segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A Sertã e o desemprego

O desemprego está novamente a crescer no concelho, depois de um abrandamento verificado nos últimos meses de 2010. Segundo dados disponibilizados pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), no seu sítio de Internet, a Sertã registava 583 desempregados, no passado mês de Janeiro, um número superior aos 553 de Dezembro de 2010.
Olhando para as estatísticas, é possível concluir que a curva descendente do desemprego inverteu-se no último mês de 2010. Depois de a Sertã ter chegado a contar com 647 desempregados, em Agosto de 2010, este número começou a baixar nos meses de Setembro (620), Outubro (608) e Novembro (542), voltando a subir em Dezembro (553) e em Janeiro de 2011 (583).
Estes são dados bastante preocupantes, ainda para mais se tivermos em atenção que a população activa do concelho não deverá ultrapassar em muito as seis mil pessoas (de acordo com algumas fontes estatísticas, que carecem de revisão).
Como já aqui dissemos, o problema do desemprego é um dos mais sensíveis para as gentes do nosso concelho e a falta de emprego um dos motivos para que parte da população, sobretudo os mais jovens, rume a outras paragens, despovoando a Sertã – a curiosidade é enorme para saber os resultados demográficos dos Censos que se realizarão este ano.
Um dado importante a reter é a baixa qualificação da população existente (a Sertã, à semelhança de boa parte dos concelhos do Interior, não consegue fixar população qualificada nem tampouco dá resposta aos qualificados que por aqui querem ficar), o que, de certo modo, limita o universo de empresas que poderão investir por estas paragens, algo que aliás nem sequer se tem visto nestes últimos tempos (com algumas honrosas excepções).
Para perceber melhor tudo isto, recuemos até 2004, altura em que o anterior executivo socialista lançou a Agenda 21 Local do município da Sertã [um verdadeiro oásis que não encontrou sequência], que alertava para “as poucas oportunidades de emprego” no concelho, para a “incerteza de manutenção e sobrevivência de micro, pequenas e médias empresas ligadas ao sector florestal, em consequência dos incêndios” e para a “pouca competitividade da actividade agrícola local” devido ao seu carácter minifundiário. O mesmo documento chamava ainda a atenção para o “fraco associativismo por parte dos agricultores” e para a “reduzida actividade industrial”.

O impasse que se tem verificado no alargamento das zonas industriais da Sertã e de Cernache pode explicar muita coisa, mas é preciso fazer algo mais para tornar o concelho competitivo e mais atractivo para os empresários. E como já se percebeu não são as ‘feiras’ (que mais não são do que desculpas para mais uma ‘festarola’ e não mostram grande capacidade de atrair investimento) nem as declarações de circunstância, sempre que os meios de comunicação nacionais nos visitam, que mudarão o actual cenário. Exige-se uma atitude diferente e um pensamento estratégico para esta questão, sob pena de a Sertã poder transformar-se, daqui a 40 anos, num enorme asilo (sem querer ofender os mais idosos) e num concelho sem futuro.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Jornais antigos: Voz do Povo

Divulgar “a propaganda republicana” e difundir “os princípios liberais”. Estes eram os grandes objectivos da Comissão Municipal Republicana (aqui baptizada de Empreza de Propaganda Liberal) para o jornal «Voz do Povo», criado no seu seio em 4 de Dezembro de 1910. A nova publicação, que durou até 30 de Novembro de 1913, tinha como administrador Zeferino Lucas, director António Augusto Rodrigues e editor Luís Domingues da Silva Dias.
O forte cunho republicano deste jornal fez-se notar ao longo das suas 157 edições, sendo certo que os seus responsáveis visavam, em primeiro lugar, o “bem da nossa terra”. No segundo número da «Voz do Povo», podia ler-se: “Apenas advogamos a necessidade d’uma leal conjuncção de esforços no sentido de elevarmos esta terra ao maior gráo de progresso que seja compatível com a sua situação, e de fazer frente – com probabilidades de victoria – a qualquer assalto que aos seus justificados direitos porventura seja dirigido”.
Esta publicação foi bastante influente no concelho e nela foram dadas a conhecer diversas matérias, até aqui, ignoradas pelos seus leitores. A vida política, social e cultural tinha um papel importante no jornal, que não esquecia também os artigos de opinião assinados por alguns dos ilustres cidadãos da época.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A floresta e a pouca atenção que lhe tem sido devotada

