A Sertã tem um novo grupo de teatro. A Companhia Teatral da Sertã - A.com.te.ser fará a sua estreia, este fim-de-semana, no Cine-Teatro Tasso (24 de Setembro, 21h) e na Casa da Cultura da Sertã (25 de Setembro, 15h) com a peça «A Maluquinha de Arroios», uma comédia em três actos da autoria de André Brun.
O regresso do teatro à Sertã (no formato de companhia teatral) é uma excelente notícia, sobretudo se tivermos em atenção que já vem de longe a tradição da chamada Sexta Arte (segundo a classificação de Ricciotto Canuto) neste concelho. Os primeiros registos transportam-nos para a década de 1870, altura em que José Pedro Ramalhosa (o decano dos amadores de teatro sertaginense) produziu espectáculos do género em algumas casas de famílias ilustres da Sertã, sendo acompanhado por jovens de fora do concelho.
Mais tarde, António Justino Rossi e Valentim de Sousa Bastos juntaram-se-lhe e começou a ganhar forma a ideia de construir um teatro na vila. O Theatro Instrução e Recreio [que aproveitava o interior da Capela do Espírito Santo – hoje Capela de Nossa Senhora da Conceição] viria a ser inaugurado em 29 de Outubro de 1882. O Teatro Tasso só surgiria mais tarde, em 1915.
A primeira companhia teatral, digna desse nome, a ser constituída na Sertã, foi a Companhia Dramática Certaginense, corria o ano de 1899. Além dos já citados, a companhia incluía Luiz Dias (autor das peças levadas à cena), Adrião David, Tasso de Figueiredo, Henrique de Moura, Francisco Moura e Zeferino Lucas (também responsável pelos cenários).
Mas avancemos no tempo até 2011 e à Companhia Teatral da Sertã - A.com.te.ser, que, fazemos votos, possa vir a somar muitos êxitos no futuro. Sobre a peça que representarão no próximo fim-de-semana, «A Maluquinha de Arroios», foi revelado que se trata de uma história que “fala de jogo, sedução, paixão, equívocos e bacalhau com grão”.
“Baltazar Esteves, o «Esteves do Bacalhau» subiu a pulso na vida, fez fortuna ao balcão a vender bacalhau. É casado com Capitolina e tem um filho que é poeta e uma filha casada com um visconde. Quando entra em cena Alzira de Menezes, uma mulher extremamente sedutora, a quem todos chamam «a Maluquinha de Arroios», os homens da família perdem a cabeça”. É este o mote para a peça que pode ser vista, sábado e domingo, na Sertã.
Aqui fica o convite!
“Daqui a Sertã unida nos seus contornos, robusta nas suas linhas, imponente na sua grandeza, é uma rainha altiva e majestosa que ao abrigo das muralhas inexpugnáveis das suas serranias, pode como no passado desafiar a fúria dos homens e dos séculos”. José Pinto Duarte, escritor
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
Mitos e Lendas do concelho: Um jantar para o Diabo
«Um jantar para o Diabo». É este o nome da lenda que hoje aqui reproduzimos nesta secção de Mitos e Lendas. Trata-se de uma história originária da freguesia do Carvalhal, que foi publicada no livro «Histórias e Superstições na Beira Baixa», de José Carlos Duarte Moura
Aqui vai a transcrição da lenda «Um jantar para o Diabo»: “Em tempos antigos no Carvalhal dos Ramalhos andava um homem a debulhar o trigo numa eira. Quando o trigo estava debulhado, quase à tardinha, o homem queria limpar o trigo, mas não havia vento para ele o limpar. Então o homem disse o seguinte: “Diabo mande vento para limpar o trigo que eu dou-lhe um jantar”. E então de repente, começou a fazer vento e o homem limpou o trigo. Passados anos o homem morreu e não deu o jantar ao Diabo. A alma dele veio ter com a mulher para ela fazer o jantar e ir levá-lo à meia-noite a um cruzamento. Mas tinha de levar colher, garfo, pão, uma garrafa de vinho e uma moeda, chegar ao cruzamento e pôr a mesa no chão.
