A
região Interior do país enfrenta hoje uma série de desafios e, sobretudo, de dificuldades
que a actual crise económica e financeira veio agravar. As assimetrias com o
Litoral são cada vez maiores e o futuro é uma incógnita para esta parte
substancial do território. O despovoamento é um dos exemplos mais visíveis
dessas dificuldades e o problema, caso nada se faça, agravar-se-á nas próximas
décadas.
É
sobre o despovoamento que falaremos hoje. Já aqui abordámos esta matéria em
textos anteriores mas somos ‘obrigados’ a voltar a ela, na sequência da
publicação de um estudo que elenca um conjunto de projecções que colocarão em
perigo a região em que se encontra o concelho da Sertã.
O
estudo demográfico, designado por Demospin, foi elaborado pelas universidades de Aveiro, Beira
Interior e Coimbra e pelos politécnicos de Castelo Branco e Leiria e entre as
conclusões que apresenta há uma que sobressai: o Pinhal Interior Sul (que
engloba os concelhos da Sertã, Proença-a-Nova, Vila de Rei e Oleiros) foi a
região, à escala europeia, que mais população perdeu entre 1950 e 2010 (tinha 90 mil em 1950 e passou a ter 40 mil
habitantes em 2010).
E as
más notícias não se ficam por aqui. Segundo as projecções, até 2040, a região
do Pinhal Interior Sul poderá perder mais 14 mil habitantes, ou seja, no horizonte
temporal definido pelo estudo serão apenas 26 mil os cidadãos residentes nesta
zona do território português, sendo que apenas 3500 habitantes serão menores.
O
problema, apesar de ter no Pinhal Interior Sul o seu exemplo mais extremo, é
transversal a todo o Interior português. Basta lembrar que, de acordo com o
Demospin, se nada for feito nas próximas décadas, até 2040 o Interior deverá perder
157 mil pessoas (menos 30% da população).
Não
deixa de ser curioso que neste estudo sejam desconstruídos alguns dos mitos que
envolvem o despovoamento. Assim, um dos motivos da queda da população está no
facto de que mesmo que não saísse ninguém destes territórios, a população
continuaria a cair, visto que os que morrem são em maior número do que aqueles
que nascem.
Mas as
causas do problema não residem apenas aí. O perfil do fluxo migratório está
actualmente a mudar: no Interior estão a entrar mais idosos e a sair mais jovens.
Perante esta evidência, Eduardo Castro, professor na Universidade de Aveiro e
coordenador do estudo, coloca o ‘dedo na ferida’: “Porque é que os jovens vão
embora e entram idosos? Primeiro porque a atractividade do Interior, em termos
de sossego e qualidade de vida, é melhor para certos grupos etários do que para
os jovens ou porque o perfil de emprego que aqui existe não interessa aos
jovens. O que dizemos é que tem que haver um estudo sério, por parte dos
decisores políticos, de como atrair jovens para o Interior do país. Essa é a
única maneira de reverter esta situação”.
A queda do
emprego é outro dos fenómenos identificados pelo estudo. A perda estimada está
entre os 20 e os 30 por cento no Interior do país, todavia se somarmos estes
números à perda da população é muito provável que os que fiquem não cheguem
para ocupar todas as vagas de emprego existente.
Perante este
cenário, o que fazer? Eduardo
Castro garante que o despovoamento do Interior é um processo que não se vai
resolver naturalmente: “O problema tem de ser resolvido através de políticas
fortes que decorram de decisões de investimento naquelas regiões”. E acrescenta:
“As auto-estradas com portagens, o fecho de hospitais, de tribunais, de escolas
e de outros tantos serviços” contribuem para alimentar o ciclo vicioso do
despovoamento. “Quanto mais se fecha menos gente há”, garante aquele
investigador, que não tem dúvidas de que “o país até pode admitir que é mais
barato colocar as pessoas todas no Litoral, acontece é que o património
histórico e natural se degrada e que uma série de infra-estruturas feitas
para o Interior deixam de fazer sentido porque não há quem as use”.
E
nem será preciso elencar exemplos para aquilo que este professor académico
refere. Posto isto, volto aqui a apelar para que seja efectuada uma reflexão
profunda sobre este e outros estudos que envolvem a Sertã, de modo a que o
problema seja encarado de frente e que não nos resignemos à velha máxima de que
se todo o Interior está a perder gente, resta-nos então perder gente com ele.