A par do desemprego, a saúde é hoje um dos principais problemas com que se depara o concelho da Sertã. As notícias divulgadas recentemente pela Rádio Condestável relativamente à ausência de médicos na Extensão de Saúde de Cernache do Bonjardim, durante uma parte do mês de Agosto, por motivo de férias dos três médicos que ali prestam serviço, é um exemplo do estado a que a saúde chegou no nosso concelho. E se a isto somarmos as condições em que funciona o Centro de Saúde da Sertã, então o cenário fica mais negro.
Mas, para já, concentremo-nos no ‘episódio’ ocorrido na freguesia de Cernache, onde as férias dos três médicos que aí dão consultas coincidiram numa das semanas do mês de Agosto, fazendo com que a Extensão de Saúde local ficasse reduzida a serviços mínimos – nem consultas se podiam marcar! Não está aqui em causa as férias dos médicos, que as merecem como todos os outros profissionais, mas antes o facto deste período de descanso ter coincidido para os três médicos. Será que o escalonamento das férias não poderia ser sido feito de maneira a evitar esta simultaneidade? Recorde-se aqui o sucedido, no ano transacto, na mesma Extensão de Saúde, onde por motivo de férias de uma funcionária, em Agosto, alguns dos utentes tiveram de deslocar-se de véspera a esta extensão para conseguir obter uma simples consulta.
Confrontado pela Rádio Condestável com o cenário ocorrido este ano, o director do Centro de Saúde da Sertã, António Silva, disse tratar-se de uma situação “normalíssima”, que não sucede pela primeira vez, notando ainda que um médico não pode dar consultas a pacientes de outro médico. Tudo isto pode ser verdade, mas também seria legítimo que os utentes desta e de outras zonas do concelho tivessem à disposição outro tipo de serviços de saúde, até porque na hora de pagar impostos o Estado é pouco sensível a qualquer tipo de faltas.
António Silva tem, contudo, razão quando mais à frente, na entrevista à Rádio Condestável, lamenta a falta de médicos no concelho e a impossibilidade de substituir os profissionais que vão de férias. Este é um triste fado do nosso país, que tarda em encontrar uma solução à altura para o problema. O Ministério da Saúde parece andar um pouco desatento, ou então o corte na despesa obriga a uma contenção notória na formação/contratação de novos médicos. Talvez a solução possa passar pela vinda de médicos estrangeiros para o nosso concelho, como sugeriu recentemente o presidente da Câmara, José Farinha Nunes. O exemplo já foi seguido por outros municípios, nomeadamente aqueles que fazem fronteira com Espanha.
Mas não é só em Cernache que os utentes têm razão de queixa. Na Sertã, o Centro de Saúde continua a ‘rebentar pelas costuras’ e o edifício é cada vez mais exíguo e precário para todas as necessidades que se impõem. A acrescentar a este cenário, há ainda as intermináveis filas de espera para obter uma consulta (é vergonhoso que num país civilizado seja preciso ir para a porta do Centro de Saúde de madrugada para conseguir uma consulta), a falta de médicos e de recursos. E já nem falo no serviço de internamento do Centro de Saúde da Sertã, que continua encerrado! Ainda assim, aqui fica uma palavra de apreço para os médicos, enfermeiros e funcionários administrativos do Centro de Saúde que, apesar de todas as limitações, lá vão tentando ‘aguentar o barco’.
Por tudo isto, seria importante encetar um debate sério e abrangente sobre uma matéria tão sensível como a saúde. Se a criação de uma comissão para análise do caso da saúde no concelho da Sertã, o que sucedeu em Abril passado, foi um primeiro passo, seria positivo que essa mesma comissão encabeçasse esta luta. Olhando para o seu ‘caderno de encargos’ é esse o seu propósito e esperamos que assim seja.