Aqui vai a transcrição da lenda «Um jantar para o Diabo»: “Em tempos antigos no Carvalhal dos Ramalhos andava um homem a debulhar o trigo numa eira. Quando o trigo estava debulhado, quase à tardinha, o homem queria limpar o trigo, mas não havia vento para ele o limpar. Então o homem disse o seguinte: “Diabo mande vento para limpar o trigo que eu dou-lhe um jantar”. E então de repente, começou a fazer vento e o homem limpou o trigo. Passados anos o homem morreu e não deu o jantar ao Diabo. A alma dele veio ter com a mulher para ela fazer o jantar e ir levá-lo à meia-noite a um cruzamento. Mas tinha de levar colher, garfo, pão, uma garrafa de vinho e uma moeda, chegar ao cruzamento e pôr a mesa no chão.
Os antigos contavam que o jantar era composto por umas batatas guisadas com carne e que à meia-noite, o Diabo, passava por ali a comer o que o homem lhe havia prometido. No dia seguinte de madrugada a mulher do homem ia buscar o tacho que parecia estar lavado, assim como o resto das coisas, mas da moeda nem sinal – tinha-a levado o Diabo”.
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
Escavações arqueológicas nos Paços do Bonjardim
Fernão Lopes, na sua «Crónica de D. João I», diz que Álvaro Gonçalves Pereira “fez na horde muytas obras e boas cousas”, nomeadamente “os paços e assentamento do Boõ Jardim que he obra asaz vistosa e fermosa”. Álvaro Gonçalves Pereira era – como já decerto sabem – pai de Nuno Álvares Pereira e os Paços do Bom Jardim situavam-se nas imediações do actual Seminário das Missões, em Cernache do Bonjardim, tendo servido de berço do Condestável, agora convertido em São Nuno de Santa Maria. Refira-se que, em pleno século XIV, Cernache era apenas conhecida por Bonjardim.
Mas a que propósito vem tudo isto? Logo que a canonização de Nuno Álvares Pereira ganhou forma, começou a falar-se na possibilidade de ser construído um santuário no local onde nascera o novo santo português, ou seja, nos Paços do Bonjardim. Da primitiva construção nada resta, estando o local sinalizado com um pequeno monumento, onde se lê: “Local em que existiam os Paços do Bonjardim, solar da família de Nuno Alvares Pereira, que aqui nasceu em 24 de Junho de 1360” (ver foto).
Dos projectos para o santuário já falaram os órgãos de comunicação social do concelho (apesar de a vontade inicial em levar a cabo o empreendimento estar a esmorecer), mas do que não se falou foi da importância arqueológica de todo este lugar. Não seria de todo conveniente efectuar um levantamento arqueológico de todo o local onde se pensa terem existido os Paços do Bonjardim, buscando artefactos ou outro tipo de materiais que poderão ter pertencido a esse monumento tão “vistoso e fermoso”, como refere o célebre cronista Fernão Lopes?
Esse levantamento só enriqueceria o futuro santuário, que passaria a contar com os hipotéticos achados arqueológicos. Seria mais um argumento para atrair visitantes, além daquele que é o mais óbvio – o culto a São Nuno de Santa Maria.
A questão imediata é quanto poderia custar um trabalho deste género? Concerteza que não custaria tanto como algumas das festas que por aí se fazem e, além disso, existem formas de reduzir os custos – o estabelecimento de parcerias com universidades portuguesas, que tenham cursos de arqueologia, seria uma boa ideia. É que a maioria dos responsáveis por estes cursos organiza campos de férias para os seus alunos, em que são exploradas diferentes zonas do país em busca de mais um pedaço de histórica escondida pelas areias do tempo. Claro que este tipo de operações seriam supervisionadas por arqueólogos qualificados.
Mas a que propósito vem tudo isto? Logo que a canonização de Nuno Álvares Pereira ganhou forma, começou a falar-se na possibilidade de ser construído um santuário no local onde nascera o novo santo português, ou seja, nos Paços do Bonjardim. Da primitiva construção nada resta, estando o local sinalizado com um pequeno monumento, onde se lê: “Local em que existiam os Paços do Bonjardim, solar da família de Nuno Alvares Pereira, que aqui nasceu em 24 de Junho de 1360” (ver foto).
Dos projectos para o santuário já falaram os órgãos de comunicação social do concelho (apesar de a vontade inicial em levar a cabo o empreendimento estar a esmorecer), mas do que não se falou foi da importância arqueológica de todo este lugar. Não seria de todo conveniente efectuar um levantamento arqueológico de todo o local onde se pensa terem existido os Paços do Bonjardim, buscando artefactos ou outro tipo de materiais que poderão ter pertencido a esse monumento tão “vistoso e fermoso”, como refere o célebre cronista Fernão Lopes?