As Nações Unidades declararam 2011 como o Ano Internacional das Florestas. E para assinalar estas comemorações nada melhor do que reflectir um pouco sobre o estado das florestas aqui em Portugal.
Para ponto de partida, nada melhor do que relermos o artigo de opinião (publicado no jornal Público de 2 de Fevereiro) assinado por Rui de Sousa Barreiro, secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural. Diz o nosso governante que a floresta ocupa mais de 3,4 milhões de hectares do território nacional, o que representa uma taxa de arborização de cerca de 39 por cento do território. O pinheiro bravo, o sobreiro e o eucalipto ocupam, no seu conjunto, quase 75 por cento da área de floresta. E esta vasta área está na base de “um sector da economia competitivo e dinâmico que representa cerca de três por cento do PIB nacional e assegura mais de 260 mil postos de trabalho directos e indirectos”.
O secretário de Estado elenca ainda tudo o que este Governo tem feito pela nossa floresta: as Zonas de Intervenção Florestal (que abrangem uma área de 670 mil hectares); a certificação florestal (o Governo acredita que, em 2013, pode ter 500 mil hectares de área florestal certificada) e o reforço do Fundo Florestal Permanente.
Quem ler o artigo pensará que o estado das nossas florestas é idílico e que o Governo tem feito um trabalho de se lhe tirar o chapéu. O problema é que o artigo do nosso governante não conta toda a história, ou melhor, conta apenas o lado bom da história.
E qual é o outro lado? Talvez seja bom começar por lembrar a Rui de Sousa Barreiro que, entre 1999 e 2010, a área ardida no nosso país foi de cerca de 1.696.390 hectares (fonte: ANF), e que as suas tão ‘queridas’ Zonas de Intervenção Florestal tardam em ter execução prática no terreno.
É fácil dizer que o nosso país tem todas as condições para ver na floresta um sector decisivo para o futuro da sua economia, o grande problema é que Governo, proprietários e Indústria pouco ou nada têm feito para preservar este nosso precioso bem, que é responsável por sequestrar anualmente mais de 289 milhões de toneladas de dióxido de carbono.
E se dúvidas existissem, basta lembrar o que disse recentemente a Quercus: “A falta de conservação da floresta portuguesa tem sido a grande falha no combate aos incêndios dos últimos anos”. Se a isto juntarmos o que escreveu José Manuel Fernandes no final do ano passado, então temos o retrato completo: “A primeira razão por que ocorrem fogos de grandes dimensões e consequências catastróficas é a existência de uma excessiva concentração de biomassa em manchas contínuas. Se não houver suficiente madeira acumulada e matos ressequidos, não há fogos. Quando, em contrapartida, existem manchas florestais contínuas de espécies altamente inflamáveis e nunca se limpam as matas, qualquer pequeno acidente ou descuido é suficiente para que, havendo uma ignição, o fogo progrida de forma galopante e incontrolável. (…) Ora o que sabemos é que, neste domínio, pouco se fez, e o que se fez não chega para produzir frutos. Primeiro porque, fora das áreas das florestas de produção geridas pelas empresas de celuloses, o ordenamento florestal é quase inexistente. Depois, porque as associações de produtores florestais – única forma de ultrapassar os problemas colocados por um mundo rural dominado pelo minifúndio – arrancaram de forma deficiente e, por atrasos no Proder, estão estranguladas financeiramente”.
Outra coisa que o nosso governante se esqueceu de dizer foi que o nosso Estado tem prestado pouca atenção à dispersão urbanística nos espaços florestais. Tal como diz a Quercus, “Portugal parece particularmente empenhado em destruir a sua própria floresta, autorizando diversos projectos de urbanização em áreas condicionadas, nomeadamente áreas de montado de sobro e azinho e florestas litorais”.
A tudo isto há a somar o falta de diálogo entre todos os intervenientes neste processo. A este propósito, Rosário Alves, directora executiva da Forestis, defende um “contrato social entre proprietários, indústria e Estado” para tornar a floresta mais ‘resiliente’.
Talvez fosse bom aproveitar este Ano Internacional das Florestas para pensar melhor o que temos andado a fazer com este nosso verdadeiro tesouro. Porque a este ritmo de destruição, um dia destes somos capazes de estar aqui a lamentar algo bem mais triste….

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A tragédia que nos deu a conhecer a família Sertã

A recente tragédia no Brasil, onde violentas cheias provocaram mais de 800 mortos na região serrana do estado do Rio de Janeiro, trouxe ao nosso encontro uma conhecida família brasileira, cujas origens remontam ao século XIX e mais precisamente ao concelho da Sertã.
Para contar a história é preciso ir até ao município de Nova Friburgo, um dos mais atingidos pelas cheias e cujo hospital nos chamou a atenção devido ao seu sugestivo nome – Raul Sertã. Colocada a investigação em campo, foi possível apurar que este ilustre cidadão da cidade é descendente de um dos muitos sertaginenses que emigraram para o Brasil no século XIX.
Este emigrante, que dava pelo nome de António Lopes Sertã (pensamos que o apelido foi adoptado em jeito de homenagem à sua vila natal), nasceu em 1851, na Sertã, e emigrou ainda muito jovem para terras de Vera Cruz.
Sabemos que quando chegou ao Brasil trabalhou como mascate (uma espécie de vendedor ambulante) e que vinha periodicamente a Nova Friburgo (colonizada, no início do século XIX, por 261 famílias suíças, que baptizaram o lugar com o nome da cidade de onde provinha a maioria). Aí se apaixonou por Elisa Ferreira e com ela teve seis filhos (Licínio, Mário, Raul, Alfredo, Aníbal, António e Hilda – os dois últimos morreram antes de completarem 22 anos de idade).
António Lopes Sertã faleceu aos 46 anos, numa altura em que já acumulara grande fortuna, sobretudo devido à empresa de comércio do sogro, o conhecido Joaquim Tomé Ferreira (também ele emigrante português).
Após a morte do marido, Elisa Ferreira Sertã continuou os negócios e foi uma das fundadoras da Caixa Rural, o primeiro banco de Nova Friburgo (quando faleceu, o seu nome ficou imortalizado numa das ruas da cidade). A família Sertã era já uma das mais ilustres desta zona do estado do Rio de Janeiro.
Os filhos não ficaram atrás dos progenitores. Mário Sertã tornou-se médico e inaugurou a primeira Casa de Saúde particular de Nova Friburgo, ao passo que Raul Sertã ficou conhecido pelas suas actividades no ramo das frutas – conta-se que Getúlio Vargas (presidente do Brasil durante 18 anos) era um dos maiores apreciadores da fruta produzida por Raul Sertã nas suas enormes quintas.
Mas Raul Sertã não se ficou por aqui: doou um enorme casarão para recolher as órfãs de Nova Friburgo, cedeu o terreno para o Nova Friburgo Futebol Clube construir o seu actual estádio (que tem o seu nome) e doou também o terreno para a edificação da Santa Casa da Misericórdia local (mais tarde transformada em hospital e cujo nome homenageia o seu benemérito).


Fontes: O Cotidiano de Nova Friburgo no final do Século XIX - Práticas e Representação Social (Janaína Botelho); HistórideFriburgo.blogspot.com; jornal A Voz da Serra; Wikipédia;