A descentralização dos cuidados/serviços de saúde prestados às populações foi uma das grandes conquistas das últimas décadas em Portugal. Apesar de nem sempre os processos terem sido bem conduzidos, os utentes foram beneficiando consideravelmente com este estado de coisas. Todavia, estes tempos de benesses parecem ter chegado ao fim e o Governo prepara-se para efectuar um corte considerável nos apoios à Saúde e reestruturar boa parte dos serviços que lhe estão afectos. E o concelho da Sertã não é excepção.
Se o Executivo liderado por José Sócrates passou seis anos a adiar reformas e a esconder os terríveis ‘buracos’ orçamentais que o Serviço Nacional de Saúde ia gerando, o Governo de Pedro Passos Coelho decidiu que a melhor solução é cortar de forma arbitrária, sem critério (a não ser o económico) e sem atender às necessidades das populações.
E os exemplos aí estão para o demonstrar. Recentemente, segundo a Rádio Condestável, a Unidade Local de Saúde (ULS) de Castelo Branco decidiu reduzir os custos com pessoal nas extensões de saúde, tentando renegociar os acordos de cooperação com as juntas de freguesia, relativamente ao pagamento do pessoal auxiliar. No concelho da Sertã, a ideia é reduzir para metade o apoio ao pessoal afecto à saúde existente nas extensões de Pedrógão Pequeno e Sertã. Ou seja, as juntas de freguesia (que são quem têm acordo, neste particular, com a ULS de Castelo Branco) teriam de passar a suportar o valor que a ULS deixaria de pagar.
A mesma estação de rádio revelou que a juntas de Pedrógão Pequeno e da Sertã, que já admitiram suportar parte do valor, pediram à Câmara da Sertã que suportasse o resto. A autarquia anuiu ao pedido. Todavia, e como bem se lembrou na reunião do Executivo, esta situação poderá atingir em breve as extensões de saúde do Cabeçudo, Troviscal e Várzea dos Cavaleiros. E, portanto, a edilidade poderá ter de abrir ainda mais os cordões à bolsa.
Outro exemplo desta verdadeira demissão do Estado em relação à saúde foi a notícia do encerramento da extensão de saúde do Carvalhal, no passado dia 1 de Abril, a que se deverão seguir, ainda deste mês, as da Cumeada, Marmeleiro e Palhais.
A Rádio Condestável deu conta do encerramento, mas a ideia que transpareceu é que todo o processo foi feito de forma atabalhoada, com os vários protagonistas e decisores políticos a dizerem que não tinham tido conhecimento oficial da decisão. Contudo, não deixa de ser estranho que os jornalistas desta estação de rádio tenham conseguido saber mais, através de uma fonte oficial e acessível a todos, do que os responsáveis eleitos pelas populações para zelarem pelos seus interesses. Parece que os jornalistas são os únicos a fazer o seu trabalho!
Sobre o encerramento destas extensões de saúde, penso que, nalguns casos, se justifica plenamente a decisão do ACES – Agrupamento dos Centros de Saúde, visto que algumas delas não tinham as devidas condições para funcionar (a do Carvalhal não estava sequer informatizada). Todavia, a questão que se coloca é a de saber se o Centro de Saúde da Sertã terá condições para dar resposta a todos estes utentes? É sabido que o centro está a rebentar pelas costuras, que a falta de médicos é gritante e que as instalações não são, nem de perto nem de longe, as adequadas. Aguardam-se as cenas dos próximos capítulos.
Para terminar, um último exemplo e que se prende com algo de que já aqui falámos – a falta de médicos em Cernache do Bonjardim. O presidente da Junta local, Diamantino Calado Pina, citado pela Rádio Condestável, lamenta toda a situação e critica o Ministério da Saúde pelo impasse verificado. Para já, as notícias que correm auguram tempos sombrios para esta mesma extensão de saúde.