Esse levantamento só enriqueceria o futuro santuário, que passaria a contar com os hipotéticos achados arqueológicos. Seria mais um argumento para atrair visitantes, além daquele que é o mais óbvio – o culto a São Nuno de Santa Maria.
A questão imediata é quanto poderia custar um trabalho deste género? Concerteza que não custaria tanto como algumas das festas que por aí se fazem e, além disso, existem formas de reduzir os custos – o estabelecimento de parcerias com universidades portuguesas, que tenham cursos de arqueologia, seria uma boa ideia. É que a maioria dos responsáveis por estes cursos organiza campos de férias para os seus alunos, em que são exploradas diferentes zonas do país em busca de mais um pedaço de histórica escondida pelas areias do tempo. Claro que este tipo de operações seriam supervisionadas por arqueólogos qualificados.
Não tenho dúvidas de que todos teriam a ganhar com isto, tal como todo o concelho ganhou quando, nos anos de 1995 e 1996, o arqueólogo Carlos Batata levou a cabo um conjunto de escavações arqueológicas que permitiram reescrever alguns dos episódios perdidos da história da Sertã e, ao mesmo tempo, desfazer mitos. Pena é que o trabalho não tenha tido sequência e que parte dos achados permaneçam escondidos e encaixotados numa qualquer cave deste país.
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
O eterno problema da saúde no concelho da Sertã
A par do desemprego, a saúde é hoje um dos principais problemas com que se depara o concelho da Sertã. As notícias divulgadas recentemente pela Rádio Condestável relativamente à ausência de médicos na Extensão de Saúde de Cernache do Bonjardim, durante uma parte do mês de Agosto, por motivo de férias dos três médicos que ali prestam serviço, é um exemplo do estado a que a saúde chegou no nosso concelho. E se a isto somarmos as condições em que funciona o Centro de Saúde da Sertã, então o cenário fica mais negro.
Mas, para já, concentremo-nos no ‘episódio’ ocorrido na freguesia de Cernache, onde as férias dos três médicos que aí dão consultas coincidiram numa das semanas do mês de Agosto, fazendo com que a Extensão de Saúde local ficasse reduzida a serviços mínimos – nem consultas se podiam marcar! Não está aqui em causa as férias dos médicos, que as merecem como todos os outros profissionais, mas antes o facto deste período de descanso ter coincidido para os três médicos. Será que o escalonamento das férias não poderia ser sido feito de maneira a evitar esta simultaneidade? Recorde-se aqui o sucedido, no ano transacto, na mesma Extensão de Saúde, onde por motivo de férias de uma funcionária, em Agosto, alguns dos utentes tiveram de deslocar-se de véspera a esta extensão para conseguir obter uma simples consulta.
Confrontado pela Rádio Condestável com o cenário ocorrido este ano, o director do Centro de Saúde da Sertã, António Silva, disse tratar-se de uma situação “normalíssima”, que não sucede pela primeira vez, notando ainda que um médico não pode dar consultas a pacientes de outro médico. Tudo isto pode ser verdade, mas também seria legítimo que os utentes desta e de outras zonas do concelho tivessem à disposição outro tipo de serviços de saúde, até porque na hora de pagar impostos o Estado é pouco sensível a qualquer tipo de faltas.
António Silva tem, contudo, razão quando mais à frente, na entrevista à Rádio Condestável, lamenta a falta de médicos no concelho e a impossibilidade de substituir os profissionais que vão de férias. Este é um triste fado do nosso país, que tarda em encontrar uma solução à altura para o problema. O Ministério da Saúde parece andar um pouco desatento, ou então o corte na despesa obriga a uma contenção notória na formação/contratação de novos médicos. Talvez a solução possa passar pela vinda de médicos estrangeiros para o nosso concelho, como sugeriu recentemente o presidente da Câmara, José Farinha Nunes. O exemplo já foi seguido por outros municípios, nomeadamente aqueles que fazem fronteira com Espanha.
Mas não é só em Cernache que os utentes têm razão de queixa. Na Sertã, o Centro de Saúde continua a ‘rebentar pelas costuras’ e o edifício é cada vez mais exíguo e precário para todas as necessidades que se impõem. A acrescentar a este cenário, há ainda as intermináveis filas de espera para obter uma consulta (é vergonhoso que num país civilizado seja preciso ir para a porta do Centro de Saúde de madrugada para conseguir uma consulta), a falta de médicos e de recursos. E já nem falo no serviço de internamento do Centro de Saúde da Sertã, que continua encerrado! Ainda assim, aqui fica uma palavra de apreço para os médicos, enfermeiros e funcionários administrativos do Centro de Saúde que, apesar de todas as limitações, lá vão tentando ‘aguentar o barco’.
Por tudo isto, seria importante encetar um debate sério e abrangente sobre uma matéria tão sensível como a saúde. Se a criação de uma comissão para análise do caso da saúde no concelho da Sertã, o que sucedeu em Abril passado, foi um primeiro passo, seria positivo que essa mesma comissão encabeçasse esta luta. Olhando para o seu ‘caderno de encargos’ é esse o seu propósito e esperamos que assim seja.
Mas, para já, concentremo-nos no ‘episódio’ ocorrido na freguesia de Cernache, onde as férias dos três médicos que aí dão consultas coincidiram numa das semanas do mês de Agosto, fazendo com que a Extensão de Saúde local ficasse reduzida a serviços mínimos – nem consultas se podiam marcar! Não está aqui em causa as férias dos médicos, que as merecem como todos os outros profissionais, mas antes o facto deste período de descanso ter coincidido para os três médicos. Será que o escalonamento das férias não poderia ser sido feito de maneira a evitar esta simultaneidade? Recorde-se aqui o sucedido, no ano transacto, na mesma Extensão de Saúde, onde por motivo de férias de uma funcionária, em Agosto, alguns dos utentes tiveram de deslocar-se de véspera a esta extensão para conseguir obter uma simples consulta.
Confrontado pela Rádio Condestável com o cenário ocorrido este ano, o director do Centro de Saúde da Sertã, António Silva, disse tratar-se de uma situação “normalíssima”, que não sucede pela primeira vez, notando ainda que um médico não pode dar consultas a pacientes de outro médico. Tudo isto pode ser verdade, mas também seria legítimo que os utentes desta e de outras zonas do concelho tivessem à disposição outro tipo de serviços de saúde, até porque na hora de pagar impostos o Estado é pouco sensível a qualquer tipo de faltas.
António Silva tem, contudo, razão quando mais à frente, na entrevista à Rádio Condestável, lamenta a falta de médicos no concelho e a impossibilidade de substituir os profissionais que vão de férias. Este é um triste fado do nosso país, que tarda em encontrar uma solução à altura para o problema. O Ministério da Saúde parece andar um pouco desatento, ou então o corte na despesa obriga a uma contenção notória na formação/contratação de novos médicos. Talvez a solução possa passar pela vinda de médicos estrangeiros para o nosso concelho, como sugeriu recentemente o presidente da Câmara, José Farinha Nunes. O exemplo já foi seguido por outros municípios, nomeadamente aqueles que fazem fronteira com Espanha.
Mas não é só em Cernache que os utentes têm razão de queixa. Na Sertã, o Centro de Saúde continua a ‘rebentar pelas costuras’ e o edifício é cada vez mais exíguo e precário para todas as necessidades que se impõem. A acrescentar a este cenário, há ainda as intermináveis filas de espera para obter uma consulta (é vergonhoso que num país civilizado seja preciso ir para a porta do Centro de Saúde de madrugada para conseguir uma consulta), a falta de médicos e de recursos. E já nem falo no serviço de internamento do Centro de Saúde da Sertã, que continua encerrado! Ainda assim, aqui fica uma palavra de apreço para os médicos, enfermeiros e funcionários administrativos do Centro de Saúde que, apesar de todas as limitações, lá vão tentando ‘aguentar o barco’.
Por tudo isto, seria importante encetar um debate sério e abrangente sobre uma matéria tão sensível como a saúde. Se a criação de uma comissão para análise do caso da saúde no concelho da Sertã, o que sucedeu em Abril passado, foi um primeiro passo, seria positivo que essa mesma comissão encabeçasse esta luta. Olhando para o seu ‘caderno de encargos’ é esse o seu propósito e esperamos que assim seja.