceber a realidade do país tal como ela é – o seu comportamento durante a crise da dívida portuguesa e o pedido tardio de ajuda poderá ter custado a Portugal muitos anos de crescimento. E nem sequer vale a pena recordar que, durante os seus seis anos de Governo, foi adiando boa parte das reformas estruturais (justiça, administração central e local) de que o país precisava e que terá agora de fazer em meses. Mas nem tudo foi mau e a aposta na qualificação dos cidadãos e nas energias renováveis está aí para o provar.
Devido ao facto do cabeça-de-lista do PS ter sido primeiro-ministro é difícil analisar, de forma precisa, a actividade dos seus eleitos na defesa dos interesses do distrito. Mas a sensação que fica é a de uma enorme decepção, como tem provado a campanha até aqui, centrada, quase exclusivamente, na construção do IC31 e no pagamento de portagens na A23. Claro que a cada visita aos concelhos do distrito, lá surgem as medidas de circunstância e aquelas que mais dizem às populações – no caso da Sertã, é curioso verificar a romaria de políticos que tem visitado o IVS, solidarizando-se com as pretensões dos seus responsáveis…
No caso do PSD, o nome do açoriano Carlos Costa Neves volta a encabeçar a lista por Castelo Branco. Não deixa de ser surpreendente esta escolha, sobretudo de alguém que não conhece minimamente o distrito e cuja acção parlamentar em prol do mesmo foi pouco relevante – as perguntas que dirigiu ao Governo versaram apenas sobre a construção da barragem da Ribeira das Cortes, o acesso à saúde do concelho de Vila de Rei, a ambulância com suporte de vida em Oleiros, a recuperação do edifício do hospital do Fundão, o encerramento de escolas do 1.º ciclo, as portagens na A23 e a desertificação do território. Pouco para quem tanto prometeu!!!
Não deixa de causar alguma estranheza esta insistência do PSD em candidatar, por Castelo Branco, pessoas que não têm qualquer ligação ao distrito – lembram-se de Maria Elisa e Nuno Morais Sarmento? Mais estranho ainda é quando, em quase todas as acções de campanha social-democrata no distrito, o n.º 2 da lista Carlos São Martinho ser a figura em destaque e, para muitos, a escolha natural para n.º 1 da lista.
Não abordaremos, por ora, o programa eleitoral de cada um destes partidos, sobretudo porque ambos se têm esforçado em esconde-lo. O PS insiste nas medidas que já estavam nos programas de 2005 e 2009, ao passo que o PSD apresenta um programa, que parece ter dificuldades em defender junto do eleitorado. Daí que o debate eleitoral se concentre em minudências e coisas inconclusivas. A melhor forma de falar de tudo e de não discutir nada.
Sobre os outros partidos que se apresentam a eleições, o CDS de Paulo Portas escolheu Celeste Capelo para encabeçar a lista dos centristas por Castelo Branco, uma lista onde o sertaginense Pedro Jesus surge em segundo lugar. Não será fácil a este partido eleger um deputado por este círculo, sobretudo se atendermos ao facto de que só em 1976 e 1983, o CDS alcançou tal desiderato.
Ainda assim, esta força partidária parece animada pelas últimas sondagens e pela dinâmica de campanha imposta pelo seu líder.
Do lado do Bloco de Esquerda, Fernando Proença é o cabeça-de-lista e o principal objectivo deverá ser, concerteza, melhorar os 9,06 por cento alcançados nas legislativas de 2009 e que transformaram os bloquistas na terceira força partidária mais votada no distrito.
Vítor Reis Silva será, por seu lado, o candidato da CDU, uma coligação entre o PCP e «Os Verdes», que tem vindo a perder representatividade no distrito. Longe vão os tempos em que a Aliança Povo Unido (coligação entre PCP, «Os Verdes» e MDP/CDE) chegou aos 12,41 por cento no distrito, o que sudeceu em 1979. Como CDU, o melhor resultado foi alcançado em 1987, com 7,10 por cento dos votos.
Pelo círculo de Castelo Branco, concorrem ainda mais cinco partidos: PPM (Pedro Miguel Martins é o cabeça-de-lista), PCTP-MRPP (Rui Oliveira Duarte), Movimento Esperança Portugal (Gonçalo Rebelo Pinto), Partido Nacional Renovador (João Coutinho) e Partido pelos Animais e pela Natureza (Maria Teresa Correia).

Candidatos às eleições legislativas pelo círculo de Castelo Branco:

PS (José Sócrates, Fernando Serrasqueiro, Hortense Martins e Valter Lemos)
PSD (Carlos Costa Neves, Carlos São Martinho, Ana Rita Calmeiro e Álvaro Baptista)
CDS/PP (Celeste Capelo, Pedro Jesus, Aires Patrício e Maria da Graça Sousa)
BE (Fernando Proença, Cristina Guedes, António Pinto e Neli de Ascenção Pereira)
CDU (Vítor Reis Silva, Joaquim Bonifácio da Costa, Marisa Tavares e António de Matos)
PCTP/MRPP (Rui Duarte, José Marrucho, Rosaria Baptista e Luís Mendes)
PPM (Pedro Martins, Tiago Cesário, Susana Mourão e Rafael Peres)
MEP (Gonçalo Pinto, Pedro Venâncio, Maria Teixeira e Jorge Azevedo)
PNR (João Coutinho, João Figueira, Isabel Cruz e Carlos Taborda)
PNA (Maria Teresa Correia, Joaquim Fernandes, Joana Lopes e Ana Catarina dos Santos)

terça-feira, 17 de maio de 2011

Vitória de Sernache fecha época em beleza com conquista da Taça de Honra

O Vitória de Sernache encerrou a sua época em grande, com a conquista da Taça de Honra de Castelo Branco, depois de ter ficado a um passo da subida à 3.ª Divisão no Campeonato Distrital.
Depois de um início de época pouco espectacular, a formação do Vitória de Sernache assinou uma recuperação, a todos os níveis, notável no Campeonato Distrital e chegou mesmo a colocar em risco a mais do que anunciada subida do Penamacorense à 3.ª Divisão.
A equipa vitoriana terminou a primeira fase do Distrital, na terceira posição, somando 37 pontos (11 vitórias, 4 empates e 5 derrotas), marcando 38 golos e sofrendo 18.
Na segunda fase, o Vitória de Sernache não deu hipóteses, vencendo sete dos 10 jogos disputados e sofrendo apenas uma derrota. Não fosse, o melhor coeficiente de pontos que a turma de Penamacor trazia da primeira fase e hoje seriam os comandados de Filipe Avelar a festejar o título.
No entanto, esse título chegou mesmo, no passado domingo, com a vitória sobre o Oleiros, na final da Taça de Honra. Os quatros golos (Maçaroco, Rabat, Santolini e Dário) sem resposta expressaram bem o domínio exercido durante a partida e foram o corolário de um final de época sempre em ascensão – a equipa não perde um jogo desde 13 de Março.
Deixamos em seguida, os jogadores que alinharam ao longo da época pelo Vitória, que começou por ser treinado por Simões Gapo, que viria, mais tarde, a ser substituído primeiro por António Joaquim e depois por Filipe Avelar.
Plantel: Tiago Ribeiro, João Luís, Toni, André Vieira, Dário, Maçaroco, Jorge Pinheiro, Rodrigo, Filipe Avelar (mais tarde assumiu o lugar de treinador), David Vieira, Tiago Farinha, Gameiro, ‘Velho’, M’Passo, Ricardo André, Rabat, Santolini, Rui Barrela e João Gaspar.
O melhor marcador do Sernache, ao longo da prova, foi Rabat.
Aqui ficam os nossos parabéns aos jogadores, equipa técnica e a toda a direcção do Vitória de Sernache pelas conquistas desta